Por: Franz Lima
Viver é um ato simples que requer apenas foco em sua própria vida, tolerância (pois todos têm diferenças entre si) e respeito pelo próximo. Com estas três atitudes, certamente o mundo será muito melhor. A intolerância não pode ter espaço.
Entretanto, a realidade tem se mostrado infinitamente diferente. As vidas alheias provocam repugnância, ainda que nada tenhamos a ver com elas; simples gestos são vistos como ofensas e tratados como tal. A felicidade dos outros é interpretada como uma agressão e, por isso, retaliada. Mas, observem, não estou falando da Idade Média ou de países onde o Estado Islâmico dita as regras. Essa é a realidade do Brasil, um país miscigenado, banhado por culturas de incontáveis países, construído com o suor e sangue de escravos, embasado no trabalho das regiões mais pobres (a mão-de-obra ainda é proveniente, em sua maioria, do Norte e Nordeste) e, mesmo com tudo isso, detentor de um racismo e uma intolerância velados, disfarçados por estatísticas e notícias não divulgadas.
A inconstância de tais pensamentos pode resultar em qualquer coisa. Diante de pessoas que acreditam deter a “verdade” e querem impô-la aos outros, estamos frente a frente com o caos. A situação ganha a imprevisibilidade das ondas do mar, cuja direção pode mudar em milésimos de segundo. E tudo pode piorar, pois as ondas tomam, gradativamente, a mesma direção. As ondas da intolerância ganham força e velocidade para se tornar um maremoto, um tsunami.
Pode parecer exagero da minha parte, mas é preciso ressaltar que somos criados dentro de uma sociedade com raízes excludentes. Os estereótipos acionam preconceitos adormecidos em nossa alma. Basta que você reflita sobre suas reações e medos diante de um negro encapuzado (afinal, ele não tem como mudar a cor de sua pele e não tem culpa de usar o capuz de seu casaco por causa do frio). Cansei de perceber reações de desprezo e raiva quando nordestinos pronunciam frases com seu característico sotaque. Por que ser diferente incomoda tanto?
Os muitos “marginais” lutam incessantemente para obter uma ínfima parcela daquilo que os ricos detêm, mas são pouquíssimos os que obtêm sucesso. A parcela que fica confinada em uma realidade brutal, pobre e desprovida de esperança merece uma chance de melhora. Contudo, essa chance não deve vir de programas sociais de cunho populista, outra fonte de insatisfação das demais classes que, infelizmente, creem que o dinheiro público está mal empregado. Na verdade, um real investimento em educação – principalmente a fundamental – e um esforço dos governos para ampliar ações sociais realmente pertinentes seriam um ponto inicial interessante.
Creio que um dia chegaremos ao ponto onde ser pobre não será um indicativo de vergonha, mas uma condição que, com o apoio do governo, esforço do próprio cidadão e investimentos socioeducativos reais poderá ser superada. Além disso, se a tolerância é tão pregada em mídias e redes sociais, o que impede de transpô-la para a realidade? Será difícil aceitar as diferenças? Será difícil compreendê-las e lutar para minimizá-las? As respostas ficarão sob nosso jugo, pois somos a base para uma sociedade mais igualitária, justa e tolerante.
Caso você seja um dos que discordarão deste texto, pense em uma situação hipotética: você se negaria a receber o sangue de alguém que poderia salvar sua vida, apenas por causa de sua cor, credo, raça ou religião? Eu, honestamente, duvido…