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FILMES CRÍTICAS

Crítica: O Homem Nas Trevas (2016)

Crítica: O Homem Nas Trevas (2016)
  • Publishedoutubro 24, 2016

Alex (Minnette), Money (Zovatto) e Rocky (Levy) são três ladrões adolescentes, aparentemente com bastante tempo de prática, que atuam juntos para roubar objetos de casas da alta classe societária com ajuda de técnicas de desativação de alarmes de segurança de Alex, cujo conhecimento vem da profissão de seu pai. Rocky, precisando de dinheiro para fugir com sua irmã caçula de uma mãe abusiva, decide realizar uma ultima invasão com seus companheiros à casa de um homem cego que esconde uma grande quantia supostamente no porão.

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A direção de arte fez um trabalho excelente na composição dos cenários. Esta casa, do lado de fora, se encontra em um lugar completamente decadente e mal cuidado, com uma vasta grama, reforçando a ideia de um bairro abandonado. Escutamos até corvos. Ao adentrar este lugar, o diretor faz questão, em um plano-sequencia, mapear os cômodos da casa, assim como focar nos objetos essenciais – em plano detalhe – para que a narrativa fique clara para o espectador.

No início do filme, temos um pré-conceito acerca do homem cego. Stephen Lang faz uma interpretação fantástica: ele é um veterano de guerra solitário, que perdeu sua filha e atualmente seu único companheiro é um cachorro – o qual é a perfeita reencarnação do famoso Cujo de Stephen King. Neste ponto, a moralidade dos adolescentes é até questionada. Quem consegue se aproveitar de uma deficiência física para roubar dinheiro de um herói de guerra? Nas palavras de Money: “Não é porque ele é cego significa que ele é um santo”.

Assim, o que parecia até então ser um homem indefeso, se torna em um monstro que resolve tomar aquele ato criminoso para uma justiça com as próprias mãos. Aí, é muito interessante como aquele homem cego consegue entender tudo o que acontece ao seu redor apenas com a exploração dos quatros sentidos, totalmente aguçados.

Temendo pelas suas vidas, os ladrões têm que a todo custo sair daquela casa muito bem trancada e selada. As portas de saída, em um efeito maravilhoso, se distanciam cada vez mais de nós, dando a impressão de algo inalcançável.

A partir daí, entramos em um jogo de perseguição que nos lembra muito a brincadeira de “cabra cega” de nossa infância; em um local que se transforma praticamente em um labirinto. Qualquer movimento, qualquer respiro, qualquer ranger do chão é um motivo de tensão e o completo silêncio da trilha vira um tormento. Os ângulos inclinados acentuam a frustração e a confusão dos personagens e os primeiríssimos planos nos fazem sentir claustrofóbicos. Junto com uma maravilhosa direção de fotografia de Luque, o diretor uruguaio consegue provocar surpresas e sustos bastante eficazes, a partir da criação de momentos e reviravoltas imprevisíveis.

Consequentemente, temos essa inversão de papéis entre o “vilão” e o “herói”. Neste quesito, contudo, os ladrões são humanizados, cada um possuindo arco interno dramático, uma história que até os transforma em vítimas. E eles podem até ser, mas o que talvez fosse mais interessante era se essa troca fosse mais intensificada, para criar um impacto maior e evidenciar o objetivo do filme. Além disso, as cenas, nas quais mostram os rituais de assalto e, portanto, a forma como os três personagens atuam em conjunto para praticar esses crimes, é filmada em um ritmo mais acelerado, e pouco explorado. Como cada um, individualmente, é tão diferente que não conseguimos identificar exatamente qual é a ligação entre eles, ou o que os mantém unidos, salvo o triângulo amoroso que motiva os resgates.

Apesar disso, o roteiro é bastante coerente e crível. Trata-se de uma crítica muito profunda acerca de nossos pré julgamentos (que viram preconceitos) em relação às pessoas. Até porque, em tese, teria justificativa para alguém roubar o patrimônio de outrem? E o que seria tão perturbador em um idoso cego?

Esta obra coloca uma discussão muito séria também sobre o fato de que a sociedade isenta muito facilmente as pessoas que fazem “justiça” com as próprias mãos. O que seria mesmo “justiça”? Durante a trama, vemos um homem ser autor de atos tão grosseiros, nojentos e desumanos que até esquecemos que os três personagens estavam errados em primeiro lugar. Isto, por óbvio, é executado propositalmente para, não somente definir o papel de Lang como o vilão da trama, mas também para que nós reflitamos sobre algumas atitudes que consideramos como aceitáveis.

Afinal, será que podemos realmente permitir que alguém a manter um cativeiro, praticar torturas ou matar outras pessoas, meramente por uma vingança passional?

Direção: Fede Alvarez

Roteiro: Fede Alvarez e Rodo Sayagues.

Elenco: Jane Levy, Dylan Minnette, Daniel Zovatto, Stephen Lang.

Avaliação: 4,5/50

Texto orginalmente publicado em 09 de setembro de 2016, por Gabriella Tomasi, autora do blog Ícone do Cinema  

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