Samuel Rosa apresenta Turnê Rosa, no Araújo Vianna
Com o fim do Skank recentemente, uma das bandas de maior sucesso do Brasil nos últimos 30 anos, dava a entender que Samuel Rosa iria se dar o luxo de viver um período sabático e descansar depois de três décadas intensas em prol da música pop. Mas contrariando as expectativas e mostrando que fazer música é um vício, o cantor e guitarrista emendou um trabalho solo de inéditas, o disco Rosa, lançado no meio desse ano. Mal esquentando essa pausa, já montou uma competente banda e anda viajando esse Brasil varonil apresentando esse disco e obviamente intercalando sucessos do Skank. Samuel Rosa aterrisou com sua banda na sexta-feira passada no Araújo Vianna para mostrar ao povo gaúcho (sempre entusiastas do Skank) seu novo espetáculo, que mescla suas novas canções com hits certeiros da fábrica de boa música que era o Skank.
Confesso que esperava mais gente nessa empreitada do artista, como disse antes, Porto Alegre o Rio Grande do Sul sempre foram sinônimos de casa lotada para o Skank, e acredito que pouco mais de 2 mil pessoas (que não deixa de um bom público) estavam lá para prestigiar o mineiro. Por volta das 21h30min, sua banda, com sete musicos, sobe ao palco e sem muita cerimônia Samuel pega a guitarra e abre o show com Me Dê Você, do novo disco. Canção agradável, mas recepção fria da galera. Show segue com Aquela Hora e Tudo Agora, todas novas músicas do disco Rosa. Acho um desperdício, em tempos que público quer cantar junto e logo se empolgar, abrir com três músicas novas, demorando a decolar um show, mas estava nítido que Samuel queria aproveitar a chance e apresentar suas novas canções, mesmo com a frieza inglesa da plateia.
O show realmente pega no tranco quando começa a emendar sucessos de sua extinta banda. Amores Imperfeitos faz a plateia levantar pela primeira vez e uma sequência com Três Lados, Vamos Fugir e Canção Noturna, sucessos que os saudosos da banda mineira ainda querem muito ouvir. Acho um tanto pitoresca essa carreira solo do Samuel. Talvez ele queria um pouco de mais liberdade artística, sair um pouco das amarras de um formato de banda consagrada, ou quem sabe faturar mais mesmo, que não é nenhum problema. Mas o curioso é que ele montou uma banda nos mesmos moldes do Skank, não fugindo muito da sonoridade do grupo. O naipe de metais com Pedro Aristides, Pedro Motta e Vinicius Augustin são figuras carimbadas do Skank, o mesmo vale para Doca Rolim, baita guitarrista de apoio da banda e hoje guitarrista do Samuel. Completa o time o local Pedro Pelotas, do Cachorro Grande no piano e teclados, o baterista Marcelo Daí e Alexandre Mourão no baixo. Outro fato curioso é que Samuel mantém os arranjos quase na íntegra do Skank, não desconstruindo ou fazendo novas versões.
Segue o show com Ainda Gosto Dela, com direito a jam session e solo inspirado de Doca Rolim e emenda com mais uma do razoável álbum Rosa, Flores da Rua. Mas a coisa pega de vez com Balada do Amor Inabalável e Jackie Tequila, essa fazendo o Araújo delirar com esse reggae de primeira, da que foi pra mim a melhor fase do Skank, aquela dos anos 1990. O baile segue com Ciranda Seca (Dinorah), talvez a melhor música, ao menos para show, do seu novo disco, que combina bem com o sucesso Te Ver, da fase Skank e Acima do Sol.
Inclui mais uma do novo álbum Segue o Jogo, corroborando a tese de Dee Snider, do Twisted Sister, que música nova é o momento de ir ao banheiro ou buscar cerveja, e nesse caso, sentar. É triste dizer isso, mas o público de hoje em dia é muito pouco afeito a novidades e a memória afetiva e o mais do mesmo anseiam pelas antigas canções.
Samuel traz sua homenagem a Os Paralamas do Sucesso com Loirinha Bombril fazendo o Araújo levantar de novo e depois faz uma pausa para contar da sua parceria com o “ruivão”, o cidadão Nando Reis, com quem fez as próximas duas músicas, cantadas com vigor pelo povo, Dois Rios e Sutilmente. Em mais uma homenagem, dessa vez ao Ira, toca uma das melhores canções do show, um cover inspirado da ótima canção dos paulistas, Tarde Vazia.
Samuel é um mineiro falador, gosta de uma boa prosa, de causos, e acaba falando que a polenta gaúcha é uma das suas preferências gastronômicas do nosso estado, isso tudo para antecipar um bloco final com três pedradas musicais, a empolgante Saideira, Tão Seu e aquela música que está fazendo 20 anos e acho que foi um dos últimos sucessos populares que quebraram bolhas e fazem sucesso em qualquer público, o hino de autoajuda Vou Deixar. Momento de êxtase e delírio para as mais de 2 mil pessoas.
A banda sai de cena e deixa aqueles minutos de expectativa na galera, para voltar em seguida para o bis. No bis, Samuel conta mais um caso, envolvendo a noite de Porto Alegre do passado e como conheceu uns amantes de Beatles. Um deles era o vocalista da ex-banda de seu músico, Pedro Pelotas, e o outro é Marcelo Gross, guitarrista do Cachorro Grande, chamado para cantar Sinceramente, composição de Gross, em um belo momento do show, com os dois mandando ver na guitarra. Ainda tem tempo para um cover de I Saw Her Standing There dos Beatles, antes de Gross sair de cena. Por sinal, nessa carreira solo Samuel está muito mais solto na guitarra, mostrando ser um exímio guitarrista, característica que se inibia muito no Skank.
A casa vai abaixo mais uma vez quando toca Resposta, um dos maiores sucessos do Skank, mas em mais um momento de auto sabotamento, ou ânsia de mostrar seu trabalho novo, toca mais uma do Rosa, a fraca Rio Contra o Mar, literalmente derrubando a galera, que mais uma vez senta e boceja. Para acabar termina com uma versão com bateria eletrônica, menção a Billie Jean e um andamento menos empolgante do sucesso do ano de 1996, Garota Nacional, fechando o show, emocionando o artista e deixando o público feliz.Samuel fez um show impecável, tem uma banda excelente, um leque de sucessos para quatro horas de show, mesclado a um trabalho solo interessante. Mas esperava um melhor direcionamento de sua carreira, porque seu show parecia mais um cover de Skank, com algumas composições inéditas dele, e algumas mal colocadas na montagem do repertório. Talvez isso até se reflita no público de meia lotação, mostrando a força do Skank como banda e uma prova que ainda não sabemos o que Samuel quer da vida. Segue com um trabalho novo, interessante, mas que ainda não foi captado pelos fãs do Skank, o que nos faz pensar nas cenas dos próximos capítulos e naquele óbvio sentimento, de que ele está dando apenas um tempo e em breve se juntará de novo com Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti. Ele tem luz própria, mas ela brilha mais com os três ex-companheiros…
Crédito das fotos: Vívian Carravetta