O que surgiria da junção de filmes como O Resgate do Soldado Ryan, Soldado Universal, Hellboy, Capitão América, Resident Evil e Bastardos Inglórios? Creio que ao pensar nessa questão, os roteiristas Billy Ray e Mark L. Smith queriam chegar a algo realmente impactante na tela. Então, surge Operação Overlord, filme dirigido por Julius Avery, cujos trabalhos incluem Sangue Jovem e Yardbird. Será que eles conseguiram algo à altura dos filmes citados? Descubram comigo, logo após o trailer.
Operação Overlord é um filme com muitas passagens marcantes, bem estruturado e tenso em diversas sequências. Ele conta a história de um grupo de soldados que tem uma única missão: destruir uma base de operações nazista que foi implantada em uma igreja na França. O detalhe fica por conta do simples fato de que eles têm poucas horas para fazê-lo e, de alguma forma, esse ataque é vital para o sucesso do dia D, a invasão às praias da Normandia. Curiosamente, esse esforço de guerra recebeu nome Operação Overlord.
Historicamente o filme tem muitos pontos que – dadas as devidas proporções – mostram coerência e esforço por parte dos roteiristas. Houve realmente planos que envolviam paraquedistas para destruir pontes e áreas de comunicação, visando evitar a transmissão de mais informações aos nazistas sobre o desembarque de tropas na Normadia. Como estavam sobre intenso ataque das baterias antiaéreas, muitos aviões ou desviaram ou lançaram seus combatentes muito longe do local planejado. E é assim que começa o longa…
Algo de novo no front.
Pode parecer estranho para muitos, mas a Operação Overlord realmente começou há poucas horas do desembarque de tropas na Normadia. Caso vocês não saibam, as tropas do Eixo estavam muito bem situadas na França, mas seguidos bombardeios minaram não só a força de uma parte da tropa como destruíram rotas de passagem de tanques e tropas.
No início do longa, por meio de uma sequência voltada a apresentar aqueles que em breve seriam os destaques, estamos em um avião de transporte de paraquedistas. O clima é tenso e apenas um homem permanece isolado. São jovens que há pouco tempo eram apenas civis, mas que agora detêm em suas mãos o destino de incontáveis pessoas e, mais do que isso, a preservação da liberdade.
Durante esta passagem, fora as apresentações de cada um dos personagens, podemos contemplar uma leve parcela do horror da guerra. Essa passagem serve para evidenciar o quanto é cruel uma batalha, o quão rápido nossa vida pode ser ceifada no front.
E ainda continuamos achando que isso pode ser o pior de estar numa guerra dessas proporções…
Um novo mal.
Ao citar que Operação Overlord tem elementos de outros filmes eu não quis diminuir o esforço do produtor J. J. Abrams que tentou trazer algo diferente sobre um tema tão abordado como a Segunda Guerra Mundial. Eles criaram um roteiro que mescla ação, suspense e guerra a um quarto elemento pouco comum em produções com esse tema: o terror.
Até este ponto, o longa se desenvolve com boa qualidade. Há cenas capazes de provocar a agonia do espectador, outras onde o clima da guerra é quase real e outros elementos muito interessantes na história. Quando chega o momento de revelar o que está escondido, a trama flui bem.
Na verdade, aos poucos vamos nos embrenhando na missão dos combatentes paraquedistas. É fácil se tornar “amigo” dos caras, principalmente se levarmos em conta que eles são os que estão do lado correto do combate, falam e compreendemos o que dizem e eles são os representantes dos Aliados. Do outro lado, soldados alemães dominam um vilarejo francês e fazem um estrago moral, físico e psicológico em todos os que lá vivem. Como não odiá-los?
Contudo, o que estava ruim pode ficar ainda pior. Os alemães estão criando um novo mal.
Mudando de gênero.
Ao chegar ao ponto onde descobrimos que existe algo muito pior que a guerra no vilarejo francês, as coisas começam a ficar ainda mais tensas. O tempo corre para os paraquedistas e perdas ocorrem conforme novos fatos surgem. Neste ponto, fica claro que o roteiro quis mostrar o quanto é complicado colocar jovens no front diante de inimigos preparados. Em contrapartida, a evolução da história desmistifica isso e acaba transformando os alemães em idiotas despreparados.
Frente a uma missão praticamente suicida, sitiados em uma casa (a residência da bela francesa Chloe, interpretada pela atriz que acaba se mostrando melhor de tiro que os nazistas) e ainda com o objetivo inacabado, os militares partem para a invasão de uma das áreas mais protegidas do vilarejo, lotada de soldados alemães (os mesmos que têm um líder da SS altamente treinado, mas que não agem de acordo com o suposto treinamento que receberam).
É aí que saímos de um filme de guerra para um cujo tema são monstros. Não se trata propriamente de um longa – ou parte dele – de terror, já que a direção optou por mostrar aquilo que provocava tensão e medo em certa parte do filme. Na minha opinião, esse é um dos erros do longa, já que a sugestão seria bem mais impactante do que a exposição. O fato é que nos deparamos com criaturas que são realmente uma mistura do Soldado Universal, do Capitão América, dos monstros de Hellboy e com um aspecto visual parecido com seres de Resident Evil. Deu certo? Em parte, sim. O porém está na escolha de um clímax onde o medo deu lugar ao “Gore” e à ficção científica exagerada.
O clímax.
Diante disso, somos arrastados para uma área interna da igreja onde fica o laboratório alemão. Ambiente claustrofóbico, mal iluminado e cheio de espécimes (leia-se franceses mortos). Após alguns conflitos, os militares aliados se infiltram para enfim destruir o laboratório e a base de comunicação. Até este ponto, tudo flui bem. Infelizmente o que se segue é algo muito próximo ao que é possível ver em programas como Face Off (que eu recomendo demais), mas com menos qualidade. Quero esclarecer que a qualidade visual é muito boa, sem que isso implique em dizer que a qualidade de roteiro dê suporte aos efeitos e maquiagens elaborados. Gastaram para mostrar um final nada bom.
Para embasar o que está acima, digo o seguinte: tudo se encaminhava para o velho embate entre o bem e o mal. Até aí, tudo certo. Depois vem a também velha fórmula do sacrifício de um dos “mocinhos” para que os demais sobrevivam… só que falta algo para dar mais credibilidade ao que é mostrado. Por todo o longo é possível ver homens sendo arremessados contra paredes, vidraças e sabe-se lá o que mais. Via de regra todos sem qualquer sequela. Isso já é uma afronta à inteligência do espectador, porém algo comum em filmes similares. O que não dá para engolir é o menosprezo aos inimigos que são mostrados sempre como imbecis completos. Ficou algo muito próximo do que vimos no filme brucutu Comando para Matar, com Arnold Schwarzenegger.
Alguém deve estar perguntado “e daí? Qual o problema?”. Certo, leitor, vou responder. O problema está em você não estabelecer uma linha de trabalho no filme. Essa mudança de suspense para ficção, de terror para guerra, de ação para drama. Em nenhum momento a trama se estabelece e termina, infelizmente, com aquele plano aberto onde a cidade parece que não passou por nada. Aliás, ver um soldado americano ter removido de sua barriga uma agulha de quase 20 centímetros e da espessura de uma caneta Bic é algo que incomoda, ainda mais quando o restante de suas aparições não mostram sequer um resquício de dor disso. Faltou coerência.
A trama começa bem, ganha ares de suspense e terror, mas finda como um sci-fi fraco. Tal como disse no início do post, as fontes de inspiração existem, porém não acredito que tenham sido analisadas corretamente, o que é uma pena.
Operação Overlord é um filme mediano, com bons momentos de tensão e que poderia ter muito mais a acrescentar ao público.
Elenco:
Jovan Adepo – Boyce
Wyatt Russell – Ford
Mathilde Ollivier – Chloe
John Magaro – Tibbet
Pilou Asbæk – Wafner
Iain de Caestecker – Chase