Resgate história e político de Simon Schwartzman – “Falso Mineiro”

Os regastes históricos de algumas pessoas podem se confundir com a evolução social e política do local onde eles estivam ou estiveram, podendo ser protagonistas, coadjuvantes ou figurantes dessa história geral.

O sociólogo Simon Schwartzman conseguiu atuar nos três papeis durante sua vida pessoal e profissional, ele reuniu essas memórias, que envolvem política, ciência, educação e sociedade, no seu livro “Falso Mineiro”, publicado pela etiqueta História Real, da editora Intrinseca.

Schwartzman começa pelo fator pessoal, apresentando ao público suas raízes judias, compartilhando a história de seus pais, imigrantes e refugiados que se encontraram no Brasil no início do século XX, começando dali a mistura de culturas e costumes.

Logo no início o autor comenta que uma das razões para unir essas memórias em um livro foi poder conhecer melhor suas raízes, porque os pais pouco falavam sobre isso, talvez por cuidado na segurança da família, uma vez que eles viram as Grandes Guerras Mundiais acontecerem, incluindo aí o Holocausto e a perseguição aos judeus e demais “diferentes” discriminados pelos alemães.

Mas o projeto foi além, passou da história da família dele, das crenças e diferenças, para a história dele mesmo, afinal ele viveu na pele a evolução educacional e política do Brasil desde muito novo, tendo sido um dos primeiros estudantes do curso de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Sendo um jovem com ideias diferentes da geração anterior, testemunhou mudanças e participou de movimentos revolucionários entre as décadas de 1960 e 1970, sofreu na pele um pouco da Ditadura Militar, tendo sido exilado por alguns anos e com a ameaça de nunca poder exercer o papel de professor na universidade que se formou (algo que sempre quis fazer).

Mas ele não só voltou ao Brasil durante a Ditadura, como lutou pela melhora do sistema educacional pela base, trabalhando em institutos federais e estaduais, estudando as melhores formas de elevar a educação em todos os níveis.

Suas visões políticas atuais divergem das minhas, o que fui percebendo ao longo dos últimos capítulos do livro, assim como algumas de suas teorias sobre ensino e acesso a este, mas não posso fechar os olhos para as suas boas ações. Mesmo com essas diferenças, acredito que a educação brasileira estaria em outro patamar caso algo fosse feito na época em que Schwartzman tentou mudar as “regras do jogo”.

Lógico que eu concordo mais com Paulo Freire do que com Capanema e que hoje defendo o sistema de cotas nas universidades públicas, mas vejo na leitura das palavras desse sociólogo alguém aberto ao diálogo, algo que se faz necessário em tempos extremos.

E confesso, a primeira parte do livro, com o resgate histórico da família mestiça, contando as raízes de seus pais e a busca pessoal dele por entender isso tudo, chamou minha atenção mais do que a segunda parte, a que abordava questões mais políticas. Mas não pela leitura, por uma preferência pessoal desta que vos fala.

Até mais.

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