Por Trás dos Óculos Rosa de Coração – “Rocketman”

Você aí, independente da idade, deve ter ouvido falar do grande Elton John, né?

Se tiver entre seus vinte e muitos anos (depois dos 25) deve lembrar que foi ele quem fez uma grande homenagem à Lady Di em seu enterro. Deve também ouvido muitas músicas dele, mesmo que nem imaginasse que fosse dele (eu mesma).

Mas alguém conhece a trajetória de glória e dor que foi a vida de Elton entre os anos 80 e 90? O lindo longa “Rocketman” retrata exatamente essa história, que, aliás, tentarei resumir por aqui!

Nascido como Reginald Dwight, filho de um militar, que só se casou porque na então namorada engravidou (de propósito). Isso tornou a vida do pequeno Reggie um pequeno inferno, só tinha apoio da avó.

Mas Reggie tinha um talento, o piano. Ele não precisava muito de partituras, só de ouvir uma canção ele reproduzia. Ainda assim ele buscou a educação formal em música.

A situação em casa mudou quando ele mesmo relata ao pai que a mãe estava o traindo. Como a única contribuição decente da vida dela para Reggie, o namorado apresentou ao menino o rock’n’roll, fazendo-o usar o talento para perseguir o sonho de ser artista.

Por muitos anos Reggie tocou em um bar, depois foi banda de apoio de um grupo soul que fazia tournée pela Inglaterra, foi quando começou a pensar na mudança do nome, para ser mais artístico. Além disso ele tentou dar mais um passo, ser compositor.

Ele sabia dar a melodia, mas não colocar palavras. Foi aí conheceu Bernie Taupin e uma amizade da vida inteira nasceu, um escrevia e outro fazia a música. De primeiro eles conseguiram espaço no mercado inglês com um produtor chamado Dick, e seu braço direito, Ray, mas eles levaram o mais novo sucesso, Elton Hércules John, para os EUA.

A primeira apresentação foi em um dos maiores bares, que reunia os músicos da época e pessoas influentes. A timidez de Reggie quase faz Elton desistir, mas o show acaba sendo um sucesso.

Parecia tudo perfeito, mas Elton sentia falta de algo: amor. Ele ainda lutava com sua sexualidade, já havia tido experiências homossexuais e heterossexuais, mas ainda não tinha encontrado ninguém que realmente pudesse amar. Ele achou (ou imaginou que tinha achado) na festa pós-show, John Reid.

                                                                                                                         Taron e Elton John. A caracterização ficou perfeita!!!!!

Sim, no começo John Reid parecia o príncipe encantado, lindo, influente, poderoso e estava seduzindo o mais novo sucesso do mundo. Mas esse amorzinho de pessoa se transformou em um mostro aos poucos, convenceu Elton que ele merecia mais, fazendo-o demitir Dick e Ray, comprando coisas desnecessárias e se entregando aos vícios.

A música? Ah, sempre um sucesso! Elton era impecável em cada show, os lucros só aumentavam, na mesma medida que a excentricidade de seus figurinos aumentavam (show à parte). Mas o ser-humano só se perdia.

Mais e mais John Reid humilhava Elton quando estavam sozinhos, desprezava sua inteligência ao ponto de agredir mentalmente alguém que sempre foi vulnerável, alguém que sempre buscou por amor. Isso fez de Elton viciado em vários tipos de drogas, sexo, álcool e extremamente agressivo, afastando-se de dos velhos amigos.

Elton tentou suicídio uma vez, tomou alguns remédios junto com champanhe e jogou na piscina da sua mansão quando uma festa ocorria. Sabe o que John Reid fez? Tentou encobrir o ocorrido, fez a equipe médica o tratar ficar em silêncio. Assim que Elton se recuperou ele o colocou em um figurino novo e no palco, movido por uma boa dose de cocaína.

Muitos anos depois, também por causa de uma briga com John Reid, Elton teve um ataque cardíaco (na época ele já havia descontado na comida e desenvolvido bulimia), mais uma vez John tentou encobrir, falou que era frescura do artista, colocando em mais um figurino depois da sua recuperação, quase o levando às drogas novamente. Mas John estava cansado daquele ciclo, abandonou os shows e o contrato com John Reid, buscando ajuda em um centro de reabilitação.

O resto é história: criou uma casa que abriga e auxilia portadores de AIDS (em homenagem a Freddie Mercury), conheceu de fato o amor nos braços de David Furnish e ainda é o ser humano que tem mais óculos no mundo… Incluindo o emblemático óculos rosa em forma de coração!

Se você conhece a história você irá se emocionar, se você não conhece também. Se você conhece as músicas vai querer cantar e dançar, se não conhece vai querer também e ainda vai buscar a playlist no Spotify (tem o álbum do filme e os originais de Elton John, já procurei e favoritei).

 

O filme é mágico, enquanto você vai entrando na vida de Elton, que era Reggie, você ver cena de musical bem clichê na infância dele, você ver a evolução dos óculos dele, sente raiva do pai porque nem um abraço dar no menino e da mãe porque é interessara, de John Reid então, dá ódio!

No final você se sente próximo a ele, em especial porque ele está vivo, então se torna uma história feliz. Ele sofreu o inferno, mas sobreviveu e hoje sabe aproveitar o que há de bom na vida, sabe ser feliz e amado. É muito emocionante.

Além do fator musical, que muito me agrada, a forma da narrativa é muito inteligente e reflexiva. O filme começa com Elton John entrando no centro de reabilitação vestindo um figurino de palco, uma malha laranja, com asas enormes, chifres e o óculos rosa de coração. Ele se senta na roda de terapia de grupo e começa a falar como um artista, todo cheio de si, até mascarando um pouco tudo que aconteceu em sua vida, mas sendo sincero nos vícios.

Enquanto o filme vai evoluindo esse Elton da terapia de grupo vai se despindo, ele tira a asas, depois quebra o chifre, na próxima cena ele tira a touca que segurava os chifres, mostrando sua, aí tira a malha e as botas pesadas. No final ele é um homem simples, com óculos mais “normais”, encarando sua vida e seus problemas, finalmente pedindo desculpas pelos seus erros e lembrando de suas raízes.

A cena mais bonita foi quando o pequeno Reggie aparece para o velho Elton, pedindo o abraço que o pai nunca deu e eles se abraçam. Parece que aí, bem aí, Elton finalmente se aceita e começa a de fato a se amar!

Mas devo dizer que quem se destaca é avó de Elton John, Ivy. Ela foi a única a ficar ao lado dele quando criança, era ela que de fato cuidava dele enquanto a mãe farreava e o pai trabalhava (ou o ignorava). Foi a primeira a acreditar em seu talento e a se preocupar com seu futuro. Nessa cena final ela diz que ele não é estranho nem excêntrico, ele tem o jeito dele de fazer as coisas.

Ah, uma relação com a avó muda tudo!

Vamos falar desse figurino MARAVILHOSO? Gente que homem criativo e ousado! O cara teve a ousadia de ir de Rainha para um show, em outro estava de galinha reluzente e aí me arranja um uniforme de basebol todo de paetê. Detalhe que tinha um óculos para cada coisa.

Tiveram momentos que eu duvidei que o filme estava sendo fiel à história, pensei que quiseram incrementar o visual, mas não, ele usou mesmo. Nos créditos eles mostram as fotos originais, são roupas mais “caseiras”, mas a era exatamente o que foi mostrada, com aquele toque de Hollywood.

Vamos ao outro show à parte: o elenco!

Quando eu jurava que Bryce Dallas Howard já tinha me feito raiva suficiente em “Histórias Cruzadas”, ela me aparece como Sheila Dwight, a mãe sem coração de Reggie/Elton.

John Reid é vivido por Richard Madden. Nunca na minha vida eu achava que Kit, o príncipe encantado do live-action de “Cinderella” fosse me dar tanta raiva. O pior é que no trailer que vi só tinha o lado fofo dele, aí quando começou as maldades fiquei tão chateada com ele!

O amigo da vida inteira (trabalham juntos até hoje) Bernie Taupin é interpretado por Jamie Bell, que é famoso por “Billy Elliot”. Ah, se você já gostava dele porque ele era um menino que fazia ballet, vai se apaixonar por Bernie, é aquele amigo que todo mundo precisa, o porto seguro apesar de todas as tormentas. Sobre o ator, passei o filme INTEIRO tentando entender porque o conhecia, só quando vi os créditos entendi quem era.

Elton John teve três interpretes, que dizer Reggie, porque ele mudou o nome já depois dos 18 anos. Reggie criança é vivido por Matthew Illesley, ele é tão fofo e faz o primeiro número musical, é encantador ver as mãozinhas tocando os primeiros acordes. Reggie adolescente é vivido por Kit Connor, um jovem experiente no ramo e com muita competência, ele faz a transição do menino para o futuro rockstar (de comportamento) com tanta segurança, lindo.

A partir dos 18 anos quem dar a vida é Taron Egerton e ele não é nada menos do que PERFEITO. Lembro de ver Taron ao lado de Colin Firth, Michael Caine e Samuel L. Jackson em “Kingsman” e não imaginei que ele fosse capaz de me emocionar assim, só mesmo me fazer rir (ele bom nisso também). Ele mergulhou na vida e obra de Elton John e ficou tão parecido com ele. E como ele canta bem!

A cada cena com Taron eu pensava: ele merece cada prêmio que vier! Give an Oscar to this man, please.

Brincadeiras (que podem ser levadas à sério), fiquei surpresa em ver que Taron Egerton não tem tantos anos de carreira, ele começou a atuar em séries e em filmes em 2012, tem quase o mesmo tempo de carreira de Kit Connor (que começou em 2013). Espero ver mais os dois em produções do tipo.

Uma polêmica que tem surgido é o fato não terem tocado no nome de Freddie Mercury, assim como não tocaram no nome de Elton John em “Bohemian Rhapsody”. Durante o filme e realmente tentei lembrar se eles se conheceram na época, daí lembrei que ambos eram amigos de Lady Di, então sim, eram amigos. Mas realmente não há menções nos respectivos filmes. Estranho, né?

Outra coisa, não consegui deixar de comparar os dois filmes. São artistas da mesma época, destacaram-se no mundo do rock’n’roll tocando piano e tiveram problemas semelhantes. Os filmes têm estilos diferentes, apesar de haver críticas pesadas em ambos os lados, mas não dá para os separar, pelo menos na minha opinião.

Fiquei pensando muito nessa relação deles, mas compartilhar com vocês aqui tornaria a resenha cansativa. O que acham de um vídeo lá no IGTV? Me respondam pelo Instagram do NoSet!!!

Deixo vocês pensando nos óculos de Elton John!

Beijinhos e até mais.

Mais do NoSet