Uma das cidades mais representadas em filmes é, sem dúvidas, Nova York, seja qual for o gênero. Os romances e os dramas ganham mais intensividade, especialmente quando lembram eventos reais.
É o caso do filme “Lembranças”, de 2010, dirigido por Allen Coulter e Will Fetters, fazendo referência ao atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, baseado em uma das tantas histórias reais envolvidas ali. Está disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.
Tyler e Ally são duas pessoas que enfrentam traumas pessoais separadamente.
Ally perdeu a mãe quando ainda era muito nova, em um assalto no metro, sendo alvejada na frente dela. O pai de Ally é da força policial e se sentiu impotente ao ver que como havia perdido a esposa. Isso resultou em um policial desmotivado e um pai superprotetor.
Tyler vem de uma família rica, mas infeliz na mesma intensidade. O irmão mais velho dele, Michael, cometeu suicídio há alguns anos, enquanto trabalhava com o pai deles, Charles, aos 22 anos. Agora ele vive a sombra do luto do irmão, sendo o porto seguro da irmãzinha, Caroline, e combatendo de frente tudo que o pai representa.
Tyler deveria estar terminando a faculdade, está para completar os 22 anos e isso o assusta, ainda por causa de Michael. Ele trancou o curso, só assiste as aulas, trabalha perto do mais gosta, dos livros, e divide um apartamento de universitário com o amigo Aidan.
A relação de Tyler com o pai não poderia ser pior, ele se recusa a trabalhar com o pai e não entende como ele consegue ser tão frio com tudo, parece nem sentir a falta de Michael nem dar a mínima atenção a Caroline, o que enfurece Tyler.
Poucas coisas chamam atenção de Tyler nesse momento, mas ele acaba se envolvendo em uma briga de bar, ele tenta ajudar as vítimas, mas acaba sendo enquadrado pelo sargento como sendo um dos culpados. Esse sargento é Neil Craig, pai de Ally.
Quem descobre essa ligação é Aidan, na primeira aula que teve depois de ter recebido a fiança para sair da cadeia. Ele chega em casa com uma grande ideia para Tyler, seduzir Ally como forma de se vingar do policial que fez injustiça com ele e com as outras vítimas da briga.
Tyler começa a se aproximar de Ally com esse propósito, eles saem uma vez e se entendem. Depois do segundo encontro, que acaba em uma balada de república e no primeiro porre de Ally, o pai dela não aceita as desculpas e ela, cheia daquela proteção toda, sai de casa, acaba indo passar um tempo no apartamento com Tyler e Aidan.
Eles acabam realmente se apaixonando um pelo outro, tanto que Ally começa a entender a relação dele com a família. Primeiro conhece a luz dos olhos de Tyler, Caroline (a irmãzinha), e a mãe deles, depois conhece o pai, quebrando um pouco o gelo entre eles por algum momento.
O verão passa tranquilamente, exceto para o pai de Ally, que tenta descobrir quem é Tyler e desfazer a imagem de bom moço dele. E ele consegue, descobre do acordo entre ele e Aidan para seduzir Ally e ameaça contar ele mesmo a ela. Tyler conta a Ally e esse parece ser o fim.
Tyler não tem muito tempo para processar isso, porque logo Caroline passa por uma crise, que pareceria besteira, mas devido ao histórico familiar e a ligação que ele sentia com a irmã, tomou todo o juízo dele.
Caroline se sentia cada vez mais deixada de lado pelo pai, sentia que o pai não a amava e se sentia excluída na escola também, sofria bullying. Isso mesmo depois de Tyler ter enfrentado o pai, quando ele faltou uma exposição da escola, momento em que Caroline iria mostrar um desenho que fez dele.
Foi um momento familiar difícil, mas fez Charles acordar como pai de Caroline e reaproximou Ally da família de Tyler e dele mesmo. Ally e Caroline se deram bem desde o começo e ela ficou preocupada com a menina quando ouviu falar do ocorrido, além disso Aidan a procurou, falando que sim, ele fez o tal acordo (aposta), mas que Tyler realmente a amava àquela altura.
Depois desse dolorido evento tudo parecia se encaixar de novo, Ally voltou para o apartamento de Tyler e ele estava disposto a ter uma convivência pacífica com o pai, aceitando ir se encontrar com ele no escritório dele. Charles se atrasou porque, pela primeira vez, foi deixar Caroline no colégio (ela sempre ia de motorista e, às vezes, Tyler a pegava no final das aulas).
Seria tudo normal e até positivo, só que esse dia era 11 de setembro de 2001 e o escritório de Charles, onde Tyler estava o esperando, era em Wall Street, mais especificamente em uma das torres gêmeas do World Trade Center. Assim como o irmão, Tyler faleceu aos 22 anos, mas por causas completamente diferentes.
A carga dramática desse filme é muito maior do que a divulgação dele mostrou, desde a época de seu lançamento. O atentado terrorista é realmente um evento que toca todos, não só os estadunidenses, mas o filme mostra muito mais do que isso, na verdade o atentado é só o desfecho doloroso.
O que não se pode negar é que Ally e Tyler se encontraram na hora certa, no momento que cada um precisava de um motivo para mudar a forma como encaravam a vida. Sem dúvidas que, se ele não tivesse morrido, ele teria completado a faculdade ou procurado uma carreira, um rumo (como o pai dizia). E ela precisava mostrar ao pai que ela cresceu e que precisava viver.
Mas a parte dramática real fica para Caroline. Imagina enfrentar a pré-adolescência com a sombra (luto) do suicídio do irmão mais velho, a separação dos pais e a indiferença do pai, tendo como porto seguro o outro irmão, que tinha lá seu toque de rebeldia, mas estava lá por ela. Mas, daí, quando tudo estava se encaixando de novo, ela também perde esse irmão!
Embora a história principal seja muito bem feita e interpretada, eu me concentrei muito mais em Caroline e nesses obstáculos que ela enfrenta. Primeiro fiquei encantada com a forma que Tyler a trata, mesmo com tudo indo errado para ele mesmo ele consegue a animar, coloca a irmã como peça principal da vida dele, um grande guardião.
Vai parecer piegas, mas preciso dizer, por experiência própria, ter um irmão (ou, no meu caso, irmãos) mais velhos próximos assim, com essa atenção, é uma experiência única, indescritível.
E esse irmãozão, um rebelde sem causa, alguém que ensinou muito para aqueles que amava, é interpretado por Robert Pattinson, que lançou esse filme no intervalo entre “Lua Nova” e “Eclipse” (Saga Crepúsculo). É como se ele soubesse que, desde então, precisaria de argumentos a seu favor, enquanto o vampiro cintilante fazia sucesso mundo afora.
Piadas à parte, ele se mostra muito bem, embora caricato em alguns momentos. Foi a figura perfeita do irmão e de alguém que realmente estava se apaixonando, além do fator rebeldia.
Ally é vivida por Emilie de Ravin. Ela também era bem conhecida na época, estava se despedindo da personagem Claire, de “Lost”, poucos anos depois ela começou a dar vida a Belle em “Once Upon a Time”.
O pai indiferente, aparentemente frio, Charles, é vivido por Pierce Brosnan. Além de seus anos de glamour como James Bond, ele também é conhecido por fazer outro, mais amável e cantante, de Sophie Sheridan, em “Mamma Mia!”.
Antes de continuar preciso apontar um fato, talvez uma besteira, mas que venho prestando mais atenção. Pattinson é inglês, Emilie de Ravin é australiana e Brosnan é irlandês, mas os três interpretam típicos novaiorquinos (estadunidenses). Sotaques e interpretações excelentes, mas fica a dúvida: será que os atores novaiorquinos também mereciam um lugar ao sol?
O pai de Ally, Neil, é interpretado por Chris Cooper, conhecido por filmes como “O Patriota”, “Beleza Americana”, “Eu, Eu Mesmo e Irene”, “A Identidade Bourne”, “Capote”, dentre outros.
Caroline, que rouba a cena (para mim), é vivida por Ruby Jerins, conhecida pelas séries “Nurse Jackie” e “As The World Turns”, além de filmes como “Ilha do Medo”, “Mais Forte que Bombas”. Em 2010 ela foi filha de Pierce Brosnan e de Leonardo DiCaprio!
A mensagem do filme é que a vida é feita de momentos, é preciso saber aproveitar cada um.
Até mais!
A imagem em destaque é do IMDb.