Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey – 125 min): Anastasia Steele é uma estudante de literatura de 21 anos, recatada e virgem. Uma dia ela deve entrevistar para o jornal da faculdade o poderoso magnata Christian Grey. Nasce uma complexa relação entre ambos: com a descoberta amorosa e sexual, Anastasia conhece os prazeres do masoquismo, tornando-se o objeto de submissão do sádico Grey.
Penso que essa não será das críticas mais úteis, visto que (I) eu não li o livro e não quero ler, (II) o livro foi escrito basicamente voltado para o público feminino, que gerou enormes expectativas sobre o filme e saiu frustrada do cinema (o que eu já imaginava, depois falo melhor sobre isso) e (III) fui assistir o filme sem a menor pretensão de gostar, mais motivado pela curiosidade mesmo, depois de todo o hypie criado pela mídia, pelo marketing gerado e pelas reclamações e críticas do público. Mas para não ficar de fora da minha lista de análises, seguem algumas considerações.
Então, abstraindo todos os detalhes já pré-conhecidos, minha opinião é que o filme até que funciona, se você souber encaixá-lo na categoria certa, se lembrar de todos os detalhes impostos e conseguir ignorar ou aceitar alguns fatos. Pra falar a verdade, se você assistir depois ao filme em DVD com a função censura ativada (ou seja, cortando todas as cenas eróticas), vai acabar vendo um romancezinho adolescente bem simples, no estilo Crepúsculo. Imagino como a diretora suou para fazer com que um conto de fadas moderno proveniente de uma literatura de quinta funcionasse na tela sem ficar chato e monótono e sem exagerar nos artifícios sexuais que o livro usa para manter o interesse.
No filme vemos uma moça virgem, descuidada, romântica, estudiosa, que acaba se apaixonando por um príncipe encantado. Um rapaz jovem, bonito, milionário, solteiro, cobiçado, e que incrivelmente também se apaixona por ela. E acaba vivendo em um mundo até então desconhecido e quase impossível de acontecer: carros importados, helicópteros, hotéis de luxo, presentes, vestidos, etc. Mas ao conhecer um pouco melhor seu novo namorado, ela descobre que ele não é uma pessoa “comum”.
Nesse sentido, Jamie Dornan não faz muito mais do que o seu personagem pode lhe oferecer. Dono de uma boa aparência física, faz um sujeito dominador, manipulador, sem muitas emoções. Não explorou (ou o livro não o faz) o lado traumatizado ou sofrido de infância. Li que não foi a primeira opção de ator para o personagem, mas não sei se o roteiro amarrado poderia proporcionar a algum outro ator uma melhor atuação. Já Dakota Johnson consegue se sair relativamente bem nas cenas mais fortes (lembrando da dublê de corpo para suas cenas de costas e da CGI na região íntima) e nas cenas mais românticas. A exceção fica por conta de sua constante mordida nos lábios que, o livro pode tentar sugerir algo mais excitante ou erótico, mas no filme ficou completamente irritante.
Resumindo: excluam o quarto de jogos e as cenas de nudez e o que temos é Ana tentando mostrar a Christian que ele pode ter um relacionamento afetivo normal, diminuir seus traumas e se apaixonar por ela, assim como ela se apaixonou por ele. Uma história bonitinha…
O problema é que o livro e o marketing gerado em torno do livro não venderam o filme assim. Como já existem outras adaptações de Cinderela, a autora resolveu dar um toque mais moderno… E isso inclui o homem rico gostar de ser um dominador sexual, propondo que sua namorada seja uma submissa de seus desejos masoquistas. Então, como o público queria ver outra coisa, não presta muita atenção na história do romance casal porque quer ver as cenas de “jogos”, e acaba se decepcionando com o resultado. Essa decepção, como falei antes, ocorre por alguns motivos:
O terceiro motivo é quase um consenso entre todos os críticos de cinema: americano não sabe fazer filme erótico. Com pouquíssimas exceções. Assista um filme erótico europeu e assista um americano e perceba a diferença. Por mais que estejamos em uma época com menos preconceitos e mais liberdade, a mente do americano ainda é muito conservadora. Coisas que são absolutamente normais para os europeus podem chocar os americanos. (Pelo menos eles são sinceros nisso, não são falsos liberais como o brasileiro, que no carnaval tudo pode, mas depois é indecoroso, vergonhoso ou até crime). No caso de cinquenta tons, definitivamente o cinza não é a cor mais quente…
Um detalhe. Estou falando de filme erótico. Se você acha que filme erótico é a mesma coisa que filme pornô, eu só lamento. Você deixou de assistir Os Sonhadores, Malena, De olhos bem fechados, Instinto selvagem, Beleza Roubada, Pecado original, ou até mesmo o cult 9 1/2 semanas. O problema é quando o erotismo e o relacionamento são usados além do que pede a cena e o contexto, sendo puramente chamariz para mostrar o sexo e a nudez, e não o filme. O famoso limite tênue entre a arte e a vulgaridade, o erótico e o pornô, que ainda vai gerar muita polêmica por muitos e muitos anos.