Crítica | Não! Não Olhe!

Estreia nesta quinta-feira,25 de agosto, Não! Não Olhe! (Nope) terceiro filme de terror dirigido por Jordan Peele.

O diretor que era conhecido na comédia e um dia resolveu se aventurar em um gênero que ninguém acreditava que ele poderia se encaixar, mas o que muitos não sabiam é que ele era estudante de clássicos de terror e sua bagagem para o gênero seria justamente sua vivência pessoal.

Muitos podem achar chato, mas para mim, o que sempre me atraiu no terror é justamente a crítica escondida por traz da história. E isso, Jordan Peele tem carregado muito bem em seus longas.

ATENÇÃO: PODE TER SPOILERS

Nope inicia com uma cena inspirada em uma história real: Travis, um chimpanzé, que era uma celebridade nos EUA, atacou e desfigurou a amiga da sua dona. Agora o que esse fato pode trazer de interessante e relevante para um filme de alieníginas?

Vivemos em uma era de views, likes e virais. A exploração de situações, pessoas e animais não é de hoje, porém é um assunto presente e que afeta a vida de muita gente. Enquanto a sociedade toma isso como meta de sucesso, muitos tem sua dor sendo usada de esmola para curiosos e sádicos. “A história se lembra do cavalo, mas esquece do jóquei” ou algo parecido que diz Emerald Haywood (Keke Palmer) ao apresentar o rancho para uma equipe de filmagens e são pequenas frases e detalhes que dizem muito sobre as entrelinhas.

O fim da cena inicial termina com um sapato parado perfeitamente em pé de uma maneira que seria impossível diante a situação. A cena serve de apoio para expressão dita por OJ Haywood (Daniel Kaluuya) mais adiante do filme e para relacionar com outro desfecho: “mau milagre”.

A ameaça vinda do espaço tem sua trajetória iniciada talvez em “Guerra dos Mundos”, onde a Terra era invadida por marcianos, sendo uma representação de ameaças de acordo com o seu contexto. Um tema longo em cima do que se quer dizer e criticar. Invasão extraterrestre tem muito em sua base de dizer sem poder dizer.

E em Nope temos a ameaça da alienação e da subordinação.

A forma como OJ baixa a cabeça para o animal alienígena diz muito sobre como pretos são tratados por policiais. Não olhe para não provocar, não olhe para não parecer estar acima do dominante, não olhe, pois assim você poderá dominar a sua vida.

Emerald dominando Jean Jacket é a representação da mulher finalmente conseguindo fazer o que queria, pois tinha sido desacreditada e impedida em um outro momento de sua vida.

Jupe (Steven Yeun) acredita que por ter sobrevivido a uma tragédia uma vez, tem poder de controlar e se aproveitar das situações que surgiram em sua vida e estará imune mais uma vez, porém por traz de todo um casco, existe uma pessoa destruída por um trauma e se vê obrigada a continuar como se tudo estivesse bem.

Holst (Michael Wincott) pode ser a representação do ego, que usa como desculpa a arte do impossível para chegar ao seu ápice mesmo que isso signifique a sua própria destruição.

Em diversos momentos, a criatura alienígena age como uma câmera, como a mídia que muitas vezes engole, destrói tudo por onde passa e depois joga tudo fora de novo como se fosse nada.

Nope para mim é um filme genial, cheio de camadas e são essas camadas que tornam interessante um enredo, que amarra pontas. Um terror não precisa necessariamente assustar e nem sempre precisa ser “burro”. Terror inteligente marca também e traz diversas discussões em torno de uma sociedade.

Jordan Peele não quer o título de melhor diretor do gênero dentro do século e concordo que esse título não é justo, pois não dá para entregar um título desse apenas a uma pessoa, mas ele com certeza já possui seu lugar junto dos melhores.

Mais do NoSet