Crítica: Pisque Duas Vezes (2024) – Zoë Kravitz

Surpreendente. Essa é a primeira impressão que Pisque Duas Vezes (Blink Twice, no original) deixa ao término de sua exibição.

Num ano, até então, marcado por estreias de diretoras. Zoë Kravitz consegue trazer às telonas um ótimo filme com uma pegada de mistério que passa pelos filmes recentes de M. Night Shyamalan e pousa numa boa continuação para a franquia “Entre Facas & Segredos”. Inclusive, a história de Pisque Duas Vezes pode ser resumido como “E se não houvesse um Benoit Blanc (detetive interpretado por Daniel Craig) pra desvendar os mistérios?”

Bom, explicando melhor. Aqui no universo criado por Kravitz e E.T Feigenbaum (roteirista estreante em longas), temos uma problemática muito semelhante a de Glass Onion, um bilionário esquisito chama um grupo seleto de pessoas para passar um tempo em sua ilha. Tudo aparentemente é festa nesse mundo particular. Mas coisas estranhas começam a acontecer aos poucos até que algo tira o protagonista do seu lugar comum  e ele nota que algo errado está acontecendo.

O diferencial aqui, além da protagonista não ter nenhum super poder dedutivo, é que temos uma protagonista negra dirigida por uma mulher negra e esse fato impacta bastante no olhar, e na condução do filme como um todo. Tornando-o muito mais interessante. É muito mais legal ver uma perspectiva nova pra esse tipo de história, que a gente sabe que em algum momento abordará o racismo e o machismo. O cinema está com dificuldade de se reinventar, então é importante que, ao menos, os roteiros tenham visões novas sobre situações já exploradas.

O elenco princial de Não Pisque Duas Vezes

No entanto, mesmo que seja um enredo pouco original, e com o viés citado anteriormente. O roteiro não se escora em artifícios fáceis para contar sua história. Desde o primeiro frame, o longa benefecia os espectadores atentos com dicas do que vem a seguir, ao reparar em detalhes que a bela fotografia nos apresenta com organicidade, tudo vai se desenrolando de maneira bastante natural. Uma pena que em alguns momentos os diálogos tem que ser expositivos para abranger um público maior que talvez não esteja tão atento, soando, por vezes, redundante.

Meu único outro incômodo na fita, é a atuação da protagonista interpretada por Naomi Ackie. Zoë, quando escreveu o roteiro, certamente estava pensando em sua própria atuação para dar vida à protagonista Frida, e ao preferir ficar apenas atrás das câmeras durante a produção, creio que a escolha de Ackie não foi a mais acertada. Não é possível identificar se o problema foi de casting, da própria atriz ou da direção que deram a ela. Porém, em nenhum momento fica crível a admiração de Slater King (personagem de Channing Tatum) por aquela mulher. Ackie é muito histriônica na construção de sua personagem, que de certa forma, contradiz com uma elegância que o cenário proposto por aquela ilha paradisíaca sugere.

Agora, em relação a todo o resto do elenco, apesar de não ser papéis difíceis, cada ator desempenha de maneira mais que satisfatória seus papéis. O destaque realmente fica para Tatum, que acaba fazendo um trabalho muito a cima da média para sua carreira não muito inspirada. Ele traz uma naturalidade ao papel de CEO excêntrico arrependido, e consegue colocar nuances de charme e sedução de maneira precisa e surpreendente.

Naomi Ackie e Adria Arjona

Zoë Kravitz fez um boa estreia e mostra que pode fazer sucesso em mais uma área do audiovisual, as poucas escorregadas deste trabalho podem ser sanadas no futuro com uma maior confiança que Pisque Duas Vezes certamente trará a ela. É uma trama redondinha com algumas nuances únicas que, com certeza, vale a ida ao cinema.

TRAILER

A sensação que o longa deixa ao sair do cinema é exatamente o de surpresa por um trabalho tão maduro com uma equipe com pouca experiência.

Nota 8,0

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