Reflexão sobre si – “Solidão Acompanhada”
Quantos seguidores você tem em seu perfil do Instagram?
Quantos deles você realmente conhece, é convidada(o) para eventos importantes da vida deles ou, simplesmente, considera amigo de verdade?
É bem por essa linha de reflexão que Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra, e Lauren Palma, artista e cenógrafa, escrevem “Solidão Acompanhada”, da Globo Livros.
Conheçam Eleonora, uma mulher moderna, ligada nas redes sociais, tem seu próprio canal no YouTube e sempre está atualizando seu perfil do Instagram. E quem era Eleonora de verdade?
Ela era filha de um finlandês e uma portuguesa que se conheceram em Liverpool, mas moravam no Brasil. Resolveram viver em uma cidade pequena, da qual Eleonora sequer lembra o nome, tanto porque odiava o lugar quanto porque saiu de lá quando tinha 07 anos.
Eleonora se descreve como uma pessoa normal, que é maravilhosa em todos os sentidos, mas tinha alguns defeitos, poucos, coisa de 03 defeitos só. Afinal ela sabia lidar com a internet, tinha seguidores e sabia exatamente o que queria gostava, julgado os gostos de todos ao arredor dela.
Qual seu trabalho? Ela se diz decoradora e escritora, embora nunca tenha realmente trabalhado com nada disso. Na verdade, ela vivia com o dinheiro dos pais, que pagavam a quitinete onde ela vive e dão uma pequena pensão para ela passar o mês.
Lógico que ela não chama de quitinete, mas sim de loft, porque ela decorou perfeitamente seguindo seu instinto de decoradora … Formada pelo Pinterest e suas inspirações!
Se tem amigos? Tem vários … seguidores no Instagram! Ah, tinha também o peixinho Dourado e vários outros pets que foi adotando.
Ela ainda tinha contato com alguns “amigos” do colégio e um ex-crush que ela ainda sonha em conquistar. Só que ninguém a acompanhou ao hospital quando ela teve que tirar o apêndice às pressas. Foi aí que ela quis encontrar um amigo de verdade.
Foi aí também que ela começou a refletir sobre a vida dela, se ela estava seguindo um caminho certo, mas sempre mascarada por seu ego e total independência de outras pessoas, exceto de seus pais, com quem mantinha distância segura, mas garantindo o dinheiro do mês.
E por aí você começa a entender a razão do título do livro. Eleonora podia ter quem quer fosse em suas redes sociais, mas na verdade ela não achava necessário dar amor ou valorizar quem estava com ela, logo ela não tinha ninguém, só seus pets.
A questão dos pets é interessante, mostra que ela não é uma pessoa ruim, pessoas não têm apelo para ela porque ela se acha melhor que qualquer um, mas ela se importa com os animais. Só o peixe foi uma aquisição dela, os outros foram “heranças” de vizinhos falecidos que iam deixar os bichinhos sem ninguém para cuidar.
E a solução dos problemas dela (que ela só relacionava ao dinheiro) não foi mágica. Para falar a verdade, e já dando spoiler do livro, os problemas não são resolvidos, dá para perceber que sempre são óbvios, mas para quem está lendo, não para ela.
Quando ela começa a se sentir sozinha a lógica, para mim, era procurar os pais. Eu ainda moro com meus pais e tem dias que, mesmo não tendo o relacionamento perfeito, tudo que eu quero é o apoio deles. Mas Eleonora não, só fala com os pais dela para pedir dinheiro, usando dramas familiares para conseguir, desgastando esse relacionamento quase inexistente.
Quando ela quer conquistar alguém, seja para amizade ou para namoro, ela pesquisa a pessoa nas redes sociais (todas possíveis e existentes), mas sequer pergunta coisas simples. Se almoçou com alguém foi porque ela não queria ir sozinha ao restaurante e tinha a esperança das pessoas pagarem para ela.
É interessante que o livro realmente não a leve para a solução, porque a missão (acredito eu) seja mostrar ao leitor como esse tipo de comportamento pode excluir a pessoa da realidade, fazendo viver em um ciclo vicioso. Mas tudo isso com muito humor e uma linguagem muito acessível e gostosa de ler. Eu li em menos de 24h!
O livro todo é uma narrativa da própria Eleonora, permitindo ao leitor conhecer os verdadeiros pensamentos dela, a visão dela para com os outros e para a vida. E, por ser uma pessoa altamente cheia de si, é engraçado como as coisas se desenrolam.
As passagens mais engraçadas são as que envolvem hospital e sangue, porque ela tem fobia fortíssima. Tem um capítulo que ela descreve como um simples exame de sangue se transformou em um internamento por um corte profundo na testa. Se eu não tivesse precisado tanto de exames de sangue ao longo da minha adolescência, com certeza eu iria protagonizar cenas dessas.
Nada melhor do que a comédia para nos fazer refletir sobre detalhes que fazem a diferença!!!
Até mais.