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MÚSICA

TNT- Araújo Vianna

TNT- Araújo Vianna
  • Publicado em: dezembro 23, 2024

Dia 19 de dezembro de 2024, quinta-feira. Uma data para pararem as máquinas, mexer o Rio Grande e voltarmos no tempo. Foi a noite da volta do TNT. Uma das bandas mais idolatradas daquela geração dos anos 1980 estava de volta, 20 anos depois da sua última pausa e com sua formação original (quase),  pedindo para o público entrar nessa e curtir o rock and roll com a banda. E obviamente, o NoSet estava lá para cobrir a tal noite histórica do rock feito abaixo do Rio Mampituba.

Poucas vezes vi um Araújo tão abarrotado de gente nesse ano. Um público de todas as idades super lotava o auditório. Tínhamos pessoas que curtiam a banda desde os anos 1980, muita gente com menos de 30 anos e também muitos menores de 14 anos. Afinal, o TNT sempre foi uma banda altamente pop e acessível para todos. Refrões fáceis e radiofônicos, arranjos simples, com aquela pegada oitentista, esse é  o TNT. E eles fizeram questão de marcar essa volta trazendo ao palco Reinaldo Barriga, produtor da banda desde os primórdios. O cara que trabalhava no selo Plug da RCA, que segundo o próprio Charles Master, moldou o som cru dos piás porto-alegrenses para as rádios. Justa homenagem ao Barriga, que fez um belo discurso e anunciou cada um dos integrantes da banda, os guitarristas Tchê Gomes e Márcio Petracco, os bateristas Paulo Arcari e Fábio Ly, o tecladista João Maldonado, e é claro, o indefectível baixista Charles Master.

Dadas as devidas apresentações, a banda que revezaria os bateristas, e às vezes teriam os dois tocando juntos, abre com Paulo Arcari nas baquetas, começando o show com Entra Nessa, fazendo o Araújo delirar. Com um arranjo mais lento, e com uma equalização baixa, a canção teve sua execução prejudicada, ao menos para chatos como eu, mas a galera pouco se importou com isso. A banda já queima mais cartuchos com os  petardos Ana Banana e Identidade Zero. Parecia uma volta aos anos 1980, mas com a diferença que tinham ali uma banda 40 anos mais velha, com 20 anos de inatividade e com um Charles Master mais comportado que na sua última ida ao Araújo, mas nitidamente sem voz.  Seguem o baile com Febem, mais um clássico adolescente da época que o rock gaúcho deu as caras pro mundo.

O show segue com a ótima Nunca Mais Voltar e as não tão boas Quem Procura Acha e Noite Vem Noite Vai. Justiça seja feita, o TNT clássico gravou três discos, sendo o primeiro um ótimo clássico juvenil com músicas na ponta da língua, o segundo com boas músicas mas com inferior qualidade e um terceiro pretensioso e fraco  disco. E do segundo disco vem a pulsante Gata Maluca, com Charles visivelmente tendo dificuldade de cantar, seguindo com mais uma do segundo, a fraca Muito Cuidado e fechando um bloco com uma versão quase parando de Baby, que era um petardo no estúdio. Ficava nítida a falta de um som mais encorpado das guitarras da banda, talvez sabotadas por uma equalização fraca ou uma falta de punch, tanto do Tchê Gomes, hoje um exímio guitarrista da noite e Petracco quase um blues man, longe do roqueiro guitar hero juvenil de quatro décadas atrás.

O show embalou de novo com duas que estão na boca de todo mundo, Oh Deby, que na época embalava até festa de carnaval e uma das preferidas de rodas de violão, Estou na Mão, com direito a gaitinha de boca clássica.  Em alguns momentos Fábio Ly tocava, em outros era Arcari, mas parecia que mesmo com dois bateristas estava difícil de preencher o vazio sonoro da banda. Fica difícil criticar uma lenda que é o TNT, mas com versões em rotações mais lentas, e pegada quase zero, o show não me empolgava, por mais que as mais de 4 mil pessoas ali presentes estavam êxtase, mas sentiam que algo faltava.

O baile continua com a – por que não? – narcisista, mas divertida Charles Master, em que o próprio Charles Master fala dele mesmo, em mais uma  mostra que sua voz cada vez piorava. Na sequência de músicas, após esses dois clássicos, também houve mais uma coisa que me encasquetou: como a banda pode ter escolhido tão mal a seleção de repertório? Emendou três canções, sendo duas do segundo disco, as fracas Dentro do Meu Carro e Tempo no Inferno, além de Tudo no Ar, que fez parte do aclamado disco ao vivo do início dos anos 2000. Não preciso dizer que foi uma hora de sentar, ir buscar chopp e encarar as longas filas de banheiro. Surge um Desse Jeito, do primeiro disco, mas também em versão lenta e a coisa piora com a obscura Você Me Deixa Insano, do fim do primeiro término da banda em 1993, e a música Daqui pra Frente, do terceiro disco, em mais um momento sem tesão do espetáculo.

Mas é claro que não posso negar que tiveram momentos emocionantes no show, a galera cantou muito junto os refrões, foi regida por um maestro Charles Master, que tem um quê de maestro das massas, Tchê Gomes e Petracco fizeram grandes duos nas 6 cordas, e Maldonado mostrou, quando preciso, ser um grande tecladista. Também teve aquele momento de luzes de celulares e isqueiros ligados iluminando o super lotado Araújo Vianna. Talvez o que pode ter acontecido, é que a banda não mensurou completamente a dimensão que a volta tomou. Vinte anos sem tocar juntos requer preparação, e acredito que nem eles pensaram que o show seria esse sucesso de público, o que intimidou a banda de certa forma, apresentando um show irregular, que não tinha pernas para duas horas.

Mas com A Irmã do Dr. Robert que emocionou o povo e o sucesso mais “recente” O Mundo é Maior que teu Quarto, a banda novamente  tomou rédeas do público, fazendo todo mundo participar, cantar e dançar, culminando com o outro clássico dos barzinhos do Rio Grande do Sul, a de tão tocada e hoje quase insuportável Não Sei. Mas aí é gosto e a galera é apaixonada pela música.

Para o bis, mais uma pisada feia de bola, e usando um trocadilho idiota, um vacilo, quando a banda toca a fraca Vacilou, queimando um cartucho em tão importante momento. Ainda faltava algo e Charles chama Reinaldo Barriga, que mais uma vez se junta à banda, para tocar aquele clássico eterno do rock gaúcho, Cachorro Louco, pra botar a galera pra enlouquecer de vez e finalizar o tão esperado show do retorno.

O show do TNT realmente foi uma noite histórica. Ter o privilégio de ver uma banda que marcou uma geração e é responsável por inúmeros hits, que mesmo quarenta anos depois, ainda estão na boca do povo, não é algo que se assiste todo dia. Como falei antes, talvez nem a banda imaginaria que era tão amada e importante, e tanto a preparação do repertório, o entrosamento, a capacidade individual e a própria equalização de som poderiam ter tido mais um pouco de esmero. Ficamos na expectativa de se a banda, como anunciara no palco, vai continuar a fazer mais shows, e quem sabe, teremos mais chances de ver o TNT e tirarmos a febre se foi mais a ansiedade e espera que gerou um show tão aquém ou é a realidade atual dos caras. 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

Written By
Lauro Roth