Celular (Cell, 2016). Review do filme baseado na obra de Stephen King.

O que faria você voltar quilômetros pois é imprescindível para seu dia a dia? A chave de casa, sua identificação civil ou o livro que está lendo? Provavelmente nenhum desses itens seria importante o suficiente para fazê-lo perder tempo ao retornar em sua busca. Mas o que dizer se o item fosse seu celular? Certamente você iria voltar para buscá-lo. 

Os dias atuais são a marca registrada da já famosa Era da Informação. Estar conectado não é um luxo, é uma necessidade. Checar o celular, mandar uma mensagem, acessar o facebook, twittar, enviar fotos pelo instagram, ver vídeos, jogar, saber como será o tempo… são muitas as coisas a se fazer com o celular (sim, pode chamar de smartphone), a ferramenta indispensável para homens, mulheres e crianças nos dias atuais. 

Então imaginem o que ocorreria se houvesse a possibilidade de usar o smartphone para controlar as pessoas. Por mais incrível que isso possa parecer, a premissa do filme Celular, obra baseada em um livro de Stephen King, não é algo inviável. E é com essa bem feita observação do atual comportamento humano que King deu início a uma trama interessante.

A narrativa se concentra em um desenhista (Clay Riddel, interpretado por John Cusack) que está há bastante tempo afastado de sua família. Esse afastamento esconde um problema de relacionamento com a própria mulher, o que também afeta seu filho que não está satisfeito com os contatos unicamente feitos por celular e mensagens.

Clay afirma para o menino que irá fechar um último trabalho antes de voltar para casa, mas a bateria do celular descarrega. Então, a trama propriamente dita do filme inicia. Todos que estão falando ao celular são atingidos por uma interferência que os transforma em algo entre um zumbi e uma pessoa com um ataque de fúria. O que se segue é um óbvio caos, já que boa parte das pessoas no aeroporto onde Clay está usam o celular.

Zumbis?

Esse é um ponto curioso da trama. As pessoas não são os zumbis tradicionais, elas parecem guiadas a eliminar quem não tenha sido atingido pela transmissão que os modificou. 

Não há cenas com pessoas devorando outras, apenas seres humanos voltados a eliminar aqueles que destoem daquilo que eles se tornaram.

As carnificinas são esperadas, porém o que difere esse de outros filmes similares é a forma como a horda “infectada” age. Eles se valem de armas, ferramentas e os já típicos ataques em massa para matar. Não são criaturas desprovidas de um propósito. Há lógica em suas ações, assim como é fato que em uma hipotética situação igual a essa, mesmo diante de tantas desgraças, todos os sobreviventes tentariam acessar o celular para fazer contato com seus entes queridos ou em busca de socorro. Logo, o número de pessoas controladas por essa ‘transmissão’ só tende a aumentar.

Somos controlados?

Pode parecer algo claro, porém muitos não reparam que são monitorados constantemente. Pior do que isso é sermos os fornecedores dos dados que indicam onde estamos, com quem falamos, nossa rotina, gostos pessoais e muito mais. Celular faz uma crítica a essa dependência digital. O fato de quase todos serem instantaneamente dominados pelo sinal é uma clara alusão ao uso quase ininterrupto dos smartphones. Esse é um ponto interessante e inteligente da trama, algo já bem conhecido dos fãs de Stephen King. Afinal, para um homem que conseguiu transformar uma máquina de passar roupas em um monstro assassino, nada é impossível.A crítica comportamental presente é essa: somos controlados por nosso impulso de consumo digital e o anseio de estarmos conectados a todo instante. Nunca houve uma época onde tantas pessoas estiveram, literalmente, conectadas ao mesmo tempo. Logicamente usar essas conexões para controlar seria algo muito inteligente. 

Os fatos previsíveis ou comuns no gênero.

Clay foge e busca amparo em outras pessoas não dominadas. Elas existem, porém seu número é infinitamente menor. Para piorar, em todo lugar há mais gente sob controle. Assim estabelece-se um grupo de sobreviventes que, de forma já vista em outras tramas, tenta se proteger das pessoas enlouquecidas. Como a narrativa tende a estabelecer um núcleo de personagens mais importantes, logo os espectadores se aproximam não só de Clay, mas também de Tom (interpretado por Samuel L. Jackson) um maquinista do metrô, Alice (uma vizinha de Clay, papel de Isabelle Fuhrman), Jordan (Owen Teague), Denise (Erin Elizabeth Burns) e outros integrantes do grupo de sobreviventes.Cada um tem sua motivação para lutar. Clay, entretanto, é o mais obstinado nessa luta para viver, já que ele pretende salvar seu filho.O grupo passa por muitos problemas e o aprendizado sobre essa nova raça dominante é  rápido. 

Pontos interessantes.

As criaturas nas quais as pessoas se tornam são predadores. Elas são guiadas pelo sinal e não há mais nada que os impeça de praticarem atos impensáveis a um ser humano. Todas as barreiras que a moral, o senso comum e as leis impõem são descartadas. O que se vê, resumidamente, é a formação de um gigantesco grupo de matadores. Mas com o decorrer da narrativa a situação não permanece estática, evoluindo para algo ainda pior.

O final do filme surpreende e, para evitar spoilers, digo apenas que vocês verão algo bem próximo daquilo visto no final do longa-metragem O Nevoeiro.

Esperança.

Essa é uma marca da história. Permanecer vivo é a esperança de todos que não foram “contaminados” pelo pulso. Porém é preciso ter consciência de que isso dependerá da morte de incontáveis pessoas afetadas. Matar não é simples, principalmente quando somos apenas seres humanos normais. Claro que em caso de necessidade a alternativa de tirar uma vida é aceitável. O que complica a adoção de atitude como essa é a possibilidade, no caso, de matar alguém que pode ter sua situação como “zumbi” revertida.

A união da esperança com a vontade de salvar vidas humanas é uma fórmula que pode provocar a perda de inocentes, o que provoca um certo desconforto diante da ingrata situação dos sobreviventes.

Nota final.

Não espere por um filme marcante, inesquecível. Celular é uma obra contemporânea, crítica e bem feita, porém não é o melhor trabalho de Stephen King e, consequentemente, a adaptação também não é a melhor do gênero, mas isso não afeta o longa como um bom entretenimento, além de incentivar o espectador a conhecer a obra literária original.

Elenco: 

John Cusack …  Clay Riddell

Samuel L. Jackson  … Tom McCourt

Isabelle Fuhrman …  Alice Maxwell

Clark Sarullo …  Sharon Riddell

Ethan Andrew Casto … Johnny Riddell

Owen Teague … Jordan

Stacy Keach … Charles Ardai

Joshua Mikel … Raggedy

Anthony Reynolds … Ray

Erin Elizabeth Burns … Denise

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