Crescemos ouvindo contos de fadas, algumas parecem se passar na mesma Floresta Encantada, outras parecem surgir de mundos diferentes. Muitas releituras desses clássicos tentam encontrar conexões entre as histórias.
A ideia principal do filme “Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos”, dirigido por Branda Chapman e escrito por Marissa Kate Goodhill, segue essa lógica, mas com o tom dramático mais forte do que o da magia. No Brasil o filme está sendo distribuído pela Imagem Filmes, chegando aos cinemas (e somente lá) hoje, dia 03 de junho.
A premissa é que Alice no País das Maravilhas e Peter Pan teriam nascido da mesma tragédia familiar, Alice e Peter seriam irmãos e cada teriam interpretado essa tal tragédia da sua forma, o que guiou suas vidas.
A família Littleton viviam felizes num lugar lindo, rodeado de natureza. O pai, Jack, é artesão, vive de fazer lindas réplicas de embarcações, o que permite a família ter recursos para viver confortavelmente, mas ele mesmo já teve sérias dificuldades financeiras. A mãe, Rose, vem de uma família da elite, teve uma educação digna da realeza, mas isso não a impediu de criar seus três filhos cultivando a imaginação e a criatividade.
David, Peter e Alice são os filhos. David, o mais velho do trio, ele é o mais inteligente e, por isso, recebe muita atenção da tia (irmã de Rose), além de, aparentemente, ser o mais querido. Peter sente um pouco de competição por isso, uma vez que sua inteligência está muito mais conectada às atividades criativas, não às matérias da escola, ainda assim ele ama o irmão. Alice tem uma admiração gigante por David, mas também compartilha do espírito aventureiro e imaginativo de Peter.
A tal tragédia família é a morte de David. Ele e Peter vão brincar de pirata no barco que encontraram no lago próximo de casa, mas David morre afogado ao cair na água.
Nesse momento a família enfrenta o luto de formas diferentes. A mãe se torna fechada para os outros filhos, amarga enquanto não consegue assimilar a ausência do mais velho. O pai volta ao vício de antigamente, as cartas, colocando-se em uma situação delicada junto com sua família.
As relações entre mãe e filha (Rose e Alice) e pai e filho (Jack e Peter) é que fazem deles os personagens das histórias clássicas. Rose sempre foi amorosa com Alice, mas durante o luto ela negligenciou um pouco, deixando espaço para sua irmã incutir algumas ideias ruins na sobrinha, esse conjunto de ações fez com que Alice preferisse fugir para um mundo de fantasia, preferindo acreditar que David voltaria e tudo seria como antes.
Os problemas financeiros de Jack pareceram para Peter fados que David resolveria, caso estivesse vivo, então ele decide ser o responsável, tentando vender o relógio do pai para conseguir dinheiro rápido. O que ele e Alice (que insiste em o acompanhar na aventura) não sabiam que estariam se metendo em uma confusão antiga, cuja extensão eles sequer saberiam mensurar.
O dono da loja de penhor era a mesma pessoa a quem Jack devia há anos, que vem a ser também seu irmão, James. Diferente de Jack, James é frio e violento, não tem misericórdia com nada, usa a situação para cobrar antigas dívidas (não só financeiras).
Esses momentos vão se desenrolando aos olhos de Peter e Alice, que têm entre 8 e 10 (mais ou menos), muita imaginação e ainda não sabem bem lidar com sentimentos como o luto. Na mente dessas crianças, acostumadas com as estórias fantásticas contadas pela mãe na hora de dormir, algumas coisas vão além da realidade.
Então podemos ver uma embarcação enorme no lugar de um barco emborcado no lago, espadas no lugar de gravetos, uma fadinha no lugar de um pequeno sino de cobre (sim, é a Sininho), uma porção mágica no lugar do licor da mãe, um terrível capitão no lugar do tio, dentre tantas outras coisas.
O filme realmente é muito mais dramático do que outros do gênero, não é um live-action de nenhuma das estórias, mas é muito gostoso de assistir e ir identificando os símbolos de cada um desses clássicos. No final entendemos que o País das Maravilhas nada mais é do que um pedacinho da Terra do Nunca, que Alice e Peter se unem na imaginação para nunca esquecerem de sonhar, sempre homenageando David.
O filme é todo narrado por uma Alice já adulta, agora Alice Darling, mãe de Wendy e de mais dois meninos … Já sabem onde isso vai dá, né?!
Alice é vivida por duas atrizes. A versão aventureira de 08 anos, ainda uma Littleton, é interpretada por Keira Chansa, conhecida até então pela série “Os Irregulares de Baker Street”. A adulta, já assinando Darling, é interpretada por Gugu Mbatha-Raw, conhecida por ter sido a Plumette no live-action de “Bela e a Fera” e estará na série “Loki”.
David é vivido por Reece Yates, conhecido pela série “Les Miserábles”, Peter é interpretado por Jordan A. Nash, conhecido por ser o filho do Gênio da Lâmpada e Dalia no live-action de “Aladdin”.
O pai, Jack, é interpretado por David Oyelowo, famoso por filme como “O Reino Unido”, “A Rainha de Katwe”, “Selma” e “Mundo em Caos”, além de também ter estado na série de “Les Miserábles”.
A mãe, Rose, é nada mais, nada menos, que Angelina Jolie, nem precisaria de apresentações, mas … Ela é famosa por filmes como “Garota, Interrompida”, a saga antiga de Lara Croft e por ser a perfeita Malévola nos dois filmes live-actions da fada madrinha de Aurora. Ah, também está no elenco de um dos próximos filmes da Marvel, “Os Eternos”.
Antes de continuar preciso fazer esse comentário: curioso terem nomeado os pais dessa família de Rose e Jack, justamente descritos como uma mulher da alta classe da sociedade e um homem da classe operária. Pareceu um easter egg de “Titanic”.
O braço direito de Rose, a criada que ajudava na casa e com as crianças, Hannah, é vivida por Jenny Galloway, conhecida por uma carreira nos palcos, mas também esteve presente em filmes como “Grande Garoto” e “John English”, também esteve no elenco de “O Gambito da Rainha”.
A irmã de Rose, Eleanor, é vivida por Anna Chancellor, conhecida pela participação em “Downton Abbey” e em filmes como “Uma Beleza Fantástica”. Um dos homens de James, irmão de Jack, que é visto como pirata por Peter e cujo nome é Smee (o que faz todo sentido) é vivido por Ned Dennehy, conhecido por séries como “Good Omens”, “Outlander” e, lógico, “Peaky Blinders” (sempre tem um blinder na minha vida).
O elenco já estaria estreladíssimo do jeito que está, mas ainda recebem a participação especial de Michael Caine, conhecido por filmes de vários gêneros, desde “Miss Simpatia” e “Austin Powers” até os filmes de “Batman” de Christopher Nolan, com seu icônico Alfred Pennyworth.
Aliás, uma certeza que se tem quanto aos filmes de Christopher Nolan é que veremos (ou ouviremos) Michael Caine!
Até mais.
Confira o trailer legendado do filme: