MÚSICA

Seu Jorge – Baile à la Baiana – Araújo Vianna

Seu Jorge – Baile à la Baiana – Araújo Vianna
  • Publishedmaio 26, 2025

Seu Jorge é o tipo de artista completo. Aqueles que batem escanteio e ainda tem tempo de cabecear para o gol no mesmo lance. Com uma carreira premiada e consolidada no cinema, é compositor, intérprete, toca instrumentos e faz dos seus shows uma grande festa. Ainda tem tempo para lutar por causas sociais e contra o racismo incrustado na sociedade brasileira. Mas o filho de Belford Roxo não parece satisfeito com tudo isso, sua mente inquieta não o deixa parar e ele se renova. O seu último disco, lançado no início do ano, Baile à la Baiana, faz uma conexão do suingue da música carioca com os ritmos do alto astral da Bahia. E para mostrar seu novo trabalho, Seu Jorge juntou uma big band com 16 músicos, dois cantores que fazem parceria no projeto e colocou seu show para rua. Porto Alegre foi uma das primeiras a receber essa união Rio de Janeiro – Salvador na noite de sábado passado, no Araújo Vianna. E o NoSet, completando 100 coberturas no Araújo Vianna (juntando os outros locais, dá muito mais), esteve lá, nessa data histórica para nós, e contamos o que Seu Jorge apresentou para a gauchada.

Como diria o Raul Seixas, eu também vou reclamar. Reclamarei sempre desses irresponsáveis atrasos em shows nacionais aqui no estado. Com a apresentação marcada para às 21h, a banda teve quase 50 minutos de atraso para subir ao palco. Não tem como manter um pique de tanto atraso para o público que espera desde as 21 para um show. Um verdadeiro tiro no pé da produção do artista, que acaba prejudicando o público e a si mesmo com o desinteresse da galera devido ao cansaço pelo atraso. Mas voltando ao show, às 21h 50min, o Conjuntão Pesadão do artista sobe ao palco, com um telão colorido ao fundo, muitas luzes e praticáveis para os artistas. Um clima de show de Tim Maia, numa mistura de Vitória Régia, Black Rio e Banda do Zé Pretinho. E eis que surge, todo de branco e óculos escuros, o astro da noite, com sua indefectível voz grave. O baile começa com uma nova a pulsante Sim Mais. Sem quase parar, já emenda a ótima Sábado à Noite, e num ritmo frenético, manda ver com Batuque. Um cartão de visitas e tanto, com três novas pedradas incríveis e com o Araújo de pé dançando. 

Seu Jorge mal respira e ataca de Gente Boa se Atrai, mais uma ótima no novo disco, essa com uma pegada mais baiana, que é a temática do novo álbum. A galera, ainda em êxtase, fica mais feliz ainda quando ele toca seu sucesso das antigas, Mina do Condomínio. Ele volta para 2001 e emenda dois clássicos da carreira, Chega no Suingue e Carolina. Até aí o show estava num ritmo alucinante, excelentes novas músicas, mescladas a clássicos, com Seu Jorge comandando a massa com seu incrível Conjunto. Mas a partir daí o cantor passa a dividir os vocais com seus dois parceiros e inspirados no disco. Peu Meurray e Magary Lord, que já estavam cantando juntos, assumem algumas canções. As canções novas apresentadas não têm o nível das primeiras, Chama o Brasil pra Dançar, Shock, que mais lembra uma cançoneta de carnaval baiano, mas que funciona ao vivo. Seu Jorge retoma as rédeas com Amiga da Minha Mulher e sua eterna dúvida se pega ou não pega.

Mas o show já murcha novamente com músicas como Lasqueira, Dia de Mudança, sempre intercalando com a dupla de cantores baianos. A coisa desanda de vez, ou melhor, o público já cansado pelo atraso, começa a sentar e dispersar quando Meurray e Lord assumem músicas como Circulou, sucesso baiano que não chegou muito para o Sul, e a fraca Vida, de Gilberto Gil. Mudou Tudo, outra fraca canção do disco novo, só piora a situação que fica caótica quando um dos cantores interpreta Vai Dar Certo, o samba reggae que nem com Ivete Sangalo fez sucesso. Depois de um momento muito irregular, onde Seu Jorge terceirizou o show e desperdiçou o espetacular Conjuntao com fracas canções, o prumo do show é retomado quando surge a imagem do guerreiro São Jorge no telão e ele canta o sucesso Alma de Guerreiro, tema de fé e novela.

Com a galera animada de novo, a banda sai de cena para um bis demorado. Explicado porque Seu Jorge muda de roupa e fica mais próximo das vestes da banda, com uma indumentária afro. Ele toca com violão em punho a lindíssima e autobiográfica São Gonça pra delírio do público. Chega ao palco o baixista Sidão Santos, ele entoa o sucesso que fez com parceria com Ana Carolina, É Isso Aí, onde mostra toda a sua potência vocal na singela interpretação. O Conjuntão volta ao palco e eles tocam a eletrônica e hipnótica Quem Não Quer Sou Eu, mas ganha mesmo a plateia de novo com o sucesso Na Rua, na Chuva, na
Fazenda, de Hyldon. Em um momento bonito do show, todos os integrantes (possíveis) da banda, vão à frente do palco e tocam lado a lado Felicidade, que tem ainda no final uma inserção de Kashmir, do Led Zeppelin, com o peso da guitarra de Fernando Vidal. Com todos lado a lado novamente, com direito à dancinha e coreografia, tocam o maior sucesso da carreira de Seu Jorge, Burguesinha, para delírio de uma plateia visivelmente cansada, encerrando assim o Baile de Seu Jorge.

O Baile à la Baiana do Seu Jorge posso resumir como um show de altos e baixos, que foi auto-sabotado pelo atraso do artista. Mesclando suas canções novas, algumas ótimas, outras nem tanto, o que é normal, com alguns sucessos de carreira, o problema mesmo foi dar muito espaço no show para seus dois escudeiros, que segundo ele, foram responsáveis pela criação do disco. Meurray e Lord têm talento, mas a galera foi lá pra ver o Seu Jorge e sua banda maravilhosa. Quando o show pegava no tranco era de uma vibração incrível, mas às vezes o espetáculo perdia o gás de uma maneira que provoca bocejos e uma total dispersão do público. Mas um show do Seu Jorge sempre é uma aula de swing, groove e batidas que fazem até os mais tímidos se remexerem, e sua voz continua um show à parte, comandando a massa, dançando e esbanjando charme e simpatia. Ainda prefiro o lado carioca que o baiano dele, mas aí é gosto pessoal. Um show para a história, dessa vez nem tanto pela performance e sim, para nós do NoSet, que pela centésima vez, desde 2022, temos o privilégio de estar num evento musical no Araújo Vianna. Cada um diferente do outro, uma história nova sendo escrita e registrada por palavras, cliques e memórias! E que seja apenas o começo!

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

Written By
Lauro Roth