Roupa Nova – Simplesmente Roupa Nova no Araújo Vianna
Se existe uma banda no Brasil que falar bem dela é chover no molhado, com certeza, essa é o Roupa Nova. Todos os adjetivos positivos são sempre muito bem-vindos em uma banda que, mesmo com alguns detratores no quesito letras e romantismo ou exacerbado das letras, tem que dar o braço a torcer para a qualidade técnica dos seis integrantes que há 45 anos estão na ativa e mais fortes do que nunca. Mas o Roupa Nova, como diz a canção do padrinho Milton Nascimento, Nos Bailes da Vida, gosta mesmo é de estar onde o povo está, mais precisamente, nos palcos. E foi no palco do Araújo Vianna que eles fizeram o primeiro de uma série de dois shows na capital gaúcha. Com o título de Simplesmente Roupa Nova, a banda promete uma interação bem íntima com seu público, num show mais simples e não menos competente. E esse show fui conferir na última sexta-feira de agosto.
Como de praxe, casa lotada, gente de todas as idades e um público fiel que acompanha a banda desde os idos dos anos 1980. Se no último show aqui na Capital o baterista Serginho não pode comparecer, esse ano a banda estava completa. Com um atraso de uns 20 minutos, com um palco à meia luz, decorado com abajures e cadeiras, num clima de sarau doméstico, o sexteto adentra ao palco. Sentados, em tom mais intimista, abrem o show com um surpreendente Whisky a Gogo, clássico que geralmente fecha o show, naquele clima de baile. Lógico que o Kiko não aguentou meio minuto e já estava de pé, de frente para a plateia, que também levantava. Aí começou aquele festival de canções que estão na mente do brasileiro há mais de quatro décadas, como Dona e Serginho encantando com sua linda voz, seguida de Linda Demais, em que Fábio Nestares está cada vez mais solto e cantando demais, emociona a plateia junto com o solo de guitarra que Kiko e Feghali dividem.





Na parada de sucessos tem lugar para Chama, que foi tema de novela e mais um show do Nestares. Seguindo no Trem Azul também provoca arrepios na galera com Serginho Herval e sua voz angelical mostrando porque é um gigante e quiçá um dos melhores bateristas do Brasil. Nando então assume as rédeas do show e discursa, faz um desabafo da merda que está o mundo, conflitos, essa divisão toda, mas pede, através da música, que as boas vibrações se mantenham como mote de nossas vidas e emenda Seu Jeito & Meu Jeito, um resgate de uma canção esquecida do álbum de 1988. Serginho segue emocionando com A Força do Amor e depois Cleberson Horst, com aquela abertura de teclados, anuncia A Viagem, música dele e com letra de Aldir Blanc, num momento mais mágico do show, com Serginho incrível nas levadas de bateria, cantando divinamente e aquele solo de guitarra do Kiko, que é um deleite melódico para os ouvidos. Não tem como não se encantar com o Roupa Nova. Meu Universo é Você mostra mais uma vez que Nestares substitui com perfeição o insubstituível Paulinho.
Não Dá, do disco de 1984, aquele que foi a ruptura da banda de uma MPB mais setentista para uma banda de pop romântica nacional, antecede um dos momentos mais legais do show. Feghali, como mestre de cerimônias, organiza a galera e pede para alguns sortudos fazerem perguntas para a banda. Uns perguntam como Linda Demais foi composta, qual o processo de criação para músicas em uma novela e uma menina pergunta o motivo de ser Roupa Nova o nome do grupo. Todas questões respondidas com paciência e bom humor pelo grupo nessa proposta de abrir um show para o calor do público, só uma banda como o Roupa Nova e essa simbiose com seus fãs poderia dar certo. Seguem o baile com Os Corações Não São Iguais e logo depois Nando dá seu show cantando maravilhosamente bem o sucesso Bem Simples. O show também serve para cada membro apresentar seus colegas de banda, em um show de elogios. Feghali então chama Serginho pra frente do palco e com viola em punho, avisa que irão tocar a difícil música com mais de 30 acordes que é Sapato Velho. Os seis, emulando o que fizeram no acústico de 2005, fazem aquela versão sensacional em formato desplugado, em mais um momento de contemplação do espetáculo. O solo de Kiko anuncia o super sucesso, a power ballad Volta Pra Mim, onde mais uma vez Nestares mostra, que como mesmo diz o Feghali, é um presente de Deus para a banda, e nesse momento, o Araújo de pé cantou junto que amava e iria gritar pra todo mundo ouvir, no caso, o Roupa Nova. E seguindo a toada de baladas maravilhosas, tocam A Lenda, que fez sucesso com Sandy e Júnior, e contam com a presença da gravação do cantor Daniel no telão pra dividir os vocais com eles.





Feghali fala de Abbey Road, o amor aos Beatles e os seis músicos, apenas com as vozes, cantam uma versão lindíssima de She’s Leaving Home, em mais um selo Roupa Nova de extrema qualidade, tocando o coração da galera. Homenagem então ao padrinho Milton Nascimento, que surge numa gravação do telão para cantar Nos Bailes da Vida. A Paz, versão de um sucesso de Michael Jackson, faz do Araújo uma árvore de Natal iluminada pelos celulares e marcada com palmas e braços erguidos. Chega então o momento que a banda manda o povo ir pra frente do palco e uma horda se desloca para frente dos músicos, começando o baile do Roupa Nova ao som de Clarear e uma versão sempre apoteótica de Coração Pirata, com um Nando emocionado, sempre falando “deu pra ti baixo astral, estou em Porto Alegre”, pra alegria dos gaúchos. O baile finda com Um Show de Rock and Roll com direito a dancinhas, caras e bocas do Kiko (um dos caras mais fotogênicos que conheço, sempre com expressões ótimas para cliques) e a galera cantando junto.






A banda dá aquela saída estratégica e volta para um bis diferente. Feghali comunica que irá acatar pedidos da galera para escolher músicas e a banda tocar trechos delas. A pedidos tocam Chuva de Prata, Amar É e o Tema da Vitória do Ayrton Senna, que foi gravado instrumental pela banda. Fecham os pedidos com Serginho cantando Anjo, pontuado pelo sax de apoios do excelente Zé Canuto, que há anos acompanha o grupo. Mas como Roupa Nova sem um Whisky a Gogo pegado não é Roupa Nova, a banda finda seu show repetindo, dessa vez com mais punch, aquele clássico que pode ser considerado uma das músicas mais conhecidas da história do Brasil, fazendo o Araújo Vianna dançar, vibrar e cantar junto, em mais uma noite embalada pelo melhor conjunto musical do Brasil.
Pode ser exagero ou opinião pouco isenta de fã, mas ver show do Roupa Nova é certeza de alegria, sucessos e algumas mesmices, mas por que não, né? Esses hits, orquestrados com maestria por Cleberson Horst, Serginho Herval, Kiko, Nando, Ricardo Feghali e Fábio Nestares, que sabem como poucos agradar quem é a razão deles serem que é o público. Uma cancha incrível, um talento musical em uma prateleira elevada, fazem deles sim a melhor banda do Brasil e que se depender da vitalidade deles, a alegria e a empolgação da galera, ainda irão alegrar muitos bailes de nossas vidas.





