Por trás do cardigan – “Folklore: The Long Pond Studio Sessions”

Quando você ouve uma música tem curiosidade para saber como ela surgiu? Qual foi a intenção do cantor ou escritor ao escrever aquilo? Eu geralmente tenho essa curiosidade, nem sempre consigo decifrar a ideia das músicas que ouço.

Não seria incrível um documentário narrado e produzido pelos autores falando sobre isso? Pois é, Taylor Swift também acha isso!

Depois de alguns meses de lançar o álbum hino da quarentena, “Folklore”, ela lançou o documentário “Folklore: The Long Pond Studio Sessions”, exclusivo da Disney+.

O documentário conta com a presença da cantora e dos dois músicos que assinaram as canções que formam o álbum junto com ela, Jack Antonoff e Aaron Dessner. Eles escreveram, compuseram e produziram o álbum totalmente a distância um do outro, Taylor teve que construir um estúdio dentro da sua casa.

Incrivelmente, o álbum se tornou um sucesso, mas os três ainda não haviam se encontrado para tocar e cantar as canções fisicamente juntos. Eles fizeram isso no Long Pond Studio e desse encontro surgiu o documentário.

Taylor Swift explica qual a motivação de cada música na ordem que aparece no álbum, começando por “the 1” e terminando com a música bônus, “the lakes”, incluindo a música que ficou mais famosa, “cardigan”. Depois da explicação de cada música ela aparecia cantando dentro do estúdio, com os dois músicos nos instrumentos, mas nenhuma grande produção.

É emocionante ver a concentração dela ao interpretar aquelas músicas, mudando de expressão espontaneamente, mexendo os dedos como se pudesse tocar o piano de longe, curtindo a melodia (quase do mesmo jeito que eu curti ouvir o álbum).

As histórias por trás das músicas que mais me chamaram atenção foram de “the last great american dynasty”, “mirroball”, “mad woman”, “epiphany” e “peace”.

Em “the last great american dynasty” conta-se uma história, de Rebeka e seu marido, que realmente existiram. Taylor diz que sempre quis contar essa história e não sabia como, mas ao ouvir a melodia feita por Dessner ela conseguiu contar. A música ainda representa algo interessante, nem sempre o intérprete conta sua própria história, muitas vezes ele (ou ela) conta histórias de outras pessoas.

A música “mirroball” tem uma inspiração bem específica, a cantora e compositora comenta que geralmente imagina o cenário das músicas que escreve, nesse caso seria um pub já no fim da noite, com poucas pessoas no bar, ninguém no palco, um junkebox ainda tocando qualquer música e um único casal dançando na pista de dança, embaixo do globo (aquela luminária).

Mas o foco mesmo é esse globo, que, traduzindo do inglês, seria globo de espelhos. Ele reflete as luzes do pub e, por isso, chama atenção, mas ele só ficou assim porque o espelho se quebrou, tornando esse “defeito” sua maior qualidade (ela explica isso bem melhor, lógico).

Já “mad woman” é um grito de liberdade surgido de muito tempo de frustração, é a resposta de muitos homens que nos chamam de histéricas, dramáticas e loucas por reivindicarmos o que é de direito nosso, muitas vezes tentando invalidar nossos argumentos por isso. Com essa música Taylor falar que isso não nos calará mais, quanto mais nos chamarmos de loucas, mais loucas ficaremos, mostrando o empoderamento.

A seguinte é “epiphany”, nesta ela resgata uma história familiar e ainda faz homenagem aos profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate da pandemia. Ela diz que o avô dela lutou na Segunda Guerra Mundial, mas nunca fala sobre o que passou, isso a intrigou, queria saber o que faria alguém evitar um assunto, qual foi esse trauma tão grande que sequer vale a pena ser mencionado.

Ela relacionou isso com tudo o que os profissionais de saúde estão passando nesse momento, com certeza muitos deles estão passando por traumas como esse e, daqui a alguns anos, evitarão o assunto, assim como seu avô faz com a guerra que batalhou.

E “peace” é um quase um jogo paradoxal, tendo a melodia mais calma de todo o álbum, mas a letra informa que ela não pode garantir a paz de quem está ao lado dela. A motivação é da vivência dela com a fama, que a incomodou por muito tempo, mas hoje ela sabe lidar com isso, contudo, não obriga ninguém a passar por isso por ela.

Em outras palavras, a música faz o questionamento: será que vale a pena passar por tudo isso para está comigo? … O que pode ser interpretado e respondido de várias maneiras.

Mesmo as mensagens mais pesadas são contadas com a voz suave, delicada e poderosa de Taylor e melodias relaxantes e marcantes.

Todas essas explicações mostram que Taylor, como muitos de nós, passou a refletir muito dentro da quarentena, revendo suas prioridades e a forma como ela vinha trabalhando. Ela até chega a comentar que se viu liberta para fazer algo diferente, algo que ninguém esperava vim dela.

Sendo assim, ela se mostrou mais uma vez inovadora e corajosa, apostou em algo que nem sabia que poderia agradar tanto, mas se tornou o acalanto de muitos nestes tempos estranhos e difíceis.

Detalhe importantíssimo: ela não se contentou com “Folklore”!

Talvez sua inspiração tenha sido tão grande que transbordou, não coube em um só álbum. Semana passada, no dia 11 de dezembro, ela lançou “evermore”, com mais 15 músicas inéditas e com alguns videoclipes já prontos.

Tanto em “folklore” (na música “exile”) quanto em “evermore” (na música título) Taylor faz parceria com o Bon Iver, banda liderada por Justin Vernon, são duetos incríveis. A voz dele é grave, fazendo contraste perfeito com a suavidade da voz dela.

Ah como eu queria que mais músicos/cantores fizessem documentários assim, fazendo os fãs mergulharem em suas genialidades por 1h30, pelo menos.

Até mais!

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