Lendas urbanas dão pano (e roteiro) para muitas obras. Slender Man é uma delas que, inclusive, já virou até game. A história do homem sem face que sequestra jovens é algo que tem potencial e agora chega aos cinemas. Com o sugestivo título de Slender Man: Pesadelo sem rosto, esse filme da Screen Gems seguiu mais a linha do suspense do que o terror propriamente dito.
A trama mostra a vida comum de quatro adolescentes de uma cidade do interior dos EUA, meninas cujas vidas estão baseadas em futilidades, amizades, flertes, os altos e baixos da vida familiar e os estudos. São, em suma, garotas comuns. Essa rotina só é quebrada quando elas resolvem assistir a um vídeo na internet que incita a invocar o sombrio Slender Man. É a partir daí que a brincadeira sai e entra o suspense, já que elas realmente alcançaram o sombrio ser através do vídeo e, como não podia deixar de ser, há um preço a ser pago por tal ousadia.
Vou partir do pressuposto de que vocês tenham assistido ao aterrorizante It – A Coisa (o link leva para a crítica que fiz dele). Bem, são longos e dolorosos momentos de horror em It. Há coerência em sua história, nos efeitos e na malignidade do monstro. Já em Slender Man, apesar do apuro dos efeitos e de uma tensa trilha sonora, faltou uma criatura realmente assustadora. A simples citação de um homem gigantesco, esticado e com tentáculos (não posso esquecer da ausência de face) dá arrepios, só que isso quase não acontece no filme, o que é uma pena.
Agora, para ser honesto, vou explicar o que para mim não fluiu no filme.
A história.
Um sombrio vídeo circula pela internet. Nele, há uma suposta invocação de uma criatura maligna, responsável pelo desaparecimento de incontáveis pessoas ao longo da história. Apesar da aparente brincadeira, quatro garotas resolvem testar a veracidade dessa história e, unidas para tal, fazem exatamente o que o vídeo determina, mas nada acontece… ao menos por algum tempo.
Desavisadas sobre o real perigo de seus atos, as garotas retomam suas vidas e problemas, sem qualquer noção de que elas liberaram uma entidade ancestral, sedenta por medo e almas. Elas liberaram o Slender Man.
A partir daí, fica claro que as tragédias acontecerão em rápida sucessão, menos para as garotas. Vamos falar sobre o que ocorre…
Rede de intrigas.
Como a maioria dos adolescentes, nada é fácil. Mesmo diante de um provável assassino sobrenatural, elas continuam a viver normalmente. O romance é aparente em algumas cenas (inclusive na melhor do filme onde o terror é parcialmente mostrado, sem a necessidade de usar o Slender), os estudos continuam, as fofocas em redes sociais existem e a vida familiar prossegue. Isso é justificado pela inexistência de mortes (só desaparecimentos até então).
Quando a primeira das adolescentes some (sem explicação para os moradores locais, mas óbvio para o espectador), o temor se instala entre as três restantes. Mais pesquisas, uma estranha mulher que se comunica por mensagens de texto – chat – e algumas nuances sobre o monstro são apresentadas para que foquemos no alcance do “sequestrador”.
Frente àquilo exposto aos poucos pela mulher anônima, as sobreviventes buscam desvendar um quebra-cabeça mais complexo e letal do que elas imaginavam. Como sobreviver a um predador silencioso, invisível e que conhece nossos medos melhor que nós mesmos? Essa é mais urgente resposta que elas precisam alcançar.
Com base nessa premissa e tendo como bases filmes como Mama, o próprio It , Corra!, o primeiro Jogos Mortais e até animes do porte de Kakurenbo, acreditei que a trama iria por um caminho infinitamente mais sombrio, porém fica clara a escolha de algo mais “teen” por parte do roteirista David Birke e do diretor Sylvain White. Faltou mais medo e tensão que, infelizmente, foram substituídos por cenas clichê e um suspense que oscila entre o mediano e o ruim.
Como o próprio subtítulo acima entrega, aparentemente houve um desenvolvimento da história em prol das intrigas em redes sociais e na vida real, o que pôs o terror (aquilo que queríamos) quase fora da trama.
Ganha vulto o fato de que cenas mais violentas foram cortadas para que o lançamento do longa não impactasse tanto a audiência mais nova, algo que, na minha opinião, foi um erro.
Um final corajoso.
Não há como me prolongar muito nesta crítica sem entregar a totalidade da trama. Isto se deve, muito, à simplicidade da mesma. De qualquer forma é fácil afirmar que, ao menos, o final foi corajoso. E o que eu quero dizer com coragem? Basicamente não há piedade por parte do roteirista quanto ao destino das adolescentes. Elas escolheram um caminho e terão que pagar por ele. Porém o melhor está na ausência de explicação para o monstro assassino. Ao deixar essa lacuna para que o espectador elabore suas próprias teorias, David Birke fugiu das já costumeiras explicações absurdas que certos filmes assumem para “justificar” a criatura ou assassino. Não há motivação para algo que é uma força da natureza, uma maldição despertada pelos anseios sombrios da humanidade… e isso fica claro durante todo o longa.
Nota final.
Caso você esteja procurando um filme de terror, aquele que é capaz de lhe tirar o sono, certamente Slender Man não se encaixará em seus anseios. Por sua vez, caso deseje ver um suspense leve que conta com a sempre sinistra presença de Javier Botet (Mama, Invocação do Mal, Rec, It – A Coisa), esse será um bom filme para entreter.
Por conta das atuações medianas, efeitos pouco eficientes e do roteiro que optou por um caminho contrário a tudo que esperávamos, Slender Man é um filme que não tem o potencial de se incluir no rol das obras macabras que ganharam fama com obras como O Exorcista e tantos outros, infelizmente.
No elenco estão Joey King (Wren), Julia Goldani Telles (Hallie), Jaz Sinclair (Chloe), Annalise Basso (Katie), Kevin Chapman (Senhor Jensen), Javier Botet (Slender Man), Adrian M. Mompoint (Jack).