Crítica: Imaginário – O Brinquedo Diabólico

Não é de hoje que o cinema de terror gosta de, através de lúdicos e inocentes brinquedos, provocar medo no espectador. Brinquedos assassinos, bonecas como Annabelle e a mais recente M3gan, mexem com o nosso imaginário do pesadelo de que o perigo pode estar em casa. E a Blumhouse, produtora especializada no gênero, ultimamente anda perdendo a mão nas suas produções, mas joga suas novas cartas em mais um filme dessa temática. Com a direção de Jeff Wadlow, estreia nessa semana Imaginário – Brinquedo Diabólico (Imaginary, 2024), nova tentativa da produtora de emplacar sustos com o cotidiano doméstico.

Jessica é uma cartunista, responsável por fazer histórias infantis envolvendo aranhas. Ela é casada com o músico Max, que tem duas filhas que moram com ele, a pequena Alice e a adolescente Taylor. A família resolve morar na antiga casa de Jessica, onde ela passou a infância. Alice encontra um pequeno ursinho de pelúcia que era de Jessica quando criança. O brinquedo se torna um amigo imaginário da menina, mas que acaba provocando sinistros acontecimentos, que vão além da imaginação e dimensão que temos conhecimento.

Mais uma vez a Blumhouse está de parabéns. Com modo irônico, é claro. Imaginário é mais um grande abacaxi, confuso, com clichês usados em profusão, uma casa que era pra ser sinistra mas não dá medo e criaturas que lembram aqueles filmes trash dos anos 1980. Aliás, o filme lembra muito as produções toscas daquela deliciosa década, mas com a diferença que Imaginário tenta se levar a sério. Até o ursinho, que poderia ter um papel sinistro de verdade, provoca mais apreço que pavor. A questão da possessão de objetos que tinham tudo para ser fofos e inofensivos poderia ser uma solução prática pra uma história mais direta. Chauncy, o amigo imaginário, é apenas um vetor para abrir de outras dimensões terríveis criaturas, essas de uma tosquice constrangedora. Toda a explicação de portais dimensionais é de uma confusão (com a tentativa de ser explicada pela ex-babá de Jessica, Glória). Em um  momento parece que estamos vendo o programa Porta dos Desesperados do Serginho Mallandro, na quase cômica cena das portas das dimensões, que ao abrir a cada uma, podemos ou ter a saída ou dar de cara com um monstro bizarro.

Outro problema dessas produções modernas é sempre utilizar o terror com as velhas fórmulas, casas assombradas, sótãos, porões, escadarias e a fotografia escura dá mais sono que medo. Por que o terror não pode ser em locais iluminados? Onde estão os filmes de terror em  apartamentos minimalistas e claros? Conforme a projeção da sala de cinema, as imagens quase são imperceptíveis. Pra não dizer que nada funciona, a primeira parte do filme funciona bem, com a apresentação dos personagens, mas como a maioria dos filmes de terror, o desfecho está cada vez mais difícil de engolir, nunca fugindo do lugar e os absurdos que não provocam medo e sim constantes bocejos.

Do elenco, DeWanda Wise segura bem a bronca como Jessica, Betty Buckley, como a chata ex-babá também tem seus bons momentos e as meninas Taegen Burns e Pyper Braun, como as filhas de Max (Tom Payne, que simplesmente some do filme) não comprometem. Como falo, o problema do filme é o confuso roteiro e a terceira parte, no mundo da imaginação, que o filme despenca de vez. Talvez a única cena realmente boa do filme é quando Chancey obriga a menina a ter um autoflagelo, se pregando, onde a tensão e a criação da atmosfera dão um frio na barriga. Mas fora isso o filme nada acrescenta para o fã do gênero.

Imaginário – O Brinquedo Diabólico é mais uma grande decepção da Blumhouse, mais um filme terrível do diretor Jeff Wadlow, que pelo visto não nasceu para coisa, mas há de se admirar sua insistência em tentar e jamais acertar. Um filme que vai provocar mais sono que pavor, mas que pode divertir e ser um passatempo leve para os fanáticos do gênero. Meu conselho: fujam do filme e aproveitem tantos filmes bons ainda da ressaca do Oscar nas telonas, aí sim, um investimento de tirar proveito.

 

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