É impossível iniciar esse review sem antes evidenciar que vocês precisam assistir “Alfa”, um ótimo longa-metragem. Claro, tal afirmação precisa de base e, assim, vou para as explicações…
Antes, por favor, aproveitem o primeiro trailer. Não postei o segundo trailer por ele ter muitas informações que podem estragar o prazer das descobertas ao longo do filme.
Coerência.
Um dos pontos altos de Alfa está na utilização de cenas e criaturas prováveis, coerentes. Por exemplo, o Tigre Dentes-de-Sabre realmente existiu. A obra mostra que os personagens históricos estiveram lá e dá uma razoável explicação para a domesticação de cães. Mas essa não é a base da trama que, mais do que isso, nos entrega uma narrativa construída com muito respeito pelo espectador, inteligente e simples.
Passando o cajado.
A história começa por um de seus pontos altos para que, depois, retorne ao início de tudo a fim de explicar como se chegou ao clímax caótico dos minutos iniciais do longa. Desde o primeiro minuto de exibição somos apresentados a uma dupla de caçadores e demais membros da tribo. A dupla é constituída pelo garoto Keda (Kodi Smit-McPhee) filho do chefe da tribo, o guerreiro e sábio Tau (Jóhannes Haukur Jóhannesson). Eles estão juntos para a iniciação como homem e caçador do jovem Keda, mas logo no início algo dá errado, muito errado.
Uma série de eventos.
Vários fatores dão errado ao mesmo tempo, colocando Keda diante da mais difícil situação de sua vida. Ele é o protegido do líder tribal, mas isso não o impediu de ter acesso ao aprendizado que o manterá na constante luta pela sobrevivência até o final do filme.
Quando o garoto se vê isolado e apenas com seus trajes e a vontade de voltar para casa, iniciamos uma jornada onde o maior teste será permanecer vivo. Essa é uma parábola sobre a obrigatoriedade dos pais em deixar seus filhos traçarem o próprio caminho, mesmo com o coração em prantos.
Cada novo evento, cada intempérie e obstáculo têm a capacidade de aprimorar o aprendizado, desde que haja o desejo real de aprender.
Laços, Lições e Lembranças.
Não, este subtítulo não tem a pretensão de abordar a trilogia em quadrinhos dos irmãos Cafaggi, responsáveis por três encantadoras obras de títulos idênticos ao subtítulo que marca o início dessa nova parte do post. Na verdade, esses são os três pilares que mantêm Keda na árdua luta para se manter vivo, são (quase) e disposto: os laços familiares, as lições de seu pai e sua mãe, além das lembranças de tudo o que ele viveu até o fatídico dia em que se separou de sua tribo. De posse desses elementos, verdadeiras armas contra a implacável natureza, Keda tem uma chance a mais, aquilo que poderá ser vital para mantê-lo vivo e longe da loucura.
Como não amar um enredo assim?
A base do filme.
Para debater a base de Alfa, deixo o alerta de que, a partir de agora, teremos poucos spoilers. Logo, se ainda não viu o filme, corra para os cinemas e assista primeiro. Depois, volte para terminar o post e não deixe de comentar se concorda comigo ou não sobre minhas opiniões lançadas.
Voltando ao ponto onde abordo a base do filme, vale destacar que Alpha não é uma aventura comum, gratuita. O longa tem como tema principal os valores necessários para sobreviver diante do desconhecido. Valores morais, valores familiares, o respeito à amizade e a preservação da vida. É com essas abordagens que o diretor Albert Hughes nos entrega um filme diferente, ainda que à primeira vista possa parecer mais um filme sobre pessoas e animais.
Alfa vai muito além disso, principalmente quando destaca a união de dois seres tão diferentes para que sobrevivam. Desde o momento em que Keda cai no precipício (isso está no trailer e na foto acima) a vida dele e a do lobo mudarão drasticamente. Feridos, à mercê do inóspito ambiente, cercados de predadores e ambos na busca pelas famílias que perderam, eles se unem e formam o mais improvável parceria. Aliás, Alfa é uma fábula sobre a domesticação dos cães que, mesmo se valendo de um certo lirismo, traz um conteúdo interessante e muito provável desse processo de aproximação de animais selvagens até sua adaptação e convivência com grupos humanos.
Tecnicamente…
A obra é impecável do ponto de vista técnico. Fotografia primorosa, uma paleta de cores impressionantes e paisagens que são difíceis de distinguir se são CGI ou reais. Os animais que aparecem foram concebidos com muito zelo, porém há momentos em que percebemos que não são reais. Isso, ressalto, não impede a imersão no filme e na aventura da dupla.
A trilha sonora é competente e se encaixa bem ao desenrolar da trama. Atuações são muito boas, inclusive quando há o uso de criaturas em CGI, algo difícil de se conseguir. O lado emocional da obra está mais forte devido aos atores (em especial o jovem Kodi Smit-McPhee) e ao roteiro enxuto.
Alfa não peca por se estender em sua narrativa e houve o acerto de optarem pelo início do filme através de um dos momentos mais impactantes. É nesse momento que percebemos uma forte influência de Zack Snyder, fato bem destacado em cenas com slow motion.
A gradual aproximação de inimigos que se tornarão aliados foi uma ideia lançada no filme com apuro. Vê-los unidos diante de perigos que podem matá-los isoladamente, mas não são tão efetivos quando em conjunto, é um presente.
Alfa, enfim, entrega o que promete: drama, emoção, ação e aventura do jeito correto. Certamente vocês irão se apaixonar por essa obra inteligente e interessantíssima.
Bom filme!