Close
MÚSICA

Paralamas do Sucesso – Araújo Vianna

Paralamas do Sucesso – Araújo Vianna
  • Publishedjulho 1, 2025

Assistir a um show dos Paralamas do Sucesso é aquela certeza absoluta que por mais de duas horas teremos mais de 30 músicas que estão na boca do povo desde 1983 e que a música mais recente do set list já tem quase um quarto de século. Enfim, o povo quer ouvir hits, é sempre um prazer para os ouvidos assistir Bi, Herbert e Barone nos presenteando com um dos shows mais competentes, por mais que sejam digamos assim falando, iguais a qualquer outro. Mas ao menos não enganam ninguém, prometem um show com o melhor das quatro décadas da banda, um baú de velharias boas. E como tradição anual, trouxeram mais uma vez o show para Porto Alegre, no Araújo Vianna, na noite fria e chuvosa de sábado passado. E mais uma vez o NoSet estava lá, se rendendo aos sucessos do Paralamas.

Outra certeza é de casa cheia. Mesmo com um frio de rachar, chuva constante e o rio Guaíba lambendo a cidade de novo, mais de 4 mil pessoas abarrotavam o Araújo atrás de boa música. Público eclético, bom número de famílias, jovens, crianças e veteranos se espremiam e aguardavam o trio que teimava em não subir. Naqueles atrasos quase intoleráveis, de mais de meia hora, por volta das 21h35min, eis que surgem os Paralamas do Sucesso tocando na capital dos gaúchos. Com os fieis escudeiros João Fera nos teclados, Bidu Cordeiro nos trombones e Monteiro Jr. no saxofone, o power trio mais famoso do Brasil abriu sua máquina de hits com Vital e Sua Moto. Nestas alturas ninguém mais sentou para ouvir clássicos como Cinema Mudo, de 1983, passando por Bora Bora, de 1988, e Pólvora, de 1989.  Como sempre, o trio esbanja qualidade. Herbert continua sendo um exímio guitarrista e mesmo não tendo mais uma voz limpa, ainda tem fôlego para comandar quase sozinho uma massa por mais de 120 minutos. Bi Ribeiro tem uma precisão e um baixo que é sua marca registrada e João Barone é uma lenda na bateria que dá gosto ver de pertinho tocar. Ska , a próxima música do show comprova tudo isso, com aquele naipe fantástico e pegada precisa da banda comandada pela bateria do Barone. A caixa de pandora da alegria não parava, e como os Paralamas falam pouco, é música atrás da outra seguindo Lourinha Bombril, versão dos argentinos dos Los Pericos e homenagem ao rock hermano segue com Track track, uma das versões que apresentou para o Brasil nos anos 1980 o ídolo Fito Paez.

Calibre, uma das mais recentes do set e que marcou a volta da banda pós acidente de Herbert, em 2002, segue o set com o peso saliente das guitarras do cantor e seguem a toada com a pegada forte de Selvagem. Depois vem aquele bloco mais romântico, em que a banda encarreira em sequência Mensagem de Amor, Seguindo Estrelas, Uns Dias e Romance Ideal, onde Herbert canta sobre aquela menina que faz pagar os erros que ele não cometeu. Não preciso dizer que a cada música o coro ia junto, num clima de festa e sincronia público e banda que chega a arrepiar os Paralamas, que enfatizam que adoram tocar em Porto Alegre e fizeram shows antológicos por aqui. Fechando o bloco romântico, Ela Disse Adeus

A banda sabe intercalar aqueles momentos de selvageria (trocadilho besta com o disco de 1986) com bateria pesada, guitarras cortantes e letras que são um soco no estômago, com canções como Bella Luna, de 1996. Quando tocaram Cuide Bem do Seu Amor, era visível lágrimas na plateia com a lindíssima letra. O show segue o tom romântico de ruptura com Tendo a Lua e seguindo com a premonitória Aonde Quer Que Eu Vá, momento que arrepia o público.

Mas bonito mesmo fica o Araújo quando Herbert pede pro povo acender qualquer tipo de luz, poderia ser dos celulares ou até de, hoje condenáveis, isqueiros para iluminar o Araújo Vianna na canção Lanterna dos Afogados. Com aquele solo incrível de Herbert, aquela letra incrível, aquele mar de luz na frente, mais um dos grandes momentos que presenciei nessas coberturas, mais uma vez uma perfeita simetria banda e público, simplesmente de arrepiar.

A banda segue quase sem parar, com canções como O Amor Não Sabe Esperar, Será que Vai Chover? (ao menos em Porto Alegre nós queríamos que não estivesse), Assaltaram a Gramática e o cover de Tim Maia, Você.

O final do show é aquela volta ao tempo gostosa, começando com aquele naipe incrível de O Beco, depois lembrando a parceria com Gilberto Gil de A Novidade, que segundo Herbert, muita gente que ali estava presente nem nascida era quando fizeram essa junção de talentos. A divertida Melô do Marinheiro nos transporta para os anos 1980, que se completa de vez com Alagados, uma das obras-primas da música nacional, e que mesmo 40 anos depois, infelizmente pouca coisa mudou daquela realidade descrita na canção. O show segue com o super sucesso dos anos 1990, Uma Brasileira, e finda com mais uma de 1984, a juvenil mas ainda divertida Óculos, que ainda hoje faz todo mundo dançar e cantar junto.

Para o bis mais alguns petardos. Comandando a parada, Monteiro Jr. e Bidu Ferreira com seu naipe chamam Sossego, sucesso do síndico Tim Maia, colocando o auditório para dançar. Teve ainda Perplexo, o blues paralâmico Caleidoscópio, e para encerrar o show, aquela canção que todo mundo com mais de 30 anos sabe cantar, Meu Erro e sua linha de baixo inesquecível de Bi Ribeiro. Encerrar as músicas deles, pois ainda teve tempo para Que País É Esse, dos colegas de turma Legião Urbana, outra que continua mais atual que nunca e termina com o clássico do The Clash, Should I Stay or Shoud I Go para findar  de vez um show de mais de duas horas e 36 músicas.

Como falei no início, Os Paralamas há alguns anos não apresentam muitas novidades, e provavelmente deve ser o terceiro show seguido por aqui que eles tocam as mesmas canções, quiçá na mesma ordem, mas não tem jeito, quem é bom já nasce feito, e o festival de sucessos da banda é o banquete que o público quer saborear. A banda sabe que o povo quer ouvir aqueles sons que entre 1983 e 2002 os fizeram ser uma das bandas mais respeitadas do Brasil e da América do Sul. E o minimalismo da banda, que ainda usa palco com amplificadores, um som orgânico, e apenas um telão para ilustrar o espetáculo ao fundo é a prova que para os três (ou seis), a música sempre está em primeiro lugar. Enquanto eles estiverem firmes, podem vir muitas vezes aqui que com certeza teremos casa cheia sempre. Uns podem chamar de comodismo, mas poucas bandas podem ter esse privilégio de, por mais de duas horas, emendar tanta música boa atrás da outra e, se puxarmos da memória, ainda faltou muita coisa legal e importante do cancioneiro deles. Mais um show pra conta e vida longa aos Paralamas e seus sucessos!

Written By
Lauro Roth