O seu ponto de partida era mais do que promissor: a série A Torre Negra [no original: The Dark Tower] de Stephen King. Oito livros, contos e histórias em quadrinhos, que construíram um universo único onde a fantasia, a ficção científica e o faroeste se misturam. A série começou a ser escrita por um escritor ainda iniciante e acompanhou o amadurecimento de Stephen, que corrigiu e reescreveu parte do primeiro livro no início dos anos 2000. Havia e há, nesse universo, um imenso material a ser trabalhado pelos roteiristas.
O elenco escalado para o tinha Matthew McConaughey e Idris Elba, ambos atores competentes. Uma dupla de antagonistas que deveria gerar a tensão necessária para prender a plateia.
O orçamento do filme era de sessenta milhões de dólares, suficiente. Para comparação, La La Land e A Chegada custaram, respectivamente, trinta e quarenta e sete milhões de dólares.
O diretor dinamarquês Nikolaj Arcel tinha experiência como diretor e roteirista. Fez o bom roteiro adaptado, por exemplo, a partir do livro Os Homens que Não Amavam as Mulheres, de Stieg Larsson, para a filmagem dinamarquesa de 2009.
Com tudo isso, era grande a expectativa dos fãs de Stephen King e, ainda maior, daqueles que seguiram e seguem a série a Torre Negra.
Todos estão fadados à frustração.
A verdade é que o filme utiliza, de forma aleatória, elementos do universo da Torre Negra e os “embute” em um roteiro comum e previsível, que na maior parte do tempo parece destinado a um público que recém ingressou na puberdade.
Os personagens são rasos e unidimensionais. Suas motivações são simples. As cenas de ação? Absolutamente comuns. Você sabe o curso que a história seguirá e, nisso, ela não o decepciona – segue o caminho que você imaginou. Não há surpresa; não há criatividade.
No filme, Jake Chambers (Tom Taylor) é um garoto assaltado por visões de um mundo paralelo, a partir da morte do seu pai. O comportamento de Jake fica mais estranho, até a sua mãe resolver interná-lo em uma clínica. A trama evolui e Jake é transportado para o planeta que frequentava as suas visões. O local onde Roland Deschain, o último pistoleiro, caça Walter O’Dim, o homem de preto (versões do homem de preto são recorrente em obras de King). Walter é uma entidade maligna, que tenta destruir a Torre Negra. Ela é a responsável por manter e escuridão e seus demônios afastados dos mundos que estão sob a sua influência e proteção. Para atacar a Torre, Walter usa o poder psíquico (o “toque”) de jovens como Jake.
Antes do lançamento do filme, Nikolaj Arcel concedeu uma entrevista ao The Hollywood Reporter, no qual dizia estar feliz com a liberdade criativa para realizar algo um “pouco mais complexo, um pouco mais misterioso e, até, um pouco mais estranho” em A Torre Negra. O único mistério que remanesce, ao final do filme, é onde está a complexidade que queria ter criado.
Muito embora meu julgamento crítico possa estar influenciado pela comparação com os dois filmes que assisti antes de A Torre Negra, Dunkirk e Planeta dos Macacos: A Guerra (o primeiro, excelente, o segundo, ótimo), creio que não corro riscos de dizer que a obra de King merecia uma adaptação melhor.
Muito melhor.
https://www.youtube.com/watch?v=LAWqkzySvmc
Data de lançamento: 24 de agosto de 2017 (1h 35min)
Direção: Nikolaj Arcel
Elenco: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor (IV)
Sinopse: Existem outros mundos além deste. A Torre Negra, de Stephen King, uma das obras mais ambiciosas e expansíveis do autor mundialmente celebrado, faz sua estreia nas telas grandes. O último guerreiro, Roland Deschain (Idris Elba), está preso em uma eterna batalha contra Walter O’Dim – também conhecido como O Homem de Preto (Matthew McConaughey) – e determinado a impedir que este último destrua a Torre Negra, que mantém a união dos mundos. Quando o destino dos mundos está em perigo, bem e mal irão colidir numa batalha decisiva; e Roland é o único que pode proteger a Torre do Homem de Preto.