Penadinho: Vida. Análise da sétima Graphic MSP.
Por: Franz Lima
Cada nova edição do selo Graphic MSP é uma surpresa das mais agradáveis. Com “Penadinho: Vida” não poderia ser diferente.
Vida
Alguns detalhes que irão abalar os extremistas
Mesmo sendo uma história de amor, há algumas nuances que irão irritar os mais exaltados no quesito religião. A presença de demônios ancestrais como Pazuzu (incluído até no filme O Exorcista) e Amaimon (um dos sete príncipes do Inferno), além da contagem para a brincadeira de esconde-esconde que termina no número 666 são brincadeiras que irão – indubitavelmente – fazer os mais exaltados se manifestarem. Entretanto, não há nada de sombrio nessas ‘aparições’, mas simples brincadeiras dos autores.
Afinal, o que esperar de uma história onde o protagonista é um fantasma?
Cores e sombras
Os desenhos são um ponto forte da graphic novel. Mesmo com diferenças das tradicionais caracterizações de Mauricio de Sousa, o que já era de se esperar, a dupla Cristina e Paulo transformou o Penadinho e sua turma em algo surreal. Algumas imagens têm aspecto de mangá, outras parecem cenas de animação. No geral, o que podemos ver é um espetáculo de cores, luz e sombras onde o lado macabro de “Vida” ganha ares de algo amigável. Mesmo as cenas mais impactantes – como o surgimento da Dona Morte – receberam uma atenção especial por parte dos autores, fato que contribuiu para minimizar o impacto. Em resumo, essa é uma HQ que pode ser lida por adultos e crianças sem o menor temor.
Uma HQ para pensar.
Caso ainda não tenha lido as outras edições do selo Graphic MSP, vá correndo e adquira os demais títulos. O motivo? Todas, incluindo esta sétima edição do selo, ampliam com maestria o universo da Turma da Mônica. Em cada uma das graphics vocês irão se deparar com artes incríveis, roteiros consistentes, humor e um acabamento primoroso.
Quanto a ‘Penadinho: Vida’, antes de ser uma história em quadrinhos ela é um exercício de reflexão. O trato com um tema tão controverso quanto a morte e a abordagem da permanência do amor no pós-vida, acrescidos dos problemas e conflitos característicos que tais temas trazem consigo, fizeram com que esta Graphic MSP seja uma das mais belas e introspectivas da série.
Apuro para atrair os antigos e novos leitores.
Como nas demais edições do selo, a Panini mostrou competência – sob o aval do próprio Mauricio de Sousa – e criou uma revista com um visual atraente, acabamento impecável, ótimo roteiro e arte belíssima. Outro ponto positivo está na inclusão dos bastidores da produção da obra, um pequeno making of com as particularidades do processo criativo da dupla.
Spoiler. ATENÇÃO!!!!
Esta é uma história que marcará a mitologia por trás da turma do Penadinho. Não apenas podemos ver a declaração de amor do Penadinho para a Alminha como também testemunharemos a primeira aparição do Lobi… e de forma apoteótica. O mais importante, entretanto, está no foco da verdadeira amizade entre o grupo e as nuances de cada um. É muito divertido ver a inocência de Frank, o medo incontrolável do Muminho e a luta constante do Penadinho para declarar seu amor.
‘Vida’ também mostra que há um ponto de vista para cada situação. Os aparentes vilões escondem, no seu âmago, seres que querem o mesmo que a maioria de nós: liberdade e o amor. Mesmo tendo vilões demoníacos e um ser que tem poder suficiente para controlá-los, é possível ver que eles não são essencialmente malignos.
Por fim, a presença da personagem Dona Cegonha traz um ar de esperança ao contexto da história. A possibilidade de um recomeço é algo, sempre, reconfortante.