Quando a Conspiração é Real – “O Tempo Desconjuntado”
Teorias de Conspiração já fizeram muitos paranóicos fazerem loucuras para as provar, também tornaram muitas pessoas “normais” se tornarem os paranóicos. Mas será que faz muito mal mesmo questionar tudo que está a sua volta?
Regle Gumm começou a fazer isso em “O Tempo Desconjuntado” e a resposta foi bem diferente do que esperava.
Ragle já tinha seus 40 anos, mas vivia com a irmã, o marido e o filhinho dela, como emprego tinha algo inusitado, um concurso do jornal local chamado “Onde Está o Homenzinho Verde?”, do qual ele era o campeão imbatível. Eles viviam em uma cidadizinha pacata no sul dos EUA no ano de 1959… Ou assim eles pensavam.
Mesmo sendo a celebridade da cidade, afinal sempre estampava no jornal como o campeão do concurso, Ragle começou a repensar essa vida. Ele já havia lutada na Segunda Guerra Mundial, era considerado um heroi, mas sentia que não fazia nada de muito útil e agora ainda estava prestes a acabar com o casamento do vizinho (a esposa se jogava para Ragle e ele nem negava que gostava).
Questionou também o concurso. Ele sentia que tinha algo de estranho, os organizadores aceitavam que ele mandasse mais de uma resposta, para que uma delas realmente fosse a certa, assim continuaria sendo o campeão. Eles sempre diziam que era importante que Ragle continuasse sendo o vencedor, mas nunca era algo muito bem explicado.
Aos poucos coisas estranhas começaram a acontecer. Uma noite seu cunhado, Vic, achou que a luz do banheiro acendia com uma cordinha, sendo que nunca foi assim; Várias vezes objetos sumiam aos olhos de Ragle e era substituídos por um pedaço de papel com o nome de objeto (ele já tinha uma coleção daqueles papeis). Eles começaram a achar que o tempo estava desconjuntado.
Certo dia o sobrinho ele, Sammy, disse que encontrou algumas coisas estranhas nas ruínas do parquinho, incluindo alguns papeis como o do tio. Ragle foi lá conferir, encontrou uma lista telefônica, mas nenhum número estava funcionando e uma revista com Marilyn Monroe na capa. Porém ele não sabia quem era a loira atraente, que se dizia ser famosa mundialmente àquela altura.
Outra coisa que Sammy fez foi conectar um rádio, que para eles já não se usava há muito tempo. Ele tanto tentou que conseguiu interceptar vozes de oficiais, alguns dizendo besteiras. Ragle se concentrou em entender tudo aquilo, até que ouviu seu nome, não sabia se era loucura ou verdade. Naquela noite ele saiu de casa, decidiu pegar um ônibus para fora da cidade.
Tudo era difícil, o taxi errou o caminho da rodoviária, a rodoviária estava lotada. Ele encontrou oficias que precisavam voltar para o posto, mas o carro estava quebrado, ele tentou ajudar, mas cada vez mais ele se perdia. Até que chegou a uma cabana no alto do morro, onde uma senhora e seu filho moravam. Por lá ele procurou evidências de algo estranho, até que assustou os anfitriões, mas encontrou uma fita de monitoramento da vida dele e uma revista datada de 1993, com ele na capa, como um herói. Antes que ele conseguisse entender, ele foi pego e apagaram a memória dele.
No dia seguinte ele tinha voltado para a casa e tentava lembrar da noite passada. Somente algumas partes foram lembradas, mas ele sabia que deveria continuar investigando. Chamou Vic para tentar sair da cidade de novo, mas agora eles iriam em um dos caminhões que faziam entrega de legumes na cidade, porque seria mais difícil de ser identificado.
Eles conseguiram e o que descobriram foi surpreendente: eles estão, na verdade, no ano de 1996, viviam sob uma guerra entre o governo e pessoas que defendiam a exploração da lua (os lunáticos). A bomba de hidrogênio havia sido acionada, a Terra estava devastada, o solo contaminado, surgiram culturas subterrâneas para legumes e uma nova ordem mundial.
Ragle Gumm era um ex estilista de chapéus famoso, mas que se transformou em um herói. Ao começar essa guerra ele se alistou para ajudar, mas o colocaram na parte administrativa. Ele tinha o dom de descobrir onde era que o próximo míssel iria cair, então o governo começou a o remunerar por isso. A pressão o sobrecarregou, então ele mesmo criou a Cidade Velha, um lugar onde ele poderia fazer estas previsões sem a mesma pressão e o governo monitoraria para que ele não fosse para o lado dos lunáticos.
O concurso do jornal na verdade eram as orientações do governo para que ele pudesse fazer a previsão. O homenzinho verde, na verdade, eras os mísseis do lado oposto. A única coisa que não se encaixava era o fato dos vizinhos do final da rua queriam dar aula de Defesa Civil.
Eles eram os líderes dos lunáticos, queriam que Ragle recobrasse a memória e visse como a situação estava. Eles precisavam dele para que a guerra não aumentasse, causando prejuízos para todos. E conseguiram trazer o herói para o lado deles da guerra.
Acredito que posso chamar a trama de “O Tempo Desconjuntado” de distopia, até 1959 estava tudo certo, foi a infância de Ragle, vida feliz de pós guerra, apesar dos pesares. Mas depois disso a nossa história muda, as ameaças que a Guerra Fria faziam realmente aconteceram e mudaram completamente a vida na Terra. Imaginam como isso poderia ter sido e como a nossa vida seria diferente hoje?
E é por isso que eu digo: se vocês acreditam em teoria da conspiração não leiam esse livro. A paranoia pode aumentar e muito, apesar de o desenrolar não se mostrar tão paranóico assim, a ideia já estará instalada na sua cabeça.
Mas se vocês querem uma obra diferente, que realmente te levem para outra realidade, traga mistério e uma pitada de humor, “O Tempo Desconjuntado” é para vocês. A trama é toda bem construída e não tem muita enrolação, não cansa o leitor com várias teorias infundadas, é direta, apesar de louca.
Uma vez que Ragle começa a tentar desvendar os mistérios tudo começa a acontecer, mais e mais elementos comprovam suas teorias, o que faz você querer terminar de ler o livro de primeira. E o final não é meloso, é bem para os práticos, acontece isso e ponto final… Mas deixa muito para a imaginação.
Ele conclui com Ragle indo a Lua com a nave dos lunáticos, mas nada se fala da Cidade Velha, de como tudo aquilo seria desfeito, como as relações que foram construídas ali seriam desfeitas, se seriam desfeitas. Por exemplo, Vic não era cunhado de Ragle de verdade, ele não era casado com Margo e nem margo era irmã de Ragle.
Como será que Margo (que ficou sabendo disso enquanto Vic e Ragle estavam fora da cidade) voltou a sua realidade? Como será que Sammy, que era filho só de Vic, reagiu a partir dali? Será que a Cidade Velha seria destruída, agora que Ragle não estava mais lá?
Mas o ponto principal foi resolvido: Ragle não era um desocupado que só vivia e um concurso, como ele estava se sentindo, ele era um herói e havia toda uma explicação para tudo aquilo.
O autor dessa obra é Philip K. Dick, responsável por obras de ficção científicas que ficaram para a história da literatura e do cinema. Filmes como “Blade Runner: O Caçador de Androides”, de Ridly Scott, “Minority Report: A Nova Lei”, assinado por Steven Spielberg e estrelado por Tom Cruise, e “O Vingador do Futuro”, de Paul Verhoeven e estrelado por Arnold Schwarzenegger, tiveram os roteiros inspirados em obras de K. Dick.
Agora fiquei curiosa para saber quem seria Ragle Gumm nos cinemas. Com certeza Spielberg faria maravilhas com essa histórias e muitos efeitos especiais!
Só um comentário sobre essa edição publicada pela Editora SUMA: que capa linda, dá até gosto de levar pra ler numa fila qualquer, faz as pessoas terem curiosidades de saber que livro é aquele!
Beijinhos e até mais!