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AUTOMOBILISMO

Cadillac faz história e Dudu Barrichello enlouquece a torcida em Interlagos nas 6 H de São Paulo 2025

Cadillac faz história e Dudu Barrichello enlouquece a torcida em Interlagos nas 6 H de São Paulo 2025
  • Publishedjulho 13, 2025

A atmosfera de Interlagos no domingo, 13 de julho, lembrou os dias mais intensos da antiga Mil Milhas: arquibancadas lotadas, céu paulistano alternando sol forte e nuvens carregadas e um grid de 37 carros prontos para seis horas de pura resistência. Ao todo, 84 741 torcedores atravessaram os portões do autódromo durante o fim de semana – recorde absoluto do FIA WEC no Brasil –, embalados por shows de rock, roda‑gigante e a promessa de que o Campeonato Mundial de Endurance, enfim, entraria para a história nacional com um roteiro quase cinematográfico.

Foto: Matheus Gama

A largada coube a Rubens Barrichello, que balançou a bandeira verde sob aplausos antes de correr para a mureta e acompanhar o Aston Martin Vantage AMR #10 pilotado pelo filho. Eduardo Barrichello, pole da LMGT3 na véspera, iniciava ali uma jornada que atravessaria dramas e euforias. Na primeira volta da prova principal, porém, o foco mudou para a categoria Hypercar: Julien Andlauer mergulhou o Porsche #5 por dentro do Cadillac V‑Series R #12 no “S do Senna” e assumiu a liderança, insuflando expectativa no público que aguardava um confronto duríssimo entre as montadoras favoritas.

Durante a primeira hora parecia que a Porsche tinha tudo sob controle. Andlauer abria três, quatro segundos de vantagem, enquanto os dois Cadillac da Hertz Team JOTA – o já citado #12 de Alex Lynn, Norman Nato e Will Stevens, e o #38 de Earl Bamber, Sébastien Bourdais e Jenson Button – mantinham uma perseguição sem, porém, encostar de fato no rival alemão. A virada começou nos boxes. A equipe chamou Stevens três voltas mais cedo do que esperava a concorrência. O britânico retornou com pneus novos em ritmo alucinante e, quando o Porsche reapareceu na pista após sua parada, já estava atrás. Parecia plano perfeito, mas o #12 foi punido por pressão mínima dos pneus: drive‑through e queda para a quinta posição.

Foto: Matheus Gama

O revés teria derrubado a moral de muita gente; não da JOTA. Norman Nato assumiu o cockpit, adotou a combinação agressiva de pneus médios e começou uma escalada implacável. Passou Loïc Duval no Peugeot #94 ainda antes da metade da corrida, superou Bourdais aproveitando um retardatário na freada do Pinheirinho e, com a pista livre, cravou tempos em 1:23 alto enquanto os ponteiros giravam na casa de 1:24. Restando pouco menos de três horas, o Cadillac já era líder de novo. Lynn recebeu o carro para o stint final e apenas administrou, mesmo com um crescente ataque de Bourdais e, depois, de um inspirado Andlauer que voltou a pressionar nos minutos derradeiros. A bandeirada atestou a primeira vitória de uma equipe norte‑americana na era moderna do WEC e selou a dobradinha da Cadillac em solo brasileiro. “Este é o terceiro ano correndo com este carro e, honestamente, vendo o que ele se tornou nas mãos da JOTA e o que o programa também se tornou, estou extremamente grato por fazer parte disso e honrado por finalmente vencer uma corrida no Campeonato Mundial de Endurance da FIA para a Cadillac”, comemorou Lynn, exausto e orgulhoso.

Se no topo geral reinavam os protótipos americanos, o capítulo brasileiro da classe LMGT3 reservou emoção digna de final olímpica. Depois de assegurar a pole histórica no sábado, o Aston #10 começou a corrida com Anthony McIntosh, o piloto bronze obrigatório, que foi tocado por um Lexus na descida do Lago e rodou, despencando para o sétimo lugar. Coube ao francês Valentin Hasse‑Clot recuperar terreno até reaproximar o carro do pelotão principal. Na frente, entretanto, o Lexus RC F #87 da Akkodis ASP, guiado pelo tricampeão mundial de turismo José María López e pelos parceiros Clemens Schmid e Petru Umbrărescu, ditava um ritmo tão forte que mesmo um drive‑through não lhe custou a liderança.

A corrida assumiu contornos dramáticos na última hora, quando um safety‑car por detritos reagrupou o pelotão e permitiu diferentes leituras estratégicas. A TF Sport optou por abastecer e calçar pneus novos no Corvette #81; a Iron Dames decidiu arriscar, mantendo o Porsche #85 na pista com compostos usados. A Racing Spirit of Léman fez o meio‑termo: chamou Eduardo Barrichello para um rápido splash & go a 12 minutos do fim, entregando‑lhe pneus mais frescos que os da concorrência direta.

Foto: Matheus Gama

Barrichello respondeu com voltas consistentemente meio segundo abaixo das rivais. Passou o segundo Lexus, o #78, na curva do Café e iniciou a caça à dupla feminina Gatting/Frey. Faltavam pouco mais de dois minutos quando o paulista emparelhou por fora na descida do Lago, manteve o pé cravado e completou a ultrapassagem já no Laranjinha, sob uma explosão de gritos nas arquibancadas. Era o primeiro pódio de sua carreira no WEC, conquistado em casa, depois de largar da pole em temporada de estreia. “Foi muito legal. Estou muito agradecido a toda a torcida. Tenho muito orgulho de ser brasileiro, e tenho muita gratidão por todo o suporte que tive aqui. Foi uma loucura: eu tinha de confiar nos engenheiros e eles tinham de confiar em mim. Eu não podia forçar tanto para não desgastar os pneus rapidamente. Pudemos gerenciar tudo e as coisas funcionaram da maneira que planejamos”, celebrou Dudu Barrichello.

Foto: Matheus Gama

O fim de tarde reservou, ainda, a tradicional invasão controlada de pista para a cerimônia do pódio, algo inédito no histórico do Rolex 6 Horas de São Paulo. Torcedores cercaram Dudu, cantaram o seu nome e relembraram tempos em que Interlagos se tornava palco de celebrações épicas. Enquanto isso, as telas gigante exibiam as tabelas do campeonato: a Ferrari #51, apesar de um drive‑through tardio e o primeiro zero de 2025, permaneceu líder geral; na LMGT3, o Porsche #92 da Manthey ainda comanda, mas agora vê a Lexus e o Corvette diminuírem a diferença.

Fora da pista, Interlagos viveu ambiente de festival. Shows de Raimundos, CPM 22 e Capital Inicial dividiram atenção com uma Fan Zone de 45 mil metros quadrados onde o público testou simuladores, viu capacetes históricos, saboreou food trucks variados e girou em uma roda‑gigante com vista privilegiada do miolo do traçado. O Rolex 6 Horas de São Paulo não apenas ratificou o lugar do Brasil no calendário mundial do endurance; mostrou que a combinação entre automobilismo, música e experiência de fã é capaz de bater recordes de público e produzir capítulos que ficarão na memória coletiva. Em 12 de julho de 2026, o WEC retorna a Interlagos – e, se a referência for 2025, as expectativas já se elevam ao limite.

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Matheus Gama