45 do segundo tempo. Humor, sarcasmo e drama para falar sobre a vida e amizade.

A complicada e divertida história de um neto de italianos que tem a árdua tarefa de manter o negócio da família. Mas nem tudo são flores para esse dono de restaurante: dívidas, cheques devolvidos, parcos recursos, vigilância sanitária e mais uma penca de problemas dão um toque todo especial, logo no início da trama, para essa comédia.

O italiano em questão é ninguém menos que Tony Ramos, cuja interpretação dá vida ao enrolado e engraçado Pedro. Pedro, apesar dos contratempos, consegue se reunir a outros amigos para refazer uma foto histórica do ano de 1974, quando eles foram fotografados por ocasião da inauguração do metrô de São Paulo.

O encontro deles é imediatamente marcado por uma notícia incômoda. Para piorar, trinta anos afastados fazem com que a amizade esteja mais morna, algo comum a qualquer pessoa que não nutre a amizade distante.

Diante desse quadro, Pedro se depara com uma realidade quase insuportável as notícias ruins se sucedem, o que amplia a sensação de fracasso. Infelizmente são poucos os que suportam com serenidade uma fase tão ruim. Pedro, obviamente, não é um destes…

Amigos

Claro que uma trama como essa não poderia deixar de mostrar o quanto é complexa a vida. Pedro está em um dos piores momentos de sua vida, ciente da morte recente de um grande amigo e, para piorar, vê seus amigos de juventude cada vez mais distantes. Claro que nada está tão ruim a ponto de não piorar…

Frente a mais uma péssima situação, Pedro faz aquela que é a mais difícil e a mais fácil das escolhas; mas isso só se concretizará com a ajuda dos amigos que, sejamos honestos, têm suas próprias vidas. É a partir dessa decisão de Pedro que os amigos Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França) se reaproximam para uma retomada da amizade diminuída pelo passado e o tempo.

Reflexões e futebol

Pedro é o mais complicado dos amigos e, ao mesmo tempo, o mais pé-no-chão deles. Ele não vê mais motivos para continuar sua jornada na Terra, porém cada segundo dele a mais entre nós é uma lição aprendida. Com sua filosofia simplória, por vezes bruta, Pedro traz seus amigos de volta à realidade, afastando-os das reclamações e da procrastinação típicas de quem está “acostumado” à rotina. Com sua sabedoria popular, ele coloca seus amigos diante dos problemas que têm, com a diferença de que agora é vital encarar cada trauma para dar prosseguimento à vida, seja esta boa ou ruim.

Por sua vez, o próprio Pedro aprende que a solidão e a vida não são inimigas, já que até nos momentos ruins nós podemos crescer como pessoas.

Tudo isso ocorre em uma sequência de situações que são permeadas pela caminhada do Palmeiras, time do Pedro, para a final do campeonato.

Decisões

Um dos principais pontos desta obra cinematográfica é o debate sobre nossas ações e os resultados delas. Na verdade, o resultado das decisões que tomamos ao longo da vida.

Fica claro ao espectador que inevitavelmente seremos abraçados pelos resultados de nossas ações e decisões. Do mesmo modo, também fica explícito que é possível lidar com os resultados positivos e negativos daquilo que escolhemos, mesmo que isso possa aparentar ser impossível.

Com um humor muito bem dosado, o roteiro de Luiz Villaça e Leandro Moreira, aliado à competente direção do próprio Luiz Villaça, brinda o público com uma versão mais velha de Curtindo a Vida Adoidado. Podem acreditar quando digo que esse comédia dramática é um dos mais divertidos filmes brasileiros dos últimos anos.

Tabus

Há pontos bastante sensíveis abordados no longa-metragem. Homofobia, o celibato, o peso da terceira idade, suicídio, o tabu sobre a vida na velhice, o distanciamento de amigos e familiares, a solidão… São muitos os dilemas abordados e questionados neste filme. Certamente alguns observarão a obra com uma certa desconfiança, provavelmente por causa das ideologias e da polarização dos tempos atuais, mas o fato é que 45 do Segundo Tempo é um filme a ser contemplado. Muito além do puro entretenimento, o longa entrega uma verdadeira sessão de psicologia, capaz de levar o espectador a pensar, refletir profundamente sobre a própria vida.

A montanha-russa da vida

Apesar de estarmos diante de um filme cuja premissa é o humor, fica evidente que os pontos altos dele estão na análise da vida. Mais do que isso, destaco a análise da proximidade da morte.

O trio de amigos já está velho. Não são homens decrépitos, isto é óbvio, porém são senhores cujas vidas se aproximam do fim. Gostemos ou não, a realidade de envelhecer é dura, algo abordado com sobriedade durante todo o longa. Em contrapartida, a mensagem sobre a importância de viver intensamente cada segundo é, essencialmente, um presente para o espectador. O público se deparará com uma verdadeira montanha-russa de emoções, um verdadeiro tapa na cara para nós, pessoas que vivem sob a tutela do tempo e das “obrigações”, homens e mulheres sem tempo para nada.

Esses amigos mostram – e comprovam – que a amizade bem construída é duradoura, capaz de modificar até o mais cético dos homens. E é válido esclarecer que amizade não está apenas no âmbito dos amigos. Familiares, companheiros de trabalhos, pessoas que fazem parte do nosso cotidiano são amigos – em maior ou menor grau – cujas vidas podem nos influenciar, inspirar e conduzir a algo melhor.

A grama do vizinho…

A provável mais pertinente das lições inseridas no filme diz respeito à nossa vida. O hábito de enxergar a perfeição e o que há de melhor na vida daqueles que nos cercam pode ser uma armadilha, sobretudo se levarmos em conta que nunca sabemos o que realmente se passa na vida de outra pessoa.

Nossa felicidade é quase sempre sinônimo de tranquilidade. Já a tristeza que nos abraça é, em tese, um fardo pesado para ser carregado. Todavia é preciso compreender que nem sempre os risos e a prosperidade são sinônimos de felicidade. Muitos disfarçam suas dores – tal qual um palhaço de circo – com a maquiagem e o sorriso. A grama do vizinho pode ser mais verde, mas é vital atentar para descobrir se ela não é sintética.

Viver é difícil… e sempre recompensador. Pense nisso!

Atuações

45 do Segundo Tempo é um filme que tem o trio Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes e Ary Fontoura como seus alicerces. Mesmo com as atuações sempre consistentes de outras estrelas da nossa Sétima Arte, a verdade é que a obra é construída com base nas performances maravilhosas dos três atores. Seja em cenas de humor, seja nas partes mais dramáticas, eles sempre conseguem entregar ao público as mais convincentes e comoventes interpretações.

Destaque para o papel de Tony Ramos, o Pedro, que guia os outros dois amigos por uma jornada repleta de emoção, amizade e sentimentos que, infelizmente para a maioria de nós, ficam menos nítidos com o passar dos tempos.

45 do Segundo Tempo será uma das melhores produções no cinema que vocês terão a oportunidade de ver. Logo, prepare seus ingressos e a pipoca, pois o longa-metragem estreará dia 18 de agosto nos melhores cinemas.

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