Sr. e Sra. Beresford – “Sócios no Crime”

Os romances policiais ganharam o gosto popular há muito tempo e Agatha Christie é, possivelmente, uma das “culpadas” por essa popularização. A Globo Livros resolveu republicar alguns de seus clássicos, entre eles “Sócios no Crime”.

Neste livro o casal Tuppence e Tommy Beresford, que já apareceu em obras anteriores, resolvendo alguns mistérios, agora estão muito bem casados e confortáveis. Tommy tem um cargo alto no Serviço Secreto Britânico e Tuppence era só mais uma esposa da alta classe.

Mas essa não era vida para eles, afinal não tinha a emoção que eles queriam!

Por sorte, a Scotland Yard precisava de alguém para auxiliar em uma empreitada. Era o seguinte, algo de estranho acontecia na Agência de Detetives do sr. Blunt, mas o próprio sr. Theodore Blunt, dono da agência, não era muito útil para esclarecer o assunto. Já estava até longe, sob proteção.

A missão de Tuppence e Tommy era tomar de conta da agência, mostrando que ainda estava em atividade, para que o tal esquema fosse interpretado e quebrado. Tommy, então, se tornou o próprio sr. Blunt e Tuppence a srta. Robinson, a sua secretária particular. Eles levaram também o jovem mordomo, Albert, que se tornou o contínuo da agência (algo como recepcionista).

As ordens foram claras, eles precisam prestar atenção na correspondência, caso chegasse carta azul eles deveriam fazer cópias e mandar os originais para a Scotland Yard. Outro alerta era se alguém chegasse procurando pelo número 16 (falando como se fosse em código). Mas, enquanto isso, eles poderiam assumir os casos que quisessem.

Tuppence e Tommy ficaram animados com a missão, só colocando uma condição entre eles: não fariam casos de divórcio. A partir daí eles começaram a buscar formas de praticar seus intelectos, encontrando nos clássicos literários de investigando as técnicas e os trejeitos de verdadeiros investigadores.

Fica claro que eles não são profissionais, mas se inspiram em grandes nomes, mesmo que fictícios, para solucionar os casos que apareciam. Para cada caso um investigador diferente, Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle, dr. John Evelyn Thorndyke, de R. Austin Freeman, Dennis Riordan e Tommy McCarty, de Isabel Egenton Ostrander, Thornley Colton e Sydney Thames, de Clinton H. Stagg, Brown, de G. K. Chesterton, Bill Owen, de Emma Orczy, Gabriel Hanaud, de A. E. W. Mason e Hercule Poirot, obra prima de Agatha Christie.

Tuppence e Tommy investiam em sua propaganda, fazendo com que seus clientes falassem bem deles, fizessem deles profissionais. De fato, eles conseguiram solucionar bons mistérios: o assassinato de uma dama pelo próprio marido, mas querendo colocar a culpa no amante, pérolas desaparecidas, a morte de uma famosa atriz, um álibi cruzado e até a razão de um “poltergeist”.

No fim, eles conseguiram ajudar a Scotland Yard com o tal envelope azul e a pessoa procurando o número 16, mas sem antes terem arriscado as próprias vidas!

Esse é o primeiro romance policial que eu leio, já vi filmes e conheço várias das histórias, mas nunca tinha lido e tinha algumas expectativas. A maioria foi cumprida, são histórias emocionantes e que fazem sua mente trabalhar junto com os personagens, só tenho uma pequena reclamação.

Nas histórias que vi por filme e série (vi de Sherlock Holmes e de Poirot) as suposições são confirmadas, mostrando como se fosse em flashback. Sei que a linguagem muda quando as histórias saem dos livros e vão para as telas, mas senti falta dessa “confirmação” nesses casos de Tuppence e Tommy.

Eles têm soluções incríveis, coisas que me surpreenderam, mas nem sempre aparece a confirmação dessas soluções. A que me fez sentir mais falta foi a do caso de “poltergeist”, na verdade o capítulo é intitulado “Casa Vermelha”. A dona da casa, usada como pensão, os procura, fala dos acontecimentos estranhos, o que tem afastado seus hóspedes e, por isso, tem ficado sem renda, mas que isso nem é o mistério maior.

Ela diz que a casa tem dois compradores em potencial, um aparentemente já até desistiu, mas ela acha que os dois são uma só pessoa e era isso que ela quer que eles investiguem. Eles vão até a tal Casa Vermelha, falam com os moradores e empregados, sentem um pouco dos acontecimentos estranhos e pegam alguns documentos.

Descobrem que a dona antiga, tia da atual, deixou dinheiro enterrado em algum lugar e até conseguem encontrar o dinheiro, fazem uma resolução incrível sobre toda a situação. Contudo, não se fala se os dois compradores são realmente a mesma pessoa nem se o tal poltergeist é real ou não!!!

Complementando a ala das reclamações, falei que só tinha uma, mas tem outra. Percebi que a figura feminina ainda não era valorizada como deveria, muito pelos costumes da época. Por vezes as teorias de Tuppence foram colocadas de lado por Tommy, mas eram exatamente o que poderia resolver o caso no final.

Mas vale a pena ler, não chega a realmente atrapalhar a trama em si, porque tem a emoção por trás e aqueles enigmas próprios de romance policial. E tem essas referências de outros autores e personagens emblemáticos, que fazem você querer ler mais dentro do gênero.

Não sei se foi intenção de Agatha Christie, mas eu interpretei essas referências como homenagem aos autores que serviram de inspiração para ela, sendo menções honrosas por essa “contribuição”. Nada mais humilde do que mostrar que se inspirou em alguém e agradecer de alguma forma.

Esta obra ganhou uma série da BBC1 em 2015, ano em que foi comemorado os 125 anos da autora. Atualmente a série é disponibilizada pelo streaming da Globo, a Globo Play.

Ah, e finalmente eu consegui entender uma piada interna da série “Suits”. Louis Litt sempre fala que ele e Harvey Specter são como Tommy e Tuppence e eu nunca entendia. Ok, ainda é estranho, mas pelo menos entendo de onde ele tirou a referência.

Até mais!

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