The Wailers no Araújo Vianna em Porto Alegre

E não é que o The Wailers voltou ao Brasil? A lendária banda que acompanhou Bob Marley, e seguiu com alguns membros da era de ouro por muitos anos, mesmo mais de quarenta anos após a morte do rei do reggae, ainda segue o legado das imortais canções do poeta jamaicano. Com uma formação que do mais próximo do original ainda temos Aston Barrett Jr., filho do lendário baixista Aston “The Family Man” Barrett, que hoje segue como bandleader do grupo, está de volta para mais uma tour pelo Brasil. Perdi as contas quantas vezes tocaram por aqui, mas no Rio Grande do Sul, quase uma sucursal da Jamaica nos anos 1990, eles vieram um bocado de vezes. Fazendo uma homenagem a coletânea Legend, de 1984, que quarenta esse ano, os Wailers, quinta passada, fizeram mais uma apresentação no Araújo Vianna, numa noite esfumaçada, vibrante e com reggae de primeira, que conto agora.

Com um bom público, de pessoas da mesma faixa etária da idade do disco homenageado, tivemos o competente show da Diretoria, uma das melhores bandas de reggae do Rio Grande do Sul. Como nota negativa é que o som estava extremamente alto, ensurdecedor, o que comprometeu a qualidade das canções do grupo. Mas quem tava lá era pra ver The Wailers, né? Devido ao filme da vida de Bob Marley, Aston Barrett Jr., que atua como seu pai na película, resolve trocar a bateria e assume o baixo da banda e o legado de líder do seu pai. Às 21h40min (atraso forte para uma banda de fora) a lenda, ou que sobrou dela, subiu ao palco, para delírio de uma galera com a cabeça feita e pronta para uma celebração de reggae. A banda hoje tem Mitchell Brunings, que foi descoberto no The Voice holandês, com um dos timbres de voz mais parecidos que já ouvi do Bob Marley, nos vocais entrou com tudo com o clássico Lively Up Yourself, curiosamente canção que não faz parte do disco de 1984. Enfim, serviu pra levantar uma plateia que sabia palavra por palavra dos sucessos do Bob Marley. E não tem como não ser showzaço, ainda mais com eles tocando depois Is This Love e No Woman no Cry,  dois gigantes sucessos.

A qualidade do som estava excelente, tudo na medida certa, pulsante e cortante como o reggae deve ser e a banda com Teena “Tamara”’ Barnes e Tameka James abrilhantando os backing vocals, Wendel “Junior Jazz”’ Ferraro na guitarra, Carl Benjamin na batera, Andres Ipes Lopez nos teclados, Owen “Dread” Reid, antes baixista e guitarrista nessa tour, todos músicos com extrema qualidade executando com fidelidade cada clássico do Bob Marley.  Mitchell Brunings, com uma simpatia única, celebra Porto Alegre a todo tempo e segue com Stir it up, Waiting in the Vain e a incrível I Shot The Sheriff. A impressão é que estávamos ouvindo um disco na íntegra de sucessos, tamanha qualidade de som, ou como diriam velhotes como eu, escutando um som de CD.

O baile segue com Satisfy my Soul, essa com Aston Barrett assumindo a guitarra e vocais  e Owen Reid indo pro baixo, seguindo Three Little Birds e One Love. Não tem como não tirar o chapéu para a popularidade de Bob Marley, mesmo 44 anos após a sua morte. Fico até triste que o mediano filme de sua vida não tenha feito o sucesso e nem tenha a qualidade que merecia. Se fosse ao contrário, até abriria uma curiosidade pras novas gerações conheceram o gênio jamaicano.

O festival de canções que todos sabem cantar segue com a vibrante Jamming, com um medley com Generation, canção nova do Wailers do disco Evolution, lançada em 2024. Segue o show com Get up, Stand up e com a libertária Exodus, música determinante da fase mais popular da carreira do cantor jamaicano.

Chegando o bis, Brunning, chama Ferraro ao seu lado e junto com um animado Owen Reid, pedem a Porto Alegre para cantar junto, só com guitarra e voz, o hino Redemption Song, com direito a um Auditório iluminado por celulares e, logicamente, isqueiros. Um dos shows em que ainda o isqueiro é mais que necessário. Com a banda de volta, tocam uma trepidante versão de Buffalo Soldier e encerram o baile em clima de jam com um Could You be Loved longa, com direito a apresentação, solos e uma celebração, tanto no palco quanto na plateia, fechando com chave de ouro mais um show do Wailers, e que apesar de ser quase sempre a mesma coisa, é sempre um grande e divertido barato.

The Wailers é uma daquelas bandas que estão nos corações dos brasileiros. O reggae tem uma popularidade incrível no Rio Grande do Sul, que possui como legado grandes bandas locais do estilo e que tiveram a cabeça moldada desde os anos 1990 por Legend, essa coletânea celebrada na turnê Bob Marley, em que todas as canções fizeram sucesso por aqui. Aston Barrett segue o legado do pai, com a responsabile de um cara que viveu essa história e tem a vontade de espalhar a música e a mensagem do Bob Marley por muito tempo. Por mais que muitos ainda possam achar que o Wailers é um pastiche, ou caça níqueis, eu ainda observo a sintonia que o público tem com a banda, um sentimento de respeito pela história da banda, que mesmo tendo pouca similaridade com suas origens que advém dos anos 1960, ainda faz muita gente feliz e tem um sentimento verdadeiro de carinho que a banda ainda retribui com muita competência, talento e muito coração.

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