Não é sempre que filmes orientais têm distribuição nos nossos cinemas. Assim, foi com curiosidade que sentei para assistir A Vilã [Ak-Nyeo, 2017], do coreano Jung Byung-Gil. A curiosidade era redobrada pelas notícias de que a sua exibição havia sido aplaudida, de pé, no Festival de Cinema de Cannes.
A Vilã revelou-se um videogame traduzido em filme.
Ele inicia com uma longa cena, que remete, propositalmente, a um jogo de tiro em primeira pessoa. Você participa da ação por meio dos olhos da personagem. Anda por corredores, escadas e salas lotados de inimigos. Vai eliminando todos, recarregando e mudando sua arma, até chegar no seu objetivo, enfrentar o “Final Boss”.
A cena agrada aos fãs do gênero. Eu mesmo gosto deste tipo de jogo. No cinema, contudo, requer (muita) suspensão de descrença ver uma mulher pequena matar mais de vinte marmanjos vestidos todos de forma igual, em um corredor estreito, com duas facas. Eram facas grandes, mas eram facas. (E por que, afinal, nenhum deles tinha uma pistola?) Essa abertura dá o tom do que será o resto do filme.
Nesse ponto, devo adiantar uma questão que, em regra, deixo para o final a crítica: A Vilã é um bom filme?
A resposta depende da sua expectativa como espectador.
Se você quer ver um filme de ação com algum compromisso com a realidade (ou mesmo com respeito às leis da física) e história original, este não é o seu filme.
Agora, se você quiser ver um filme com ritmo frenético, boas (em alguns momentos, muito boas) tomadas de ação, ângulos surpreendentes e violência explícita, esse é o seu filme.
A história, em si, abusa de clichês.
Sook-hee (Ok-Bin Kim), a protagonista, vê o pai ser assassinado quando criança. É capturada e vendida pelos assassinos, sendo resgatada da prostituição por Shin Ha-kyun (Lee Joong-sang). Ela é integrada em sua gangue, treinada e acaba se tornando uma assassina. Casa com o seu salvador e mentor, que acaba morto na lua de mel. Ela parte em vingança. Depois de matar toda uma gangue, é capturada e internada em uma instituição, para ser treinada e, ao final, reintegrada à sociedade como uma agente e assassina a serviço de alguma obscura organização governamental.
Parece que você já viu essa história em algum lugar, não? Sim, em vários locais, entre eles, no filme Nikita, de Luc Bresson.
É difícil dar spoiler acerca de uma história que você já praticamente decorou. No caso de Sook-hee, contudo, há um complicador. Quando internada, ela descobre estar grávida. O restante da narrativa se desenrola sempre entorno do tema vingança.
A Vilã é, também, um filme de excessos.
O maior deles, o de sangue. Você sente vontade de pedir uma toalha na saída do cinema, pois tem certeza que um pouco dele respingou no seu rosto. Tudo no filme é demais. As cenas de ação são exageradas, assim como os sentimentos dos personagens. Amores incondicionais. Vingança a qualquer preço. Não há nada suave, com exceção da filha e do bonito rosto de Ok-Bin Kim. Mesmo ele, contudo, passa grande parte do filme respingado de vermelho.
O filme é um legítimo herdeiro dos filmes de ação dos anos oitenta, na fórmula de um contra todos, como Comando para Matar e Duro de Matar. Há, ainda, um ar de Kill Bill. O ritmo, o enquadramento, os cortes, a montagem e a paleta de cor escura, contudo, são adaptados ao nosso tempo. E, para chamar a atenção entre os milhares de filmes de ação, não basta mais o herói (heroína, no caso) enfrentar sozinha muitos adversários. É preciso que enfrente centenas, milhares deles e nos locais mais insólitos, como em uma luta de espadas em cima de motos.
A Vilã, em conclusão, não é filme para ser aplaudido de pé, mas é uma boa diversão para quem gosta de videogames, de filmes de ação rápidos e de rever histórias, com algumas modificações pontuais, que já conhece.
Direção: Byeong-gil Jeong
O longa de ação sul-coreano “A Vilã”, dirigido por Jung Byung-gil (de “Confissão de Assassinato”), tem distribuição nacional Paris Filmes. A produção reúne os atores Ok-bin Kim e Ha-kyun Shin (de “Sede de Sangue”), além de Bang Sung-jun e Kim Seo-hyung.
Sinopse: Uma menina treinada desde a infância para ser uma assassina sanguinária aceita um acordo de trabalho que a libertará do árduo ofício depois de dez anos de serviço. Mas mesmo depois de cumprir o prazo e começar a trilhar uma rotina normal, dois homens aparecem e a colocam de frente com seu passado.