Crítica: Uncharted – Fora do Mapa

Sempre quando o cinema arrisca uma adaptação para as telonas de alguém super-herói ou jogo de vídeo game, os fãs ardorosos torcem o nariz e esperam pela bomba que está pra chegar. Com o tempo, o padrão Marvel (com algumas exceções) acertou na mão com o seu universo de heróis e a DC, aos poucos está aprendendo, para tranquilidade dos fãs. O mesmo não se pode falar dos games, em que dificilmente um filme consegue agradar aos fãs mais xiitas. Então, sempre que surge uma adaptação, a expectativa para o pior vira a regra. Mal o ano começou e estreia nas telonas mais uma delas, dessa vez a do jogo de aventuras Uncharted, contando com a produção da nova divisão da Sony para supervisionar essas adaptações, a Playstation Productions, falo de Uncharted – Fora do Mapa (Uncharted, 2022), com a direção de Ruben Fleischer.

O filme conta como Nathan Drake, um barman esperto e pequeno golpista, conheceu o caçador de recompensas Victor Sullivan. Juntos precisam descobrir as pistas que podem levar a descoberta de um tesouro do século XV, que a princípio está escondido na Espanha. Mas antes, os dois precisam enfrentar Santiago Moncada, milionário e descendente dos descobridores de tesouro do passado, Jo Braddock, uma mercenária contratada por Moncada, que tem o intuito de eliminar a dupla e também Chloe Frazer, contato inconfiável dos aventureiros em Barcelona. A busca pelo tesouro faz Drake e Sully passarem por desafios por Nova York, Barcelona e Filipinas em busca da fortuna perdida.

Uncharted de cara já tem um mérito: o espectador não precisa saber absolutamente nada sobre a série de games que o inspirou para entender e se divertir com o filme. E diversão é a palavra-chave da obra. Contando com uma trama que mistura ingredientes de filmes como Indiana Jones, Tomb Raider, Os Goonies, James Bond, Código da Vinci e até o clássico O Falcão Maltês, aliado a um bom elenco, humor, belas paisagens, um roteiro interessante e efeitos alucinantes, Uncharted cumpre ao que veio, uma divertida e despretensiosa adaptação bem-sucedida do game. O roteiro de seis mãos é bem amarrado e conta como a dupla se conheceu antes da série dos jogos e usa uma história não utilizada neles. Conta com aqueles clichês básicos de filmes de ação, numa sensação de déjà vu constante, sabendo dosar bem as cenas de ação com diálogos, deixando o frenetismo de efeitos mais para o final. Rubem Fleischer, que já tem muita experiência nessa união de ação com levadas de humor, tem uma direção consistente e consegue com cenas de bem dirigidas mostrar seu talento. Destaque para a grande cena de perseguição nas ruas de Barcelona onde Drake persegue Chloe em um show de parkour e a cena do avião que tem efeitos impressionantes de tirar o fôlego. Destaque também para as grandes reviravoltas dos personagens, em um ambiente de traições, onde ninguém pode confiar em ninguém.

O time de atores também funciona muito bem, Tom Holland, o queridinho Homem Aranha, tenta se desvencilhar bastante de seu personagem aracnídeo, e com seu carisma e humor (um pouco forçado por vezes), dá uma atuação digna ao personagem Drake, Mark Walhberg, também atua bem como Sully, o eterno companheiro do herói, mostrando maturidade e o charme de sempre. Antonio Bandeiras é meio caricato, fazendo um típico maldoso espanhol vilão, mas só sua presença já abrilhanta o filme, Tati Gabrielle como a mercenária Braddock, dá um show nas cenas de ação, mas seu personagem parece mal explorado na trama. Completando o time principal, temos Sophia Ali como Chloe Frazer, a golpista que proporciona mil reviravoltas com a dupla de aventureiros, tendo uma boa atuação.

Com tantos péssimos filmes oriundos de jogos de games, é difícil não cravar que Uncharted é umas das melhores adaptações do gênero. O filme tem a essência do jogo, explora bem os personagens, tem os exageros e imagens dignas da série de vídeo game e tem aquele potencial básico para algumas continuações, além de ter criado uma história para série e ter a virtude de ser um filme em que qualquer leigo pode sentar-se numa poltrona de cinema e se divertir com a dupla de aventureiros. Enfim, o filme, com essa miscelânea de referências do melhor que a aventura já produziu, roteiro com muitas reviravoltas, show de efeitos e atuações seguras é uma bela pedida e um agradável passatempo para assistir descompromissado, com aquele clima que acaba lembrando as saudosas matinês, onde heróis faziam e aconteciam nas telas do cinema, para delírio dos espectadores.

Confira uma Gameplay do jogo: