Percepção do tempo – “72 Horas”

A percepção do tempo pode ser mudada de diversas formas, nossa memória pode ser apagada por meio de inúmeras ferramentas, isso é estudado em medicina e no direito, sendo este o ponto de partida do casal que estrela “72 Horas”.

Este é o primeiro longa dirigido e escrito por Brian Ulrich, conhecido apenas por trabalhos em curtas-metragens, e está chegando ao Brasil pela distribuição da A2 Filmes. No elenco principal estão Robert Palmer Watkins, Thomas Wilson Brown, Deborah Lee Smith, Roy Huang e Gina Hiraizumi.

Jack e Beth se conhecem na faculdade, ela cursando medicina e ele direito, mas tendo que estudar a ciência por trás da memória, cada um em sua especialidade. Eles se casam depois da faculdade e começam a “vida de adulto”, perseguindo os sonhos profissionais.

O sonho de Jack é ser detetive, sempre foi e sempre vai ser, para isso ele tem entrando no jogo dos veteranos, tentando fazer parte da equipe e sendo fortemente influenciado pela parceiro, Dave, a fazer coisas que sua moral pessoal não concordam.

Entre os plantões de Beth e os horários loucos de Jack, eles simplesmente não se vêm e isso afeta a relação, especialmente porque ele tem priorizado a carreira sobre o casamento.

A atual missão de Jack e Dave é descobrir o esquema de uma gangue que trafica narcóticos e é rival da gangue japonesa. Jack acaba sendo vítima de uma armadilha orquestrada pelo próprio Dave, mas Jack só percebe isso depois de muita investigação e confusão mental. Isso porque Jack acorda três dias depois, na cozinha da casa dele, todo machucado, sem saber como foi parar ali nem onde estão Dave e Beth. Ele não sabe, mas foi alvo de um novo narcótico que muda a percepção do tempo, alguns alegam ainda ela mudaria a experiência com o tempo. Em outras palavras, a pessoa realmente voltaria no tempo e poderia mudar os eventos em que está envolvida. E é assim que Jack se sente, uma vez que ele volta gradativamente ao dia que a confusão toda começa.

Como assim? A confusão acontece em uma quinta à noite, ele acorda na cozinha no domingo, quando ele dorme nesse dia acorda no sábado, depois na sexta, mas como se tivesse vivendo aquilo na “sequência normal”. É uma lógica um pouco complicada de entender, é preciso prestar atenção na passagem do tempo para não perder o raciocínio. Aos poucos vemos que Jack vai percebendo o quão precisa redirecionar as suas prioridades, focando na relação com Beth. A base da estória parece ser a união de várias ideias boas, mas que não se encaixam muito bem. As ferramentas utilizadas no longo também parecem ser boas, mas a execução não ajudou muito.

Vou citar algumas dessas ferramentas, técnicas: Primeiro tem o áudio, que sempre parece distante quando Jack volta no tempo, especialmente em momentos chaves, dá para ouvir também um “tic-tac” aumentando gradativamente quando ele chega perto da informação necessária e quando está perto de mudar de dia.

Em segundo lugar tem os easter-eggs da própria estória. Várias cenas mostram objetos que parecem desconexos, mas depois a presença deles é explicada, um exemplo são as moedas espalhadas na mesa de cabeceira de Jack, ele as reúne e depois usa no orelhão, que já havia aparecido antes, com o telefone dependurado.

Por fim tem o uso de memórias antigas de Jack, ligando ao presente, de forma que ele começa a entender as prioridades. Foi interessante porque usaram um livro bem conhecido, “04 Formas de Amor”, de C.S. Lewis, para engatilhar esses momentos de insight dele, para cada forma de amor um momento específico.

Ah, as quatro formas de amor são: Storge (amor filial); Philia (amizade); Eros (paixão, amor romântico); e Ágape (sobrenatural).

No filme usam Ágape como se fosse uma “desculpa” para Beth perdoar alguns erros graves de Jack, sendo isso que os fariam voltar a ficarem juntos, só que essa percepção é equivocada. Ágape está mais relacionada à religião, ao que acreditamos para além do que “nossa vã filosofia” explica.

Ainda assim, essa relação entrega algumas cenas clichês, então vale a pena o uso.

Até mais!

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