Saxon – Bar Opinião

Sempre procurei entender onde foi que a banda britânica Saxon saiu da curva ascendente do New Wave of British Heavy Metal no início dos anos 1980 e se tornou uma banda de segunda prateleira no estilo. No momento que os veteranos do Judas Priest dominaram a cena com British Steel, de 1980, o Iron Maiden e o Def Leppard corriam de igualdade com o Saxon, mas na metade da década a banda ficou pra trás nesse panteão de bandas. Mas mesmo assim, nunca deixou de ser um grande nome, com uma discografia de altos e baixos, com obras primas e alguns de gosto duvidoso, mas o mais importante: 50 anos na ativa e ainda produzindo muito e grandes discos. Leia-se o último no ano passado, Hell, Fire and Damnation, uma pedrada sonora impecável. Mas como equilíbrio entre passado e presente é fundamental, ainda mais pros fãs do metal, a banda retornou ao Brasil, para além de alguns sucessos, tocar na íntegra o clássico Wheels of Steel, de 1980. Em Porto Alegre, coube ao Bar Opinião a honra de receber os veteranos do metal em um show antológico, quinta-feira passada, e o NoSet não iria perder essa grande oportunidade de curtir essa passagem da banda na capital do Rio Grande do Sul.
Em uma noite movimentada, com duas bandas de abertura e previsão de mais de 1.200 pessoas na casa, coube à competente banda paulista Urdza realizar a abertura. Pena que pouca gente pode ver, e eu também fui um deles, que não tive esse prazer de prestigiar o quinteto de heavytrash. Pouco mais tarde com o bar mais cheio, coube à banda suíça Burning Witches fazer o show de abertura pro Saxon.



O quinteto conta Simone Van Stratten na guitarra, Jeaninne Grob no baixo, Lala Frischknecht na bateria, Laura Gundelmond no vocal e Courtney Cox na guitarra. Romana Kal Kuhl, em licença-maternidade, foi substituída por Simone. Por pouco mais de meia hora, elas fizeram um incrível show, com uma performance empolgante de Laura tocando suas principais músicas como Unleash The Beast, Dance With The Devil, The Dark Tower, The Spell of the Skull, Hexenhammer e Burning Witches. Um power metal com muito peso numa contagiante apresentação. Quisera que as bandas do Brasil tivessem metade da energia delas no palco… Pena que o microfone de Laura no início estava estridente demais, mas foi melhorando no decorrer do show, nada que tenha apagado o brilho da excelente apresentação.



Mas mais de mil pessoas estavam ali para ver a lenda do metal britânico. E com uma pontualidade condizente do país de origem, o Saxon subiu ao palco às 21h30min, mostrando que nem só de passado se vive, ao abriram com a canção que dá nome ao último disco Hell, Fire and Damnation, para delírio de um ensandecido Opinião. Sem muitas delongas voltam à 1983 com Power of the Glory e Backs to the Wall, do disco de estreia de 1979. Como novidade, vemos substituindo a lenda na guitarra Paul Quinn( que resolveu se aposentar) a outra lenda Brian Tatler, do Diamond Head, já em total sincronia com Doug Scarratt nas guitarras dobradas e os marcantes solos da banda. Biff Byford há 50 anos nos vocais da banda , está cada vez melhor, cantando muito e com uma imponente performance de palco. Segue o baile com Madame Guillotine e com a empolgante Heavy Metal Thunder, de um dos discos de 1980, o Strong Arm of the Law, essa cantada a plenos pulmões por um Opinião hipnotizado pelos veteranos ingleses. Nibbs Carter, o mais jovem da banda, tem uma da melhores performances de baixista que vi em anos. O animado músico dança, levanta o baixo, canta, não pára um segundo, tudo como se deve ser quando assistirmos a um show de metal. Dallas 1pm, do mesmo disco, segue o set, juntamente com Strong Arm of the Law, com direito à 1066, do último disco, na sequência.




The Eagles Has Landed, um pouco mais cadenciada, de 1983, dá uma segurada no show para Biff fazer um discurso de uma época em que não existia streaming, spotify e modernidades . Um era em que se ouvia um disco de verdade na íntegra. Mal termina o discurso, eles começam com o clássico Motorcycle Man, abrindo a execução do álbum Wheels of Steel na íntegra. Vale destacar o Nigel Glocker, com 72 anos, mandando ver na bateria, com uma técnica apurada e impecável, além de ser uma das melhores equalizações do instrumento que já ouvi no Bar Opinião, como diria meu pai, som de CD. E falando em CD, ou LP, eles seguem a ordem quase sem interrupção com Stand Up and The Coutes, 747, logicamente Wheels of Steel, que enlouqueceu o povo do metal que estava vendo seus herois das antigas de pertinho, com direito a Biff jogar garrafas de água na plateia. Em ritmo de motor de motocicleta e sem parar, segue Freeway Mad, o hit See the Light Shining cantada em coro, Street Fight Gang e uma das minhas preferidas, Suzie Hold On, em uma versão de arrepiar. A execução do disco se encerra com a ótima Machine Gun.


Depois da parada estratégica, a banda volta para o palco e o vocalista avisa que irão tocar mais umas, duas ou três músicas, começando com a clássica Crusader, de 1984, e seguindo com talvez o maior hit da banda, Denim and Leather, mais uma cantada aos gritos pelo povo. And The Bands Played On, do mesmo disco, aparece como surpresa no setlist original e o show se encerra com Princes of the Night, mais um petardo do Denim Leather, que segundo o próprio Biff Byford é o disco mais importante da banda, fechando com chave de ouro uma aula de metal.



E essa aula foi muito bem dada por professores que, se não tiveram o Olimpo como seus contemporâneos do Maiden e Leppard, seguem firmes por cinco décadas, mostrando vitalidade e unindo passado e presente num dos maiores shows de metal que já assisti na vida. Performance contagiante, peso, melodia, músicos excelentes, um front man poderoso, uma pegada de rock and roll pesado que lembra os também os seus contemporânoas do Motorhead, letras com embasamento histórico e sobre velocidade e motocicletas. Uma gigante banda subestimada, mas que não está nem aí e segue firme na sua jornada de heavy metal mundo afora. Sorte que nós brasileiros tivemos mais uma vez o prazer de ver esse quinteto em forma num show antológico!
