Vocês são todos chatos!
Eu também sou! Quem nunca? Mas ultimamente, espere, a quem eu quero enganar, desde que o mundo é mundo a maioria das pessoas são chatas. Hoje a única diferença é que se subdividem em “especialidades”, senão vejamos alguns tipos…
Existem os chatos que são apenas chatos, vivem suas vidas chatas sem interferir na vida de outras pessoas, ou no máximo interagem com pessoas semelhantemente chatas. Não representam perigo. São inofensivas.
Porém existem os chatos pretensiosos, aqueles que desejam impor sua chatice ao resto do mundo, são o que costumo chamar de chatos doutrinadores, que agem de forma semelhante aos líderes religiosos, são aqueles “amigos” que dizem para você não beber muito, não comer muito, não esbanjar dinheiro, poupar, fazer um plano de previdência privadas, e pensar em quando estiver velho: O que vai ser de você? Quem ira lhe cuidar? E que no final da sua vida, estufará o peito como um pavão e quase tendo um orgasmo lhe dirá: “Eu avisei!”.
Ainda temos os chatos “corretos” que não bebem, fumam, transam, não falam de sexo, nem palavras feias, não gostam de jogos violentos de vídeo game, oferecem-se sempre para ajudar em campanhas ambientas, ecológicas, não vão a festas (bem quem os convidaria?), não comem glúten, nem açúcar branco, farinha branca, bem eles não comem nada que seja branco, na verdade. Enxergam cânceres e tumores em tudo e todos, e mais um detalhe: Só bebem água mineral alcalina. Eles criam seus filhos em redomas de vidro, o que resulta nessas crianças insuportáveis e mal educadas que você vê por ai batendo nos pais ou deitadas no chão dos supermercados chorando como psicóticos. Bem esse tipo é realmente péssimo.
Temos também os chatos que não se acham chatos, ou melhor, que se acham “fodões”, eles andam com a roupa da moda, com o carro da moda, bebem todas, entendem de cerveja, vinho, destilados, são cozinheiros, pescadores, caçadores, pegam todas as gatas, ou se for uma gata pegam todos os gatos… Bebem todas na balada, tomam conta da pista, bebem a custa dos “idiotas”, transam com mais frequência do que trocam de roupa e também escutam músicas internacionais, rock pesado, e nos domingos comem com a família em algum lugar “cool” da cidade onde vivem. Este tipo é fascinante, desde que longe!
Existem também os comumente chatos, que são aqueles que saem para comer, dar um passeio no parque, o tipo que diz “olha que lindo, o passarinho” para cada ave que tenha um tom que não marrom. Aliás se for um marrom mais elaborado, eles dizem também. Levam os filhos ao bosque, com sacolinhas ecológicas para recolher a sujeira do cão que sempre acompanha a família. Falam da novela, do seriado, do preço das verduras e de como estão caras. Falam de futebol; esportes não, para esse tipo apenas futebol é esporte. Assistem ao “Mis Universo” e as mulheres adoram a Nigela Lawson e fazem todas as sobremesas que ela ensina. Este tipo bebe pouco, não fuma, não usa drogas, vai a igreja regularmente, mas ainda assim fala da vida alheia e tenta derrubar o colega no trabalho.
Ah! Não poderia esquecer que esse tipo de chato também adora contar vantagem, de como são ricos, de quanto custou o som do carro, do quanto seus pais são bem sucedidos, e quando mulheres, falam do quão caros são os cosméticos que usam (base, batom, rímel, esmalte…) e ainda assim quase sempre são feias.
Os tipos são inumeráveis, comportam-se das mais diversas maneiras, ninguém mais arrisca ser interessante, diferente, fora de qualquer modelo ou padrão. Todos tem suas tribos, pertencem a clãs, alguns até possuem representantes na Câmara e no Senado Federal. Não falam de assuntos mais profundos que os buracos da rua que a prefeitura não fecha ou sobre o leão Cecil que foi morto. Com isso a vida vai tornando-se cada vez mais odiosa, e as pessoas com quem se tem de conviver também.
Queria um mundo com mais pessoas semelhantes a Oscar Wilde, meu grande ídolo depois da Florence Nightingale, é claro. Deixo a vocês o tipo de pessoa que ele quer para seus amigos, e bem, eu adoraria Eu adoraria que a Terra fosse povoada por gente deste tipo. Sr. Wilde, conte-nos mais…
“Escolho os meus amigos, não pela cor da pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila dos olhos. Tem que ter um brilho questionador e uma tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espíritos, nem os maus de hábitos. Fico com os que fazem de mim louco e santo. Deles não quero respostas, quero o meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isto, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho os meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só ombros e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim, metade maluquice, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, que e lutem para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças para que não esqueçam o valor do vento no nosso rosto; e velhos para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem sou. Pois vendo os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos nunca me esquecerei de que a ‘normalidade’ é uma ilusão imbecil e estéril…” (Oscar Wilde)
Por Patrick Canterville
Original em Portal das Letras