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Vício em internet já é problema de saúde – PARTE 1

Vício em internet já é problema de saúde – PARTE 1
  • Publisheddezembro 27, 2016

   *Pessoas que abrem mão da vida social e passam horas em jogos online ou em redes sociais precisam de tratamento

Guilherme, de 15 anos, não tem problema em assumir: já perdeu a conta de quantas vezes trocou o futebol e as festas com amigos por horas seguidas no videogame ou no computador. Tímido, o jovem se sente mais à vontade disputando algum jogo, de preferência, com muito tiro, violência e lutas, do que no meio de outras pessoas. Ana Luiza, de 18 anos, checa o WhatsApp a todo instante, posta fotos e vídeos nas redes sociais o dia inteiro e também estuda online. “Meu celular praticamente já faz parte do meu corpo”, brinca a moça.

Guilherme e Ana Luiza não se conhecem, mas integram um grupo de pessoas que são completamente dependentes do mundo virtual. Casos extremos que começam a despertar a atenção de especialistas da área médica e da psicologia. Belo Horizonte ainda não disponibiliza atendimento público para essas pessoas, como ocorre no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que já têm setores especializados para tratar os chamados “viciados digitais”.

A questão é séria e ganhou até nome: nomofobia. Ela é o desconforto ou a angústia provocados nas pessoas pela incapacidade de comunicação e interação fora do mundo virtual, trocando-as por computador, games ou celular. Em BH, quem sofre com problema tem que procurar ajuda com psicólogos particulares. Para especialistas, pais e usuários, a maior dificuldade ainda é estabelecer a partir de quando a situação se torna um vício e prejudica a saúde.

A partir de algumas pesquisas e estudos feitos para apresentar em congressos nacionais e internacionais, o psicólogo Cristiano Nabuco percebeu que o problema se tornava cada vez mais grave. Em 2008, ele criou o grupo, Dependência de Internet, que funcionava no HC de São Paulo. ” Um dos Casos que mais chamou atenção foi o de um jovem de 17 anos, que passou 55 horas direto jogando. Ele não parava sequer para ir ao banheiro ou comer. Fazia as necessidades na própria roupa. Com uma mão ele jogava, e com a outra tirava a roupa suja e lançava pela janela”, conta.

O tratamento consiste em consultas, terapias em grupo ou individual e acompanhamento com psicólogos e psiquiatras. “Já atendemos mais de 250 casos, entre pacientes e familiares. Porque é com ressaltar que o tratamento envolve toda família, que é um coadjuvante nessa situação, principalmente quando se trata de pacientes que são crianças ou adolescentes’, diz o especialista.

Segundo a professora de graduação e pós-graduação de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas, Márcia Stengel, que ministra uma disciplina de Virtualidade, o que os pais e os próprios usuários devem observar é como esse tempo é utilizado, e não apenas a somatória das horas online.

“As vezes, uma pessoas fica várias horas conectada, mas não está apenas postando fotos em redes sociais e conversando com os amigos pelo WhatsApp. Alguns utilizam a trabalho, outros para estudos. O que não pode acontecer é a pessoa trocar a vida real pela virtual. Esse é um limite importante a ser observado por todos”, explica a especialista. A PUC Minas, o Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, a Faminas e o Uni-BH alegam que ainda não têm setor específico e que os casos são tratados nos ambulatórios de psicologia, uma vez que a demanda é pequena na capital.

ATENÇÃO: Pouco interessada no mundo virtual, a professora de psicologia da PUC Minas Márcia Stengel começou a pesquisar o novo fenômeno social a partir do estranhamento que teve ao perceber o grande número de pessoas online. Segundo a especialista, os pais devem ficar atentos não somente ao número de horas que os filhos ficam online, mas em como eles utilizam esse período.

Minientrevista

‘Tem que ter bom senso’

CRISTIANO NABUCO        

COORDENADOR DO GRUPO DEPENDÊNCIA DE INTERNET DO HC DE SÃO PAULO

Como identificar um viciado digital e quando é hora de pedir ajudar? Essa hora é exatamente quando o paciente começa a sacrificar atividades normais e reais para passar o dia inteiro conectado. Quando ele troca situações que poderia fazer no mundo real por situações online, como compras, amizades, namoros e jogos, é hora de começar a se preocupar.

Além do jovem que passou 55 horas jogando, algum outro caso chamou atenção do senhor? Uma mãe nos procurou muito preocupada porque o filho dela não largava o celular. Para tomar banho, comer e dormir era um problema. Ela relatou que quando o levava ao shopping ele saía correndo e pedia colo para as funcionárias das lojas de eletrônicos para mexer nos computadores e celulares. Quando ela disse ‘colo’, eu assustei e perguntei a idade da criança. Ele tinha 2 anos e meio.

Quais as consequências para o futuro dessas pessoas? São consequências de todas as ordens: físicas, psíquicas. Eles começam a ter muito mais dificuldades para realizar todas as funções cognitivas e que dependem de concentração. Quanto mais cedo a criança começar a utilizar essas ferramentas, mais precoces e mais graves serão esses efeitos.

Qual a dica o senhor daria para uma pessoa utilizar o mundo digital adequadamente? A tecnologia deve ser utilizada sempre de uma maneira moderada. Por mais que você goste de andar de bicicleta ou comer, por exemplo, você não passa dez horas pedalando ou comendo. É a mesma coisa com a internet. Você não precisa passar todo esse tempo online. Tem que haver um bom senso e não transferir tudo para o mundo digital.

BRUNO RIBEIRO
Especial para o NoSet

 

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