CULTURA

Sebastião Salgado: o olhar que revelou a humanidade em sua forma mais crua e grandiosa

Sebastião Salgado: o olhar que revelou a humanidade em sua forma mais crua e grandiosa
Foto: Francesc Melcion/Divulgação
  • Publishedmaio 23, 2025

O mundo perdeu nesta sexta-feira (23) um de seus maiores cronistas visuais: o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado faleceu na França, aos 81 anos. Ele vivia em Paris, cidade onde construiu boa parte de sua carreira e onde também se estabeleceu pessoal e artisticamente. Sua morte marca o fim de uma era na fotografia documental — mas seu legado, feito de imagens inesquecíveis, permanece eterno.

Nascido em Aimorés, no Vale do Rio Doce, interior de Minas Gerais, Salgado cresceu em meio à paisagem rural do Brasil profundo. Esse ambiente marcou para sempre sua percepção estética e humana, moldando um estilo que combinava lirismo, denúncia social e profunda empatia. Mais do que um fotógrafo, ele se tornou um intérprete visual das alegrias, dores e contradições da existência humana.

Foto: Sebastião Salgado

Antes de se tornar fotógrafo, Salgado seguiu outro caminho: formou-se em economia e chegou a trabalhar para instituições internacionais. Foi somente nos anos 1970, já morando na França, que pegou uma câmera pela primeira vez. E a partir desse encontro transformador, jamais parou. A fotografia se tornou seu idioma e sua missão.

Ao longo de mais de cinco décadas, Salgado percorreu dezenas de países, atravessando continentes, florestas, desertos, zonas de guerra, campos de refugiados e grandes metrópoles. Seus projetos ganharam forma em séries fotográficas icônicas, como Trabalhadores, Êxodos, Gênesis e Serra Pelada. Seu estilo inconfundível — em preto e branco, com um domínio magistral da luz e do contraste — capturava o sublime e o brutal em igual medida.

Salgado ficou conhecido por dar voz e rosto às populações invisibilizadas: refugiados, migrantes, lavradores, mineiros, indígenas, vítimas da guerra e da pobreza. Sua câmera não era neutra: era um instrumento de denúncia, de poesia e de compaixão. Para ele, fotografar era mais do que registrar; era se envolver, entender, sentir.

Embora tenha documentado os horrores de conflitos e crises humanitárias, Salgado também se voltou, nos últimos anos, para a celebração da natureza intocada. Gênesis, uma de suas obras mais reverenciadas, foi um tributo à beleza selvagem do planeta, aos povos originários e aos ecossistemas preservados. O projeto refletia também sua preocupação crescente com o meio ambiente — preocupação essa que se traduzia em ações práticas, como o projeto de reflorestamento do Instituto Terra, fundado por ele e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, em sua terra natal.

Salgado colecionou prêmios e honrarias ao redor do mundo, incluindo títulos honorários, medalhas, e exposições nos maiores museus e galerias do planeta. Seu trabalho influenciou gerações de fotógrafos e artistas visuais, além de inspirar documentários, como O Sal da Terra, dirigido por Wim Wenders e Juliano Salgado, seu filho.

Foto: Sebastião Salgado

Sebastião Salgado se despede deixando um legado de imagens poderosas que atravessam o tempo e as fronteiras. Ele nos ensinou que, mesmo diante do sofrimento e da destruição, ainda há beleza, dignidade e esperança — e que a fotografia pode ser uma ponte entre mundos distantes, uma arma contra a indiferença e uma janela para a alma humana.

Written By
Matheus Gama