Crítica: Venom – Tempo de Carnificina

Em 2018, o filme Venom, que dava asas solo ao anti-herói personagem dos quadrinhos, surpreendeu o mundo ao ser um sucesso estrondoso de bilheteria. Ficava difícil acreditar que um filme tão exagerado, nonsense, violento e com um vilão, literalmente, meia boca possa ter feito tanto barulho nos cofres da Sony. E o mais incrível, o filme era bem ruim mesmo, mas tinha um que de sinceridade: conseguia colocar nas telas todo aquele estilo das HQs dos anos 1990, repleto de violência, arsenal bélico, destruição e personagens mais sombrios. Venom é cria dessa era, e por mais bizarro que seja, o filme passa essa era exatamente para as telonas, talvez um dos segredos que transformaram o filme de 2018 em um grande sucesso. Lógico que como vimos nos pós créditos, teríamos uma continuação, e como o sucesso ajudou, em 2021, estreia nessa semana o novo filme da franquia: Venom – Tempo de Carnificina (Venom – Let There Be Carnage, 2021), dirigido dessa vez por Andy Serkis.

Tempos depois dos acontecimentos do primeiro filme, Eddie Brock e Venom tem bastante dificuldades para manter seu relacionamento. Mas como todo casal, acabam entre brigas e beijos, tentando se entender. Eddie acaba voltando à ativa como o importante repórter investigativo que é e graças a uma sensacional entrevista com o serial killer Cletus Kassady, acaba voltando a ser um sucesso. Só que em um dos tais encontros com Cletus, um acidente acontece e um simbionte acaba tomando o corpo do psicopata, de nome Carnificina e com um hospedeiro psicopata, juntos saem em busca de destruição e poder além de ir atrás da amada Shriek. Para deter essa terrível carnificina, com perdão do trocadilho, Brock e Venom precisam se acertar de vez na tumultuada relação e são os únicos que podem acabar com esse caos.

Abdy Serkis, um dos maiores atores de CGI do cinema recente, nos presenteia com essa continuação de Venom. O cara que emprestou o corpo para o Gollum do Senhor dos Anéis e para o gigante gorila King Kong, tem a missão de seguir a franquia adiante, além de fazer a voz do Carnificina. Mas obviamente não foge do que foi o primeiro filme. Um festival nonsense, de extrema violência (não explícita), humor negro e simplificando: não fez mais que o mais do mesmo. Se o primeiro filme, tendo um olhar crítico, não funcionou, esse segundo segue a mesma fórmula e não convence. Talvez a insistência em dar aquele humor meio sem graça ao simbionte Venom, exagerando nas piadinhas e no relacionamento quase de casal entre ele e Brock que tomam boa parte do filme (com direito a uma briga domiciliar com quebradeira provocando o ressentido Venom a sair de casa), já tenha perdido a graça. Tom Hardy cada vez mais no piloto automático, parece bem desconfortável tanto no papel do jornalista quanto tendo que carregar o encosto alienígena. Até os violões que tinham tudo para dar certo não vingam. O grande Woody Harrelson, como o doentio psicopata Cletus, que se criou uma expectativa de nos dar um vilão sensacional, às vezes parece que está fazendo uma auto paródia de seu personagem de Assassinos por Natureza, pouco brilho e muito trejeito. Naomie Harris, que faz a amada do vilão, Shriek, também não convence, além de termos pouca explicação do terrível poder que ela tem, que é dar gritos ensurdecedores. Lacunas importantes de um perdido roteiro. Claro que o filme nos apresenta algumas cenas impagáveis como quando Venom vai a uma rave à fantasia e dá um discurso sobre aceitação, levando a galera ao delírio e surpreendendo o povo com a sua incrível caracterização. A fuga de Cletus da prisão também não poupa mortes e destruição, com todas as mortes apenas sugeridas, mas com pouco sangue. Aliás, de carnificina, apesar de certos tons de violência, temos é pouca. O melhor do filme realmente são os incríveis efeitos de CGI e o ato final com o duelo entre Venom/Brock e Carnificina/Cletus. Tendo como cenário a catedral em reforma, os dois simbiontes se engalfinham num duelo frenético, com uma fotografia sombria, em meio à chuva e ao fogo. Talvez a parte que realmente valha o ingresso. Mas nada de novo, meio que repetindo o final do primeiro filme, só mudando o cenário, com dois seres praticamente iguais numa luta mortal. Nota-se no filme que o Venom está cada vez mais, digamos, bonzinho e humano, controlando seus impulsos mortais e violentos, indo mais para um lado de herói que vilão, talvez assumindo de vez essa condição.

Venom – Tempo de Carnificina é um filme que praticamente não destoa do primeiro, conta uma história linear, um prólogo confuso, com muitas piadinhas, violência no ritmo certo, roteiro raso e muita CGI de primeira. Se o filme é fraco, sim ele é, mas tem todos os ingredientes que podem fazê-lo ser o sucesso que foi o primeiro, é apenas diversão, entretenimento e exploração de personagens secundários para aumentar ainda mais o leque de produções de super-heróis que são as galinhas de ovos de ouro do cinema dos nossos dias. E enfim, mesmo faltando muita coisa e aborrecendo em certos momentos, é uma correta adaptação da era pouco amigável repleta de anti-heróis que eram os quadrinhos dos anos 1990. Só que o Venom poderia ser um pouco mais maldoso… enfim quem gosta do riscado, confira e tente se divertir.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sinopse:  Tom Hardy retorna às telonas como o protetor letal Venom, um dos maiores e mais complexos personagens do universo MARVEL. Dirigido por Andy Serkis, com roteiro de Kelly Marcel e história escrita por Tom Hardy e Marcel, o filme também traz no elenco Michelle Williams, Naomie Harris e Woody Harrelson no papel do vilão Cletus Kasady / Carnificina.

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