Os preconceitos afastam suas vítimas da felicidade, faz que eles se isolem cada vez mais e, quando não superado, pode resultar em pessoas amargas… Não leva a nada!
Marvin Bijoux era o “diferentão” da família Bijoux e da sua escola também. Um garoto lindo e delicado, mas triste, subestimado e vítima de homofobia quando ele ainda tentava entender quem ele era e qual sua orientação.
Dentro de casa ele não era ouvido, era o terceiro irmão em uma família de quatro filhos, mas o único que não queria ser igual ao pai (um escroto até então) e sempre sofria na mão do irmão mais velho, chamado de todos os nomes pejorativos possíveis. Na escola não apresentava interesse por muitas matérias, nem tinha muitos amigos, os valentões se comportavam pior que o irmão, chegaram até a abusar de Marvin só para mostrar o ponto de vista deles.
Marvin não tinha a quem recorrer, até que uma nova diretora chega a escola dele, Sra. Clemént. Ela viu naquele garoto alguém que poderia ser mais e procurou formas de ele se destacar, mostrou-o as aulas de teatro. Marvin demorou a se soltar, mas ali ele se encontrou, sentiu que poderia ser um bom ator, começou a lutar por isso.
Com pouco mais de 15 anos ele ganhou uma bolsa para uma grande escola na capital, Paris. Sem contar conversa, sabendo que não iria precisar mais dar satisfação a família que o rejeitava, partiu para a realização seus sonhos.
Em Paris ele cresceu aprendendo as boas técnicas da atuação e fez alguns amigos, em especial o seu professor e o companheiro dele. Aos poucos ele se encontrou ao perder seu foco (envolveu-se com um ricaço que passou a sustentar ele).
Por fim, ele “vingou” sua infância amarga ao escrever e estrelar uma peça (junto a uma amiga que ganhou na vida, Isabelle Huppert), o texto dela foi baseado na narrativa da mãe de Marvin de aborto que provocou antes de ela ter tido ele. Dessa forma fez sucesso, mas acabou por magoar parte da família, menos o pai, que deixou a mãe e encontrou a felicidade ao lado de outra família.
Ah, ele fez questão de mudar seu sobrenome antes mesmo de fazer sucesso com a peça, tirou o Bijoux, que o fez alvo de tantas piadas pejorativas e representava uma família indiferente, e colocou Clemént, homenageando aquela que primeiro acreditou nele.
“Marvin” é um drama de 2017 (na França) e uma das atrações do “Festival de Varilux de Cinema Francês”, escrito e dirigido por Anne Fontaine (“Coco Antes de Chanel”) e distribuído no Brasil pela A2 Filmes. Ele toca fundo na ferida da homofobia e nos casos de bullying, que só crescem.
O filme não é linear, Marvin mais velho narra a infância do Marvin mais novo, inclusive as partes mais difíceis, misturando passado com presente. Da metade para o final do filme dá para entender que é ele escrevendo a possível peça, tentando encaixar as peças da vida dele que o levaram até ali.
Algo bem interessante a ser destacada é o papel desses dois educadores na vida de Marvin. A Sra. Clemént lutou junto com ele nos primeiros passos, quis o ver vencendo cada obstáculo, sendo um ponto de equilíbrio para Marvin mais velho, quando ele se perde em suas aventuras. Roland, o professor da escola de teatro, ensinou-o o que era arte e como se aceitar (ele sofreu os mesmos preconceitos que Marvin quando jovem, meio que adotou o rapaz para que não cometesse os mesmos erros).
Marvin se sentiu tão acolhido que adotou nome Clement e somente se abria com Roland e Pierre (o companheiro), as únicas cenas em que ele está chorando são com o professor e mentor.
Apesar de ser uma obra fictícia a Isabelle Huppert que se aproxima de Marvin é a Isabelle Huppert da vida real, a que concorreu ao Oscar de Melhor Atriz no ano de 2017 pelo filme “Elle” (perdeu para Emma Stone). Pareceu tão natural aquela mulher atuando que eu nem percebi que era ela, ela adicionou um toque de humor que contrastava com a amargura de Marvin.
Obs.: Faço o mesmo pedido que fiz semana passada com Jean Dujardin, parem um minuto que pronunciem “Isabelle Huppert”, é uma delícia de pronuncia!
Direção: Anne Fontaine
Marvin foi vivido por dois atores, um criança e outro adulto. Marvin criança foi vivido por Jules Poter, que está somente em seu segundo trabalho na indústria, além de ser lindo e fofo, é super expressivo, sofremos junto com cada olhar de dor dele.
Marvin adulto é interpretado por Finnegan Oldfield, um ator inglês que soube sustentar o francês perfeitamente. Ele lembra muito Dylan Minnette, de “13 Reasons Why”, só que com mais cara de sofrido, talvez por isso eu tenha me convencido da história dele, tendo, inclusive, pesquisado para saber se ele realmente se chamava Marvin e se o filme seria uma biografia.
Enfim, um drama francês com todas as nuances que o estilo merece e, de brinde, uma indicada ao Oscar sendo ela mesma e coroando a arte de atuar!
Beijinhos, até mais!