Plebe Rude – O Concreto já rachou – 40 anos – Bar Opinião

Se existiu uma banda da “Turma da Colina” de Brasília, que passados os anos, mantiveram o espírito de contestação e atitude punk rock, essa foi o Plebe Rude. Mas jamais perdendo a ternura, ou leia-se, a melodia nas composições, o Plebe soube como poucos mesclar aquela geleia do pós-punk, com pitadas new wave, peso e letras de fácil assimilação. Mesmo sem abrir muitas concessões, através do padrinho Herbert Vianna, que foi lembrado pelo grupo em Minha Renda, gravaram um disco antológico para o rock brasa dos anos 1980, o EP O Concreto Já Rachou, com 7 músicas, 21 minutos de duração e muita crítica social, peso, fúria e sucessos. O Concreto… está fazendo 40 anos, na verdade, de lançamento oficial tem 39, e a Plebe Rude segue na ativa. Philippe Seabra, André X já nao tem mais Jander Bilaphra e Gutje Woortmann, da formação original do seu lado, mas reforçados há mais de 20 anos por Clemente Nascimento, lenda do punk paulista com Os Inocentes e o batera Marcelo Capucci. E a banda, comemorando as quatro décadas de O Concreto Já Rachou, fez um baita de um show na gelada noite de sexta-feira passada em Porto Alegre, no Bar Opinião.




Com a casa com um bom público, a expectativa era enorme para assistir a Plebe. Foram poucas as vezes que o grupo se apresentou por aqui, inclusive muita gente se perguntava quando foi a última vez que tivemos Plebe em Porto Alegre. Mas a certeza que, por volta das 21h15min, o quarteto subiu ao lendário palco da José do Patrocínio e começou os trabalhos com a ótima Sua História, do disco Nação Daltônica, de 2014. Segue do mesmo disco. Anos de Luta, e com Luzes, de 2000, fecham uma trinca de sucessos já do século 21. Apesar do frio da rua, o Opinião estava quente e caloroso com a banda que cantava e batia cabeça a cada música do quarteto. A Plebe então viaja para o século 20, mais precisamente os anos 1980 e ataca com o petardo Censura, seguida de A Serra, do Plebe Rude III, e logo depois continuam com Este Ano, do disco de 1993. Philippe Seabra, o cara da Plebe, sempre tocou bem, mas está cada vez melhor, simpático no palco, fazendo piadas com o lendário Clemente, sempre de bom humor. André X, o fundador da banda, segue firme com seu baixo vibrante e Capucci manda bem demais na batera.
No climão anos 1980, tocam A Ida, com aquela dúvida cruel, se quem tem razão, um burocrata ou um padre com um evangelho na mão? E o Opinião vira uma festa quando tocam The Dead Heart, do Midnight Oil, com seu tchururu e inserem Revoluções por Minuto, do RPM, na canção, num grande momento do show. Mapeando a carreira e a discografia, seguem o baile com O Que Se Faz, de 2006, e logo depois Pressão Social, mais uma com uma parceria afiada da dupla Seabra e André X. As letras da Plebe são um show à parte, eles bombardeiam todo mundo, todos os lados, numa crítica crua e poética das mazelas da sociedade e do cotidiano. E Seabra também mostra toda sua habilidade no violão, algo difícil de se fazer em canções pesadas.




E falando em porrada, tocam Nunca Fomos Tão Brasileiros, que abre alas para Johnny Vai à Guerra, iniciando a homenagem a um dos discos mais influentes dos anos 1980 da música brasileira. Tem espaço para Medo, de 2000, antes de começar uma pedrada atrás da outra do Concreto… começando com a Minha Renda, que folga no produtor Herbert Vianna. Sabra até diz que eles sacanearam por inveja do sucesso dele mesmo, mas que se tornaram grandes amigos do padrinho Vianna. A hilária Sexo e Karatê, que na original tinha a participação de Fernanda Abreu, vem colada com Proteção e sua crítica à truculência policial. Então, Seabra vai pra galera e canta a música no meio do povo, em mais um grande momento do show. O Plebe segue com A Mesma Mensagem, de 2019, provando que a banda ainda segue produzindo material novo e de boa qualidade. Falando em mensagens, o vocalista ainda tem tempo pra alfinetar colegas dos anos 1980, dizendo que ele nao expulsa ninguém de show, só que espera que as pessoas que assistam a Plebe ao menos leiam as letras antes para saber que sobra pra todo mundo na sua crítica. Do segundo disco, de 1987 (que para mim é do mesmo nível do Concreto…), seguem com a Bravo Mundo Novo, aquela que os sinos não dobram para você. E para encerrar, seguem com mais uma do Concreto…, e tem na letra que o concreto já rachou, Brasília é o ácido pitaco na capital federal. Para encerrar o show, logicamente, o maior sucesso da banda, Até Quando Esperar. Quando sua intro de cordas gravado começa, a galera já está batendo cabeça junto à tribal introdução e cantando junto os antológicos versos, “até quando esperar, a plebe ajoelhar, esperando a ajuda de Deus”.
O show da Plebe Rude ultrapassou minhas expectativas. Uma carreira toda mapeada em quase duas horas de show, vinte canções e uma performance inesquecível. Seabra, André, Clemente e Capucci tem uma sintonia incrível, e mesmo com um público que não era o ideal, ligaram o foda-se e mandaram bem num show de atitude, punk, rock e pop, com uma animação e bom humor absurdo. Não tem como passar incólume com as letras da Plebe, algumas com 40 anos de vida, mas cada vez mais atuais. Um soco de ironia lírica no pior que o Brasil tem, sendo crítico sem ser pedante, sem levantar bandeiras e sim através da arte, tocando firme nas mazelas e feridas do Brasa! Mais um show pra guardar na memória dos grandes do Bar Opinião.



