Aqui em Porto Alegre, no final dos anos 1990, costumávamos fazer uma piada sobre o Jota Quest, que de tanto eles fazerem shows por aqui, eles até tinham alugado uma casa na cidade. É fato que o que Jota Quest teve seu boom fora de Minas Gerais, aqui no Rio Grande do Sul, empilhando hits antes mesmo desses chegarem ao centro do país e o carinho do povo daqui ajudaram a alavancar essa carreira que completa 25 anos. E nada mais justo com o povo que acolheu os mineiros lá na origem de tudo, por 1996, que a banda passe sua turnê com três shows (praticamente com ingressos esgotados) pela capital dos gaúchos, no templo sagrado do som da cidade, o Araújo Vianna. Acompanhamos o primeiro show dessa maratona, o de sexta-feira, dia 29 de julho.
Antes do show já se via que a banda não estava pra brincadeira, com uma produção fantástica, câmeras para todos os lados, um palco clean, com um telão enorme atrás e dois nas laterais (o que é incomum no local), a banda queria registrar esses momentos com uma multidão louca para uma noite de diversão. O show também fará parte de um documentário da banda, que logicamente usará algumas imagens recolhidas dessa data.
Com meia hora de atraso, a banda abre o espetáculo com o clássico do Roberto Carlos, Além do Horizonte, com sua versão típica dos mineiros, muita luz, som impecável e efeitos visuais fazem a plateia já se levantar dos assentos logo na primeira música e começar um baile inesquecível recheados de hits, ou como o próprio Flausino frisava, uma celebração à vida depois de tanto tempo de sofrimento com a pandemia. E sucessos simples e diretos, executados com maestria e muita simpatia da banda. Uma química perfeita entre artistas e plateia, sempre lembrados pelos músicos com essa ligação quase espiritual com o povo gaúcho. Em sequência vem um Na Moral, emendando com Encontrar Alguém, esse um dos primeiros sucessos da banda daquele 1997. Rogério Flausino, Marco Túlio, P.J., Paulinho Fonseca e Márcio Buzelin sempre tiveram uma sonoridade excepcional, o Jamiroquai de BH, sempre se destacou pelos grooves precisos e músicas feitas pra dançar e hoje tem um som cada vez mais maduro, usando do melhor que a tecnologia de palco pode oferecer. Imprevisível vem em sequência, e logo depois O Sol, sucesso absoluto, e exemplo de que a banda começou a enveredar em certo ponto da carreira, baladas tipicamente comuns, mas que estão na boca do povo. Segue A Voz do Coração e Já Foi, mas para surpresa da plateia, eles desencavam outro sucesso dos primórdios, a ótima Vou pra Aí, de quando a banda, quase desconhecida, lotava o Bar Opinião aqui em Porto Alegre, tom de nostalgia pura e homenagem a essas duas décadas e meia de carreira da banda.
Rogério Flausino esbanja fôlego, simpatia e coração, animando a galera, fazendo uma dupla perfeita com o guitar hero Marco Túlio, P.J. com certeza é um dos maiores baixistas do Brasil, inclusive tem seu momento solo, e Paulinho Fonseca é um relógio na bateria, tamanha precisão, o mesmo vale para Buzelin, que usa e abusa dos efeitos dos seus teclados e programações. Em certo momento a banda aparece num telão dando depoimentos para os fãs desse longo casamento e trajetória, em uma tocante passagem do show. Pra Quando Você Se Lembrar de Mim, mais uma balada indefectível da banda, que antecede o clássico Fácil, aquela canção que todo mundo adora cantar junto. As Dores do Mundo, com a incrível versão deles pra música do Hyldon, nos transporta novamente pro fim dos 1990, com todo mundo cantando e dançando junto. Segue o momento intimista entre Rogério e Buzelin, numa versão piano e voz da balada O Vento, aquela hora de celulares em punho iluminando o ambiente. Ainda rola Blecaute, Oxigênio, e num momento bonito e marcante do show, Rogério e Marco Túlio literalmente vão pra galera e cantam Só Hoje no meio do auditório. Tempos Modernos, sucesso do Lulu Santos, segue o baile do Jota com luzes e efeitos visuais. Então chega a surpresa da noite, onde Seu Jorge, que tinha feito três shows com Alexandre Pires em Porto Alegre pela semana, é convidado no palco para tocar Ive Brussel com a banda, e ainda desfilando seu talento na flauta, momento de gala, com o encontro do grande cantor com a banda em uma versão grooveada do sucesso de Jorge Benjor. Te Ver Superar, sucesso mais recente da era da pandemia também entra no show, com tímidas reações e com De Volta ao Planeta dos Macacos, lembra aquela era em que o Jota era a banda mais pop do Brasil. No bis o grupo arrebata a todos com Dias Melhores, um dos maiores sucessos da banda, que já emenda a ótima Sempre Assim, fazendo o auditório voltar pro fim do século passado com um groove incrível e refrão marcante. Encerra com chave de ouro a primeira apresentação da banda, na maratona de três, a música do Nando Reis, que eles podem chamar de sua, Do Seu Lado, onde literalmente botam a casa abaixo com aquele refrão simples cheio de nanana que é a cara do Jota há 25 anos (na verdade até mais…).
Jota Quest é aquele exemplo de show que você vai encontrar uma banda super profissional, músicos excelentes, uma produção e sonoridade moderna e impecável e vai sair do show com os refrões grudentos colados na orelha, além de cansar de pular, agitar e se divertir, com seu jeito simples, às vezes até demais, com letras que beiram o banal, mas de fácil aceitação. É muito difícil não se encantar com a simpatia e a competência do quinteto que fizeram um show exemplar na capital que sempre os acolheu bem e que os faz ter uma gratidão eterna com a cidade. Enfim, com seu jeito fácil de fazer música, o Jota fez todo mundo dançar e cantar junto, esquentando a fria noite de sexta-feira e fazendo todo mundo sair satisfeito de um show de pop quase perfeito.
Crédito das fotos: Vívian Carravetta