Vamos deixar uma coisa bem clara antes da crítica: Aqui quem fala é um nolanzete de primeiro escalão. Do time dos que adorou Interestelar (e a primeira vez que eu fui no cinema assistir a película protagonizada por Matthew McConaughey, foi a melhor experiência que já tive no cinema. Sabe aquele negócio do Chris e do Greg quando vão assistir a Rocky 2 no cinema, ou algum filme assim, e querem ir de novo e de novo e de novo? Essa sensação que se perdeu nos anos 90 e morreu de vez mais recentemente? Então, com Interestelar eu devo ter alcançado algo próximo a essa sensação).
E pensem comigo: Me digam um diretor que se tivesse Inception em sua filmografia, não estaria em seu top 3? Coppola? Scorsese? Kubrick? Fazer essa busca nos mostra o nível de cineasta que é Cristopher Nolan, não é?
Dito isso, é claro que eu aceito muito bem os filmes dele e tendo a relevar pequenos erros, mas também vou com uma expectativa absurda assistir cada nova obra que o diretor faz. E com Dunkirk não foi diferente. Quando, sem esperar, fui assistir Rogue One no cinema e passou o trailer do filme enquanto eu ainda me ajeitava na cadeira, eu fiquei assim:
Que coisa linda, que clima, que imersão! Depois de sair daquela sessão, eu fiquei sonhando com o dia de estreia dessa maravilha. Bom, passado esses longos meses e eis que chegou a tão aguardada hora… E depois dessa pequena história, vamos aos finalmentes:
Logo de cara, Dunkirk te emerge no aqui e no agora. Em menos de um minuto você se vê na costa da França, desesperado para sair o mais rápido possível dali e conseguir voltar para a Inglaterra. É um acerto gigantesco do roteiro de Nolan, te inserir em uma ou duas cenas ao ambiente e sem muita explicação . Nada de mostrar a falta de esperança em solo francês, ou a saudade de casa, o autor entende o quanto as pessoas estão calejadas de narrativas sobre a Segunda Guerra e já parte dessa premissa.
Outro ponto muito diferente dos seus outros trabalho é que Nolan finalmente percebeu que, a maior parte do público não consegue se envolver com seus personagens, e assumiu isso de forma primorosa. As três frentes do filme (água, terra e ar) tem protagonistas que não buscam o tempo todo ter carisma com o expectador. Nolan está preocupado em mostrar uma história importante pra ele e proporcionar uma nova sensação para quem vai no cinema, uma essência que está se perdendo cada dia mais com a polarização do cinema em blockbusters e filmes de baixíssimo orçamento.
Porém, se nos personagens principais ele vai muito bem, alguns dos coadjuvantes deixam a desejar. São 7 personagens coadjuvantes com importância extrema no filme, e nos 106 minutos da trama, eles não são muito bem desenvolvidos. Fica a sensação de que faltaram uns 40 ou 50 minutos a mais, pra poder desenvolver a história deles de forma mais consistente.
Certamente, esse filme é o primeiro do ano que a gente olha com aquela indagação de ‘vai pro Oscar em quais categorias?’. Pois, em cada parte do quebra-cabeça que é fazer uma obra, Dunkirk tenta dar um passo além. Uma direção ousada, um roteiro diferente, uma fotografia perfeita, trilha sonora arriscada… enfim, não tem uma coisa que passa desapercebido por um refinado cuidado artístico. As tomadas aéreas que mostravam a imensidão do mar, as cenas nos navios que mostravam o perigo da guerra, e as cenas em terra que mostram a agonia de milhares de soldados, é tudo muito grandioso e planejado, nada parece fora do lugar.
Por fim, Dunkirk se mostra um filme totalmente inovador, ao mesmo tempo que resgata sensações antigas de filmes grandiosos antes dos blockbusters. Pra quem está mais acostumado com as obras com uma pegada mais pop do diretor, e para o famigerado ‘público médio’ o filme pode ser, em certa medida, decepcionante. Mas é inegável que compartilhar dessa experiência no cinema, e na melhor sala possível, é uma experiência excelente, e se diferencia muito do que é assistir um filme em casa. É realmente um evento! Parafraseando um dos grandes filmes do diretor, Batman, O Cavaleiro das Trevas: Dunkirk pode ser o filme que o público não quer, mas é o filme que o público precisa. Pois ao mesmo tempo, como dito anteriormente, resgata sensações de clássicos grandiosos e consegue mostrar um horizonte para uma Hollywood tão desgastada.
Na minha opinião de nolanzete, não é o melhor filme do diretor, mas mantém a sua carreira num nível absurdo.
Nota 9,0 de 10.
https://www.youtube.com/watch?v=b7v_6hIa5Ok