Revivendo Clássicos: Love Story – Uma História de Amor, 50 anos

No filme “Esta Pequena é uma Parada” (Whats up Doc, 1972) o atrapalhado musicólogo Howard, interpretado por Ryan O’Neal, depois de encontros e desencontros atrapalhados encontra Judy, interpretada por Barbara Streisand, no avião. Aliviado, ele pede perdão a garota depois de todas as confusões que passaram, Judy responde: “Amar é jamais ter que pedir perdão!” Howard então de bate pronto responde: “Esta é a coisa mais idiota que ouvi na minha vida.” A cena clássica dessa excelente comédia de Peter Bogdanovich é uma parodia à celebre frase que Ryan O’Neal proferiu apenas dois anos antes no clássico filme Love Story (no Brasil, Uma História de Amor, subtítulo que nunca pegou), onde foi alçado de bom ator a um fenômeno mundial. A frase “Amar é jamais ter que pedir perdão” embalou os corações românticos no início dos anos 1970. O belo filme, um Saara romântico em uma Hollywood da época cada vez mais crua, violenta e realista, acabou com estoques de lenços fazendo muita gente chorar, completa suas bodas de ouro nesse ano.

A história do filme é simples. Narrado em flashback conta o romance entre Oliver Barret IV, filho de milionários que antes de entrar para a faculdade de Direito em Harvard conhece a humilde e geniosa Jenny Cavilleri, estudante de Música da faculdade de Radclife. Os dois, apesar do abismo social que os separam, se apaixonam e mesmo com contrariedade do pai de Oliver se casam e resolvem começar a vida sem privilégios com os dois batalhando juntos para sobreviver e Jenny abandonando a carreira acadêmica. A partir daí o filme conta o relacionamento comum a qualquer casal em qualquer canto da Terra: muito amor, companheirismo, doação, crescimento mutuo pontuado com brigas, dificuldade de relacionamento e teimosias, uma história comum. Oliver se forma, dá um plus na vida e o casal se muda para Nova York, quer formar família e aí vem a bomba: Jenny está gravemente doente.

Pode parecer estranho, mas 50 anos depois, Love Story ainda emociona por mais piegas e clichê que o filme possa parecer. Aliás, cada vez que revejo gosto mais do filme. O filme é todo de Robert Evans, o chefão da Paramount. Evans e o estúdio compraram o roteiro de Erich Segal, na contramão de tudo que ocorria no cinema. Era meio impensável que um filme de amor dramático poderia fazer sucesso naquela nova Hollywood que começava a dar as caras. Mas Bob Evans, executivo da Paramount, na época casado com Ali Mac Graw, queria um filme para ter sua esposa como protagonista e apostou na história. Contratou como diretor um quadrado realizador de estilo convencional, Arthur Hiller, para dirigir confiando na sua veia teatral para dar um clima ao casal central. Ele, Evans e o produtor Howard G. Minsky, tentaram vários atores, muitos negaram ou não passaram no teste até que chegaram no Ryan O’Neal, um ator rodado mas com pouco protagonismo. Enfim a escolha se deu muito acertada, com a ajuda de Hiller, o casal nos passa uma naturalidade muito realista e acabamos nos comovendo com a história dos dois. É claro que Ali e Ryan eram uns bons anos mais velhos que o casal do roteiro, na casa dos 20 e poucos anos, mas mesmo assim a química funciona demais. Uma das melhores jogadas de promoção de Evans foi fazer Erich Segal escrever um livro sobre o seu roteiro. O livro foi lançado no dia dos namorados de 1970, meses antes da estreia do filme, logo se transformando num best-seller e atiçando a vontade dos leitores em ver na tela grande Love Story. Outro acerto do filme são os pais, coadjuvantes de peso, Oliver pai interpretado pelo excelente Ray Milland e Phill Cavilleri, pai de Jenny numa boa atuação de John Marley, na época um dos atores preferidos de John Cassavettes. Destaque para um iniciante Tommy Lee Jones companheiro de quarto e amigo de Oliver IV.

Logicamente Love Story não é nenhuma obra de arte, pode até parecer ser um filme simples, muito bem dirigido, feito no ponto para emocionar, mas não é só isso. A câmera trabalha bem solta, captando momentos do casal de uma forma quase documental. Temos grandes cenas como as tomadas dos jogos de hóquei no gelo; o casal brincando na neve que pode ser considerada uma das cenas mais naturais e românticas do cinema; temos a emocionante cena (duas) em que usam a frase que imortalizou o filme; o momento em que Oliver saiu do consultório e anda na multidão das ruas de Nova York, mas que pelo semblante e peso da notícia, parece que está sozinho num túnel barulhento e sem saída, ou como diz o filme, caindo num penhasco lentamente. Claro que grande parte do mérito do emocionar vem da música de Francis Lai. O tema de Love Story pontua perfeitamente as fases do casal, do início ao fim da vida amorosa de maneira forte. O francês Lai criou um dos temas mais famosos da história do cinema e que ajudou muito a aumentar e comover o drama dos jovens apaixonados.

Aliás, a música fez muito sucesso no mundo todo, tendo versões com letra como a versão de Andy Williams e, inclusive no Brasil, tivemos algumas traduções em português que foram cantadas por artistas popularescos da época como Agnaldo Timoteo, Wanderley Cardoso e Joelma, fazendo da trilha original um fenômeno mundial. Outra cena brilhante de bastidores do filme é contada pelo próprio diretor que queria dar veracidade à condição de musicista de Jenny, afinal ela era uma aficcionada por Bach. Mas Ali Mac Graw não sabia nem o que eram os sustenidos de um piano. Hiller então propôs para Ali ter aulas de piano por três semanas para fazer uma tomada de 12 segundos dela tocando uma peça de Bach em publico. Ali topou e na cena do sarau musical o que seria normal, mostrar os dedos e depois cortar para o rosto, não aconteceu. A câmera seguiu a atriz por inteiro, Ali estava tocando realmente mesmo que, por 12 segundos, executou os movimentos no piano de uma peça de Bach.

Love Story foi um sucesso arrebatador. Lançado nos cinemas no fim de 1970, fez mais de 105 milhões de dólares em bilheteria, o livro foi o mais vendido e traduzido do ano de 1970, enriquecendo Segal. No Brasil estreou em 1971 e fez uma fantástica bilheteria, uma das maiores da década no país, provocando filas e choradeiras compulsivas. Além do que, cada filme que surgia após e era emocionante, os cartazes diziam: mais lacrimejante que Love Story, ou mais romântico que Love Story. O filme papou diversos prêmios também com sete indicações ao Globo de Ouro, faturando cinco, incluindo prêmios de melhor filme dramático, diretor, atriz para a Mac Graw, roteiro e logicamente trilha sonora. O Oscar também o indicou em sete categorias, mas faturou apenas a trilha inesquecível (vai lá, para alguns insuportável…) de Francis Lai. Quem riu à toa foi Robert Evans que forrou o poncho, se encheu de moral e partiu com tudo para chacoalhar o mundo cinematográfico e a Paramount produzindo um ano depois O Poderoso Chefão, mas isso é outra história…

Love Story pode ser considerado um patrimônio da cultura pop, hoje passados 50 anos de seu lançamento. Um filme simples, quase um estranho no ninho no meio de uma nova realidade que pontuava o cinema norte-americano, mas que cativou o público de maneira sincera. Era um filme que juntava clichês clássicos de história de amor cinematográfico, mas dava uma linguagem moderna (para a época) e humana. Quem via Jenny e Oliver às vezes se enxergava ali (claro que nem todos podiam ter um pai milionário…) na figura de dois jovens sonhadores, inteligentes, batalhadores, divertidos que brigavam um monte, mas se amavam, talvez essa química entre Ryan e Ali fez toda a diferença, o casal passava essa naturalidade. Talvez seja essa cumplicidade que temos com o casal que faz a gente se emocionar (ao menos eu) com o seu drama, que abruptamente tem um fim através de uma doença sorrateira e inesperada (no livro e no filme não diz que doença era, mas suponho que seja leucemia). Se uns consideram Love Story apenas um dramalhão dispensável que abriu portas para outros filmes dessa temática casal, doença e choro (surgiu até uma expressão: a doença de Ali Mac Graw, de filmes em que as protagonistas sofriam num hospital mas se mantinham lindas até morrer) e o filme ter detratores famosos tendo gente que tem asco só de ouvir o titulo da película, eu peço perdão se me emociono ou como diria Leandro e Leonardo: ‘’desculpe mas eu vou chorar’’, apesar que se emocionar ou se encantar com a linda história de amor e morte de Oliver e Jenny, não precisamos nos desculpar ou pedir perdão…

(LOVE STORY)

ESTADOS UNIDOS , 1970 , 99 MIN.

Gênero: Drama

Direção: Arthur Hiller

Sinopse: Oliver Barrett IV (Ryan O’Neal), estudante de direito em Harvard, e Jennifer Cavilleri (Ali MacGraw), estudante de música, tem uma química que não conseguem negar e um amor que não conseguem ignorar. Apesar de suas origens opostas, o jovem casal põe seus corações nas mãos um do outro.

Quando eles se casam, o rico pai de Oliver ameaça deserdá-lo e Jenny tenta reconciliar os dois, em vão. Oliver e Jenny continuam sua vida juntos. Dedicados exclusivamente um ao outro, eles acreditam que o amor pode resolver tudo. Mas o destino tem outros planos. Logo, o que começou como uma amizade incrivelmente sincera se torna a história de amor de suas vidas.

Elenco: Ali MacGraw, Ryan O’Neal John Marley, Ray Millard, Russell Nype e Ray Millard.

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