Qual a idade do sucesso? – “tick, tick … BOOM!”

O universo dos musicais ultrapassa o próprio gênero, existem produções que abordam os mais variados temas, mas muitos deles ainda são conhecidos somente pelos palcos da Broadway, um pouco distante para a maioria de nós.

Aos poucos uma figurinha repetida, e genial que só ele, vem aproximando esses palcos com histórias ritmadas ao público em geral. Lógico que falo dele, Lin-Manuel Miranda, ator, diretor e produtor de muitos filmes musicais que ficaram famosos nos últimos anos.

Para terminar bem 2021, Miranda lança, como diretor, o longa “tick, tick … BOOM!” na Netflix, um musical escrito por Steve Levenson, baseado em um musical de Jonathan Larson no início dos anos de 1990, antes de seu grande sucesso, “Rent”, render-lhe prêmios. 

Larson foi um grande escritor da Broadway, mas ele teve que batalhar muito por isso, só conseguiu alguma credibilidade depois dos 30 anos, mas só atingiu o sucesso depois de seu falecimento, em 1996, antes mesmo de “Rent” ter sua estreia oficial nos palcos. 

O musical “tick, tick … BOOM!”, que era chamada de “30/90” (nome de uma das músicas), é uma obra quase biográfica, acompanha a semana que antecede os 30 anos de Larson, mostrando o pânico que ele tinha de chegar a essa idade sem ter conseguido atingir seu principal objetivo, ser um escritor reconhecido pelos musicais.

Enquanto ele sentia a pressão de chegar aos 30 anos assim, ele ainda estava perdendo amigos para a AIDS, que havia acabado de ser descoberto, não tinha tratamento certo ainda e era visto como a doença de homossexuais. Esse assunto ele levou para suas obras, porque foi algo que o atingiu frontalmente, embora nunca tenha contraído a doença. Seu relacionamento com Susan, que também era artista, também estava se desfazendo, uma vez que ela traçava objetivos diferentes, um pouco mais realistas para ela. Embora fosse claro que eles se amassem profundamente, sair de Nova York e desistir da Broadway não fazia sentido para Larson e isso o afastava da amada.

Nessa confusão entre amores, amizades e desafios da vida adulta, Larson havia passado seis anos escrevendo um musical completamente diferente, distópico, baseado na obra de Orwell, que se chamava “Superbia”. Ele conseguiu reunir atores e cantores para ensaiar, além de apresentar a trilha e a história para uma plateia seleta, e foram elogiados até por Stephen Sondheim, um dos ídolos de Larson, mas não era viável para os palcos. Foi aí que Larson usou sua criatividade e escreveu “tick, tick … BOOM!”, apresentando de forma super simples, ele ao piano, dois amigos cantando e três músicos no palco. Era ele mesmo contando sua trajetória até ali.

O filme agora fez algo lindo para homenagear essa história e apresentar o nome de Jonathan Larson à nova geração, é o revezamento de cenas reproduzindo essas apresentações originais, cenas que surgiam como flashback, mostrando momentos específicos da fatídica semana “pré-30” e cenas caseiras do próprio Larson na época. Tem também uma narração, na voz de Susan, falando de forma saudosa. Falando como alguém que realmente não sabia quem era Jonathan Larson, que assistiu o filme pelo simples fato de ser um musical dirigido por Lin-Manuel Miranda, é uma produção que surpreende em muitos aspectos. Não esperava que fosse uma produção emotiva, sensível e menos cômica do que estava aparentando ser na divulgação.

Mas tem alguns alívios cômicos sim, algumas que você percebe que os próprios atores estão se divertindo, mas tem momentos muito mais profundos. A música inicial já me pegou de jeito, porque é a que ele usa para mostrar essa agonia de chegar aos 30 anos sem ter atingido seu sonho.

Quem tem 29 anos em meio uma pandemia sabe que agonia é essa!

Outra coisa que me chamou atenção foi a participação de Vanessa Hudgens. Ela foi colocada como protagonista na divulgação, até no catálogo da Netflix ela aparece em destaque, mas ela não tem esse destaque no filme, ela vive Karessa, a cantora e amiga de Jonathan.

Isso não é uma crítica à atriz, é um elogio. Ela tem capacidade e talento de estar em destaque sim, faz um trabalho lindo e mostra que não tem estrelismo, destacando mais a sua voz do que sua atuação. É algo diferente vindo de alguém que já conhecemos há tanto tempo.

Já estou falando de elenco, Andrew Garfield foi excelente na pele de Jonathan Larson e foi muito bom o ver em um musical, a linguagem corporal dele se encaixou perfeitamente nesse contexto. Se ele está no novo filme do menino aranha eu não sei, mas recomendo que o assistam cantando e dançando (e nem é “Umbrella”).

Ao lado de Jonathan estava seu amigo de infância, Michael, alguém que ele confiava à vida e que ficou devastado ao saber que ele era uma das vítimas da AIDS. Michael é vivido brilhantemente por Robin de Jesus, conhecido por “Law & Order: Special Victims Unit” e por “The Boys in the Band”, mas que deveria ser mais conhecido.

Susan, amada de Jonathan, foi vivida por Alexandra Shipp, conhecida por ser a Tempestade da nova geração de filmes de “X-Men”. Stephen Sondheim, ídolo de Larson (e por uma legião de admiradores), é vivido por Bradley Whitford, conhecido por “Corra!” e “Transparent”. A agente de Larson era Rosa Stevens, que é vivida no filme por Judith Light, famosa por “Ugly Beth”, “Transparent” e “The Politian”.

Outros nomes famosos aparecem ao longo do filme (alguns já conhecidos por outras produções de Lin-Manuel Miranda), tais como: Joshu Henry, MJ Rodrigues, Ben Levi Ross (estreia em longas), Richard Kind, Phylicia Rashad, Philipa Soo, Daphne Rubin-Vega, Renée Elise Goldsberry, Chita Rivera dentre outros.

Destaco a aparição de Adam Pascal, que faz parte do elenco do filme “Rent”, de 2005.

Até Mais!

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