Westworld é mais uma inovação da HBO
Quando a HBO anunciou Game of Thrones em 2010 era fácil encontrar alguém que estivesse com um pé atrás dada a complexidade da adaptação da obra de George R. R. Martin. Porém, apesar disso, era quase que unanime que se fosse para acontecer uma adaptação, o tradicional canal de Sopranos, True Blood, Entourage e tantas outras séries de sucesso, era o lugar certo para acontecer.
Assim como a Game of Thrones, Westworld deve ter sido difícil de vender. Aproximando-se dos 100 milhões de dólares gastos com produção, os produtores devem ter sofrido para vender uma série com uma premissa tão complexa e um cachê tão alto. Cenário esse que foi agravado mais ainda depois que a emissora cancelou Vinyl que custou mais ou menos o mesmo valor que Westworld custará por temporada. O motivo? Críticas negativas, notas baixas.
Mantive isso em mente quando sentei para assistir Westworld. A vinheta inconfundível da emissora aparece e logo some, dando lugar para a abertura da série. E então… Então começou.
Eu sou um verdadeiro fã de ficção cientifica. Sou daqueles criados entre Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e filmes sci-fi antigos e contemporâneos. Comecei a escrever por causa de ficção cientifica, comecei a ter gosto por roteiros por causa dos filmes intrigantes e mindfucks que eram alguns dos melhores sci-fi na minha lista de favoritos.
Havia agora, logo ao começar o episódio piloto, uma grande torcida para que Westworld viesse a se tornar a ficção cientifica que a TV ainda não tem. E o plot já indicava isso.
A série é baseada no filmes homônimo de 1973. O Adoro Cinema fez uma boa sinopse: Westworld é um parque temático futurístico para adultos, dedicado à diversão dos ricos. Um espaço que reproduz o Velho Oeste, povoado por andróides — os anfitriões –, programados pelo diretor executivo do parque, o Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins), para acreditarem que são humanos e vivem no mundo real. Lá, os clientes — ou novatos — podem fazer o que quiserem, sem obedecer a regras ou leis. No entanto, quando uma atualização no sistema das máquinas dá errado, os seus comportamentos começam a sugerir uma nova ameaça, à medida que a consciência artificial dá origem à “evolução do pecado”. Entre os residentes do parque, está Dolores Abernathy (Evan Rachel Wood), programada para ser a típica garota da fazenda, que está prestes a descobrir que toda a sua existência não passa de bem arquitetada mentira.
Inovador? Não é tão dificil que você tenha esbarrado numa série de histórias parecidas. Isso porque Westworld é realmente um recorte de muitos plots famosos retirados de ficções cientificas consagradas na literatura e no cinema. O conceito de rebelião das maquinas foi incessantemente abordado e aprofundado por Isaac Asimov e a mistura de futurismo em contraste com o velho oeste pode ser vista n’A Torre Negra, uma das maiores obras de Stephen King.
Existem até pequenas referencias já no primeiro episódio. Há uma cena onde muitos robos humanóides estão dispostos de pé num saguão. Eles parecem desativados ou desconectados. Essa cena lembra muito um dos contos da coletânea Eu, Robô de Asimov. Além disso, uma das coisas mais interessantes é que momentos após relacionar o universo de Westworld com a série de livros de Stephen King, percebi que um dos personagens tem o mesmo nome que um dos protagonistas d’A Torre Negra — seu nome é o Homem de Preto.
Mas isso são apenas detalhes e não há até agora qualquer confirmação de que Stephen King tenha influenciado a série ou até mesmo que Westworld (o filme de 1973) tenha influenciado o escritor. É notável que Jonathan Nolan (um dos idealizadores da série) sempre sabe muito bem sugar todo o potencial do que está produzindo.
Sabe tanto que o piloto é de tirar o folego. Com pouco mais de uma hora de duração, é fácil se deixar morrer de curiosidade sobre o que vai acontecer com todos aqueles personagens. E sobre isso, que personagens, hein! O elenco é encabeçado por estrelas como Anthony Hopkins, Evan Rachel Wood, Ed Helms, James Mardsen e nosso conterraneo Rodrigo Santoro. Mas o que chama atenção mesmo não são seus nomes artisticos, o que chama atenção é quem são como personagens, o quão suas vidas são limitadas, é o quanto todo esse universo de Westworld nos faz questionar sobre paredes invisiveis, cenários limitados, um décimo terceiro andar que todos esses personagens descobrirão ao longo da série.
E a inovação atribuída à HBO no titulo desse post não é por trazer a série à vida, é por enxergar a capacidade do gênero que aparentemente não é nicho de ninguém, mas que vem para unificar uma série de potenciais de sucesso e tapar buracos deixados por séries como Hell On Wheels (AMC), filmes como Cowboys & Aliens (Jon Frevou, 2011) e fãs sedentos por adaptações de jogos como Gun (Actionvision) e Red Dead Redemption (Rockstar Games).
Duvido muito que a HBO tenha colocado isso na ponta do lápis quando iniciou a produção de Westworld, mas quão supresa a emissora ficará quando souber que buscando criar um nicho novo, unificou uma inteira de órfãos e filhos prodigos de diversas outras séries dramáticas?
Dado pelo nível do piloto, ela ficará muito surpresa.