Péricles apresenta seu show Calendário no Araújo Vianna em Porto Alegre

Sexta passada, no Araújo Vianna, em mais um show remarcado devido às enchentes do Rio Grande do Sul, foi a vez de Péricles Aparecido Fonseca de Faria aterrissar no templo da música de Porto Alegre. Nosso querido Péricles ou Periclão, ou como a apresentadora do show anunciou, a voz do samba, veio mostrar para os gaúchos seu espetáculo Calendário. O NoSet teve a sorte de conferir esse baita show e conta agora nas linhas logo abaixo.

Sexta-feira agradável, dia de São Francisco, um Araújo lotado aguardava com afinco o gigante da voz. Com carreira consolidada desde os tempos de Exaltasamba, Péricles e sua ótima banda subiram ao palco com 45 minutos de atraso. O que eu acho um absurdo, mas são coisas do Brasil que são difíceis de mudar. Com uma animação e simpatia única, Péricles esbanja fôlego, malemolência, e é claro, voz, abrindo com Final de Tarde, sucesso de 2013. Segue o show com seus sucessos cantados com emoção contagiante dos fãs, deixando o cantor extasiado com o carinho recebido. Com a plateia enlouquecida, o cantor empilhou sucessos, como a divertida Se eu Largar o Freio, e emocionado, rasga elogios ao valoroso povo gaúcho que enfrentou a tragédia e hoje está curtindo a vida regado a samba e alegria. Entre eles vai de Supera, Aceita Paixão, de sua carreira solo, e num momento único relembra seus sucessos da época do Exaltasamba, onde dividia inicialmente com Chrigor os vocais e depois com Thiaguinho, em uma das bandas de samba mais amadas dos anos 1990.

Rolou Já Tentei, Como Nunca Amei Ninguém, Eu Choro, Carona do Amor e a lindíssima Separação, onde Péricles literalmente emociona a plateia. Não é nenhuma surpresa afirmar que Péricles é um dos melhores cantores de samba e pagode romântico de sua geração, alternando timbres graves e agudos com um vozeirão sem limites. Mas como nota negativa, em mais um show de samba, a equalização do som deixou a desejar no Araújo, com volumes dos instrumentos muito altos e o microfone do cantor extremamente agudo e estridente. Uma pena que uma banda com tanta qualidade e um cantor idem tenha seu show prejudicado com esse tipo de problema. Outro detalhe do show é que um gigante telão anuncia canções, com muito colorido e imagens vibrantes, e por vezes intercalando clipes do artista, entre eles o sucesso A Carta, mais um destaque de seu antigo grupo.

Periclão então pega o banjo e começa uma roda de samba, despejando sucessos do gênero, relembrando a época que acompanhava artistas em shows, dentre eles, a inesquecível Jovelina Pérola Negra. Então fomos agraciados com Não Deixe o Samba Morrer, O Show Tem Que Continuar, do Fundo de Quintal, A Pureza da Flor, de Arlindo Cruz, Eu e Você Sempre, do Jorge Aragão, Bagaço da Laranja, da Jovelina, Cadê Ioiô, Gira Girou, um hino de superação para os gaúchos, Tá Escrito, outra canção extremamente motivacional, para cima. Seguiu com Clareou e O Que é, o Que é, de Gonzaguinha, num dos melhores momentos do show, em que o pagode e o samba de responsa comandaram o Araújo. 

Voltando a sua carreira, fez um dueto com o telão com a cantora Marvvila, com a canção  Nosso Amor Quer Paz. Segue com canções mais recentes e na ponta da língua do povo, como Ainda me Iludo, em que Péricles coloca um chapéu estiloso com direito a telão com o clipe no fundo. Hackearam-me e Graveto completam o bloco de novas canções.

Muda o clima do show, e emulando a disco anos 1970, com mistura gospel e soul music, Péricles e seus backing vocals, com direito a dancinhas e muito talento vocal, tocam How Deep Is Your Love, do Bee Gees e Stand By Me. Não dá para negar que é um show de voz, arranjos vocais de primeira, mas um cara como vasto repertório do Péricles, sambista dos bons, achei um momento desnecessário que poderia ser preenchido com samba e pagode romântico (é o que quer quem vai ver ele tocar), enfim, coisas que artistas inventam para encher linguiça nos seus shows. Mas voltando ao que ele faz de melhor, chama a mulherada com a Dança do Bole Bole, segue com o romantismo de Daquele Jeito e Melhor eu ir, revisita o Exalta com Jogo de Sedução e fecha o bloco com a belíssima Até Que Dure. Para terminar o  show, revisita um Tim Maia com Não Quero Dinheiro, em mais um momento que parece que o Sambô, com suas cretinas versões, também fizeram a cabeça dos grandes sambistas. Nada contra Tim, mas ele  poderia ter terminado com um grande sucesso do seu rico repertório. Enfim, tocar uma dessas é festa garantida e o público em êxtase vibrou com as quase duas horas de um show de primeira do Periclão.

Péricles é um showman, dança com uma desenvoltura invejável, domina o palco, tem uma voz ampla que passeia por registros graves e agudos com extrema facilidade e tem um repertório romântico na boca do povo. Seu público lotou o Araújo e saiu satisfeito, um grande show com alguns problemas técnicos e alguma escolha de canções um tanto quanto  duvidosa, mas nada que não tenha valido a pena a experiência de ver o gigante da voz, e só pelo momento samba com ele no banjo e sua interpretação da sensacional Separação já valeria muito o ingresso. Carisma, talento e muita simpatia numa noite emocionante pro artista visitar o Rio Grande do sul e para seu público em êxtase com o pagode romântico de primeira da fera Péricles.

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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