Crítica: As Panteras (2019)

 

No ano de 1976 os produtores Aaron Spelling e Leonard Goldberg criaram uma série para a televisão ABC, chamada Charlie’s Angels (As Panteras, no Brasil). A série contava a história de três mulheres detetives que trabalhavam para a agência de investigação Charlie Towsand Detective Agency. As três se comunicavam o tal Charlie (dono da agência) por um aparelho de viva voz e eram chefiadas pessoalmente por John Bosley (braço direito do chefe Charlie) que passava as missões para as três mulheres, tudo isso como cenário a ensolarada Los Angeles. O trio inicial da série eram as atrizes Jaclyn Smith (Kelly Garret), Farrah Fawcett (Jill Munroe) e Kate Jackson (Sabrina Duncan). A série fez sucesso mundial e mesmo com a saída da Farrah Fawcett (que foi catapultada para o estrelato devido à série), na segunda temporada, As Panteras seguiram até 1981. Cinco anos que fizeram a série virar um patrimônio da cultura pop e por ser umas das primeiras a dar poder a personagens femininas (mesmo que com críticas ao excesso de exploração ao corpo da mulher) abusando de cenas inteligentes de investigação e muita ação, coisa rara de ser estrelado por mulheres na Tv daqueles tempos. Custo a entender por que apenas no ano 2000 uma história tão pop e marcante foi para as telas grandes com os ótimos e de muito sucesso filmes As Panteras (2000) e As Panteras Detonando (2003) com Cameron Diaz, Lucy Liu e Drew Barrymore no papel das Angels. Agora passados 16 anos da última aparição das agentes de Charlie no cinema, Elisabeth Banks em quadrupla função (produtora, roteirista, diretora e atriz) retoma a ideia com As Panteras (Charlie’ s Angels, 2019).

As Panteras

O filme começa já mostrando as agentes Sabina (Kirsten Stewart) e Jane Kano (Ella Balinska) em movimentada ação pelo Rio de Janeiro. E logo reconhecemos que a Townsed Agency hoje é de dimensão global, tendo agentes por todos os cantos do planeta tendo em cada área um chefe, ou seja, um Bosley. Enquanto isso uma brilhante engenheira de sistemas, Elena Houghlin (Naomi Scott), descobre um artefato tecnológico que pode revolucionar a maneira de consumirmos energia, mas que devido a uma falha interna pode se transformar em uma arma letal se for mal-usada. Isso faz com que ela seja protegida por Sabine e Jane agora comandadas por outro Bosley (Elisabeth Banks), pois Elena passa a ser perseguida por um grupo que sabe que só ela pode fazer funcionar o artefato.

Enfim estreou a tão esperada adaptação da série clássica dos 70 por Elisabeth Banks. Jogando em praticamente todas as posições dá para se dizer que Banks acertou bem em duas. Uma bela produção não poupando esforços para mostrar um belo filme com bom elenco e sua atuação, eficaz como sempre. Mas o mesmo não posso dizer da direção e roteiro. As Panteras não é um filme ruim, longe disso, apenas não empolga e deixa a desejar na história. Mas o que os filmes anteriores tinham: pitadas de humor e non sense, esse não consegue repetir o tom. Poucos momentos realmente engraçados, por mais que às vezes o humor seja a tônica do filme, funcionam e passam muitas vezes batidos. Os momentos de ação são razoavelmente dirigidos, mas as lutas são frenéticas demais, com grandes cortes atrapalhando algumas vezes a dinâmica das cenas. O filme pode ser interpretado como uma sequência dos filmes de 2000 e 2003, e inova dando um ar globalizado às agentes em um mundo repleto de Charlie’s Angels e Bosley numa rede interligada. A escolha das três atrizes é correta, Kirstin Stewart consegue tirar um pouco aquele seu ar blasé e fazer uma bela interpretação da espirituosa Sabine, talvez o que tem de melhor no filme. Balinska também dá conta do recado e Naomi Scott atua bem na metamorfose da assustada e sonsa cientista Elena na novata e corajosa Pantera. É claro que não faltam belas locações, glamour, figurinos exuberantes, luxo e carros velozes – o que muitas vezes acaba remetendo a filmes da franquia de James Bond, mas ao invés do cínico, cafajeste e conquistador agente britânico, sim três mulheres empoderadas lutando de igual para igual com seus inimigos. Aliás, a expressão girl power resume bem o clima do filme, de maneira natural as mulheres dominam a tela e os homens são quase e merecidamente coadjuvantes da história.

As Panteras cumpre o que podemos esperar. É um filme moderno, pop, enquadrado aos tempos atuais e com uma trilha sonora com estrelas da música atual como Ariana Grande (produtora da trilha), Miley Cirus, Lana del Rey e a nossa Anitta.

Pode-se dizer que o filme literalmente cumpriu tabela, não inovou, tem dificuldade de cativar. Serve apenas como uma simpática diversão, dirigida razoavelmente, com um roteiro que peca pelo quase vazio nas cenas de não ação, mas apesar de tudo cumpre com apenas segurança, a tarefa de mais uma vez apresentar para as novas gerações o legado que aquela inovadora série dos quase pré-históricos anos 70 deixou. E se virar franquia, enfim, depende de o público aprovar a ideia mais uma vez e fazer valer a bilheteria.

Direção: Elizabeth Banks

Roteiro: David Auburn, Elizabeth Banks, Jay Basu

Elenco: Naomi Scott, Elizabeth Banks, Luis Gerardo Méndez, Jonathan Tucker, Noah Centineo, Kristen Stewart

Sinopse: Elizabeth Banks dirige a nova geração de Panteras – Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska – a serviço do misterioso Charles Townsend. As Panteras sempre proveram segurança e suas habilidades de investigação para clientes particulares, e agora a agência Townsend tem atuação internacional: as mais espertas, destemidas e altamente treinadas agentes em todo o globo formam múltiplos times de Panteras guiados por múltiplos Bosleys e estão prontas para atuar nos trabalhos mais difíceis ao redor do mundo. Quando um jovem engenheiro de sistemas soa o alarme a respeito de uma perigosa tecnologia; as Panteras são chamadas à ação, e colocam suas vidas em risco para nos proteger a todos.

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