Qual o seu poder? – “Power”

Os super poderes fazem parte do nosso imaginário, desde antes das super produções, é um desejo humano ser sempre melhor e buscar sempre uma forma de alcançar essa evolução.

É nessa linha de pensamento que trabalha a pílula do filme “Power”, lançamento da Netflix desse mês, dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman e escrito por Mattson Tomlin.

No centro da trama estão Robin, Frank e Art.

Ela é uma adolescente com uma grande responsabilidade nas costas, a vida da mãe e suas despesas com remédios. Por isso ela é uma conhecida traficante da famosa pílula, a droga mais procurada das ruas de Nova Orleans.

Frank é um dedicado policial da cidade, mas usuário da pílula. Ele é cliente de Robin e faz amizade com ela, tornando-se quase seu guardião.

Art é um ex-soldado que serviu como cobaia para essa droga e, por isso, sua filha, Tracy, já nasceu com habilidades especiais e foi internada pela médica responsável para testes. Ele passa a vida buscando a liberdade dela.

A polícia (e pessoas poderosas envolvidas) arma para Art, colocando-o como a fonte da droga e quem impede a legalização. Isso põe um alvo nas costas dele e Frank é o “escolhido” para ir atrás dele. Os caminhos deles se encontram também porque uma das pistas sobre Tracy acaba passando por Robin, a quem ele sequestra e pede ajuda (não de uma forma muito gentil, mas pede).

A fonte da droga é a farmacêutica Garner, quem faz os testes e lidera a operação, incluindo a “internação” de Tracy. Para poder evoluir com o projeto ela precisa de um número maior de adeptos, por isso ela incentiva o trágico nas ruas de Nova Orleans, aquelas pessoas eram cobaias humanas não voluntárias.

Ela não age sozinha, tem capangas e “assistentes” para espalhar e proteger o projeto. O principal entre eles é Biggie, que sabe como poucos vender a droga, explicar como ela funciona e encantar as pessoas com isso.

Os poderes não são aleatórios, eles são inspirados no reino animal, em habilidades diferenciadas dos animais e que podem significar a evolução humana. Mas cada um tem o seu, não são poderes iguais, e só dura exatos 5min.

Frank, por exemplo, pode ficar com a pele impenetrável. Bem útil para um policial que vez por outra encara fogo cruzado.

O interesse em Tracy é para que esse tempo aumente, ou melhor, para que os usuários só precisem tomar a pílula uma vez e os poderes sejam permanentes.

Como todo filme com super poder (sem heróis de verdade), o destaque vai para as relações humanas mais simples, mas que podem ser subjugadas.

É a preocupação de Robin com a mãe, mas sem demonstrar, sendo o porto seguro dela. É a amizade despretensiosa entre ela e Frank, que precisa dela também. É o amor sem limites de Art por Tracy, que põe sua vida em risco para a ver livre.

Frank sente uma responsabilidade de padrinho/tio para com Robin, embora isso não seja falado hora nenhuma, me fazendo lembrar, novamente, da relação entre Guzmin e Maggie em “Modern Love” e de Carson e Mary em “Downton Abbey”.

Mas eles não são sentimentais, então esse carinho é mostrado por meio de piadinhas sarcásticas fazendo referências a alguns clássicos de Clint Eastwood (policiais).

Art também passa a ter esse sentimento por Robin, redimindo-se de forma desajeitada do primeiro contato. Ele também se torna um conselheiro e fica grato por ela, mesmo sem precisar e sem poderes (ela nunca tomou da droga), ter encontrado Tracy.

Falar do elenco, neste caso, está totalmente relacionado com alguns detalhes que vi no filme, por isso, vamos a ele.

Vou começar pelo sangue brasileiro, Rodrigo Santoro. Ele interpreta o capanga Biggie e ele tem duas faces com o mesmo nível de interesse. Primeiro como o grande divulgador da tal droga, tornando uma cena que começaria simples em um pequeno espetáculo de atuação.

Ele não só apresenta toda a explicação por trás da pílula e a demonstra, ele faz isso com emoção, uma emoção com a assinatura do teatro, com expressão facial e corporal que cativam. Honestamente, mostrou, mais uma vez, o talento brasileiro para o mundo.

A outra face é o poder de Biggie, ele se transforma em um monstro (não entendi de qual animal vem esse poder), mas ele impressiona pelo visual. E se tem alguém que sabe ser caracterizado assim é Rodrigo Santoro, desde “Carandiru” até o grande Xerxes, de “300”.

Quando eu digo que devemos valorizar o talento brasileiro é por atores como ele e por tantos outros “escondidos” nesse sofrido país.

Robin é vivida por Dominique Fishback, que vem se destacando por séries como “The Deuce” e é capaz de aparecer em mais filmes do estilo, ela foi a escolha perfeita para o papel.

Art é interpretado por Jamie Foxx, que dispensa apresentações … aliás, não dispensa, falei dele na resenha de “Robin Hood”. Filme de ação, com uma pitada de comédia e lição de vida por trás, é basicamente feito para ele.

Frank é vivido por Joseph Gordon-Levitt, também já falei dele por aqui, na resenha de “A Origem”, mas quero acrescentar que ele é daquele tipo de ator que você se apega, sente carinho de longe. Não sei vocês, mas tenho isso com ele desde a primeira vez que assisti “10 que Eu Odeio em Você”.

Quais detalhes têm a ver com os atores em si?

Começa pelo fato da protagonista se chamar Robin e o próprio Joseph já ter sido o Robin do Batman. Quer dizer, ele não chegou a ser o garoto prodígio de fato, mas no finalzinho (spoiler) de “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” o personagem dele, Blake, fala o nome real e era Robin.

Se não me engano, se tivesse um quarto filme de Batman assinado por Nolan ele seria o Robin mesmo (não sei a fonte, pode ser só impressão minha).

Mas as coincidências (ou east eggs) não param aí. Esse personagem de Gordon-Levitt na franquia do Batman também era policial, tanto Frank quanto Blake (que era Robin) têm alma de justiceiro, têm esse desejo de trazer a paz para as ruas das suas cidades.

Robin faz referências ao Batman umas duas vezes, uma dessas ela realmente fala para Art: “Eu pensei que iriámos brincar de Batman e Robin”. Detalhe, toda a sequência dela com Art ela está vestindo um moletom que mistura geometricamente as cores verde, vermelha e amarelo, com detalhes de preto.

Lembram do traje tradicional do garoto prodígio? Pois é, não me parece uma coincidência.

E Jamie Foxx não está de fora do mundo dos super heróis, não foi usado nenhuma referência em “Power”, mas ele viveu o Electro em “O Espetacular Homem Aranha 2”.

Assisti o filme porque gostei da escolha do elenco, queria ver Rodrigo Santoro do lado de Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt, mas acabei encantada com a trama e a condução da história.

Essa modinha vale a pena!

Até mais.

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