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Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4: Entre o Mito Restaurado e a Reinvenção Adiada

Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4: Entre o Mito Restaurado e a Reinvenção Adiada
Imagem: Iron Galaxy/Activision
  • Publishedjunho 23, 2025

No panteão dos jogos de esportes, poucos títulos possuem o peso simbólico de Tony Hawk’s Pro Skater 3 e 4. O terceiro jogo, em especial, figura ao lado de Breath of the Wild e Red Dead Redemption no altar dos 97 pontos no Metacritic. O quarto, por sua vez, foi um passo ousado: abandonou o cronômetro, abriu os mapas e, de certo modo, antecipou o modelo de missões contextuais que dominaria o design de mundo aberto anos depois. Portanto, ao anunciar Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4, a Iron Galaxy assumiu mais do que um remake: assumiu a responsabilidade de reencenar o auge de uma era.
O resultado é um jogo tecnicamente impecável, emocionalmente potente e, ao mesmo tempo, estruturalmente conservador. Uma restauração brilhante — mas que se recusa a imaginar o que mais Tony Hawk’s Pro Skater poderia ser.

O Flow Continua Impecável
O primeiro contato com Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 evoca imediatamente a memória muscular dos velhos tempos. Saltos, reverts, manuals e grinds ainda formam a espinha dorsal da jogabilidade. O “flow” — esse estado mental quase meditativo onde tudo se conecta em um combo que desafia a gravidade e o bom senso — segue não apenas preservado, mas refinado. As mecânicas funcionam com precisão milimétrica, e os veteranos da série encontrarão conforto imediato na fisicalidade exata do controle.
Mais que isso: a Iron Galaxy soube aproveitar a base deixada pela Vicarious Visions nos remakes de THPS 1 + 2. O estúdio não apenas replicou os sistemas como os integrou entre os dois títulos. Elementos originalmente exclusivos do quarto jogo, como o skitch (agarrar na traseira de carros), agora funcionam também nos mapas do terceiro. Essa fusão gera uma coesão mecânica rara em coletâneas.

Audiovisual: Nostalgia com Esteroides
Do ponto de vista técnico, THPS 3 + 4 é irrepreensível. Os visuais não apenas modernizam texturas e iluminação: reinterpretam os cenários com novas camadas de atmosfera. Suburbia pulsa com tons sombrios e ambientações carregadas de personalidade. Foundry borbulha com efeitos de partículas e fogo que jamais seriam possíveis no hardware de 2001.
A trilha sonora — elemento definidor da franquia — faz um malabarismo admirável entre passado e presente. Os clássicos estão lá: Amoeba, Ace of Spades, 2 Minutes to Midnight. Mas convivem agora com nomes como Fontaines D.C., Idles e Turnstile. E a curadoria, segundo os próprios desenvolvedores, passou por Tony Hawk em pessoa. Trata-se não de nostalgia cristalizada, mas de uma ponte viva com o presente da cena skate.

A Decisão Polêmica: Cronômetro x Exploração
A mudança mais debatida — e, talvez, mais frustrante — foi a opção de eliminar o formato de exploração livre que definia THPS 4, restaurando o modelo clássico de runs cronometradas de dois minutos. A justificativa da Iron Galaxy é compreensível: coesão, consistência, respeito ao “DNA da franquia”. Mas a decisão tem um custo real: o quarto jogo era a exceção criativa dentro da série, o ponto em que Tony Hawk experimentava com design de missões, NPCs e liberdade.
Essa ruptura com a estrutura original do THPS 4 — ainda que mitigada por opções de acessibilidade como aumentar o tempo para até uma hora — descaracteriza parcialmente a proposta sandbox que o diferenciava. Não é apenas uma mudança de ritmo; é uma escolha ideológica sobre o que Tony Hawk’s Pro Skater deve ser. E ela diz: o que vale é o clássico.

O Novo Que Parece Velho (E Isso é Um Elogio)
Uma das surpresas mais bem-vindas do pacote é o conjunto de fases inéditas. Waterpark, a única já mostrada ao público, é uma aula de design “invisível”: colorido, caótico e absurdamente bem integrado à lógica dos mapas originais. Testadores chegaram a acreditar que era uma fase esquecida do THPS 4. Missão cumprida, diria o designer Mike Rossi.
A ambição, aqui, não é reinventar o estilo dos mapas — mas sim criar novos playgrounds que respeitem as regras e linguagem que fizeram da série o que ela é. Escorregadores, piscinas, válvulas e verticais se misturam com criatividade, permitindo combos longos e exploração fluida. É o velho espírito de transgressão — transformar qualquer espaço público (ou proibido) em pista — em sua forma mais refinada.

Acessibilidade Sem Concessões
Uma das evoluções discretas, mas importantes, está nas opções de acessibilidade. Velocidade de jogo reduzida, equilíbrio automático, tempo ampliado e desativação de quedas são algumas das ferramentas oferecidas aos jogadores. Sem comprometer a dificuldade para os veteranos, o jogo abre portas para quem quer aprender no próprio ritmo. O conceito de “perfect balance”, que já existia nos jogos antigos, foi expandido com naturalidade, sem transformar a experiência em algo artificialmente fácil.

Mas Onde Está a Reinvenção?
Ainda que Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 acerte em quase tudo o que se propõe, há uma ausência difícil de ignorar: o jogo não tenta, em momento algum, expandir os limites da série. Não há novos modos de jogo realmente inovadores. Não há narrativa, nem evolução estrutural, nem um sistema de progressão renovado. O que há é a preservação meticulosa de algo que já era muito bom — mas que permanece preso a um ideal do passado.
Essa abordagem agrada ao fã tradicional, mas levanta uma pergunta: Tony Hawk’s Pro Skater ainda pode ser algo novo, ou está condenado a viver como um simulacro glorificado de seus melhores anos?

Veredito
Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 é um triunfo técnico, um acerto de tom e uma celebração carinhosa de dois jogos lendários. Ele preserva com rigor o que funcionava, corrige o que era imperfeito e injeta novo fôlego com fases inéditas e um arsenal de ferramentas de acessibilidade.
Mas também é um projeto essencialmente conservador. Não busca expandir a linguagem da série, nem reimaginar o que Tony Hawk’s Pro Skater poderia ser na era do design sistêmico, da personalização emergente ou da narrativa integrada.
Para os fãs, é um retorno glorioso ao lar. Para a franquia, é a reafirmação de sua glória passada — mas não necessariamente um salto em direção ao futuro.
Nota crítica: 8,5/10

Written By
Weskley Vieira