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Análise Fílmica: Onde Vivem Os Monstros (2009)

Análise Fílmica: Onde Vivem Os Monstros  (2009)
  • Publicado em: janeiro 22, 2016

Para esta análise vou utilizar conceitos da psicologia Freudiana. Se você tiver dúvidas, em relação ao significado de alguns termos, vá ao pé da página. Coloquei um glossário no fim do texto para facilitar o entendimento. Sendo assim, vamos ao filme!

ATENÇÃO: Contém spoilers do filme.

Max estava na idade ou na fase de latência. Portanto ainda não desenvolvera a pulsão sexual, porém a outra, a agressiva, que por sinal era bem “latente”. A falta de atenção da irmã (Connie) e da mãe, somado à falta de amigos e à ausência sentida, do pai, o tornou um garoto rebelde e revoltado. A sua pulsão, controlada pelo Id, levava-o a atitudes que traziam rapidamente remorso e arrependimento. Um exemplo: Quando destrói um presente que a irmã (Connie) recebera do namorado. Logo após, ao ver o que tinha feito, o garoto se arrepende e sente-se mal. Quando a mãe chega em casa, ele pede ajuda para consertar o erro. Tudo isso pode ser explicado pelo impulso do Id, destinado a reduzir a tensão, aumentar o prazer e minimizar o desconforto.

Max então resolve fugir, fugir da mãe, fugir da realidade, do mundo todo. Ele encontra um mundo novo, “pessoas” novas, que suprem suas necessidades. Os monstros talvez tenham sido a alternativa às pessoas, que tanto o magoavam e o faziam sofrer. Não por acaso, o primeiro que o garoto visualiza é Carol, um monstro excluído do grupo, que se sentia e agia diferente dos outros, destruindo casas que eles mesmos haviam construído. Atitude muito semelhante a do garoto, que desrespeitava a mãe, apenas para conseguir atenção. E que destruía as coisas da irmã, pelo mesmo motivo.

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Naquele novo mundo, o garoto satisfaz seus desejos, encontra amigos, vira rei, induz os outros a fazerem suas vontades. Mas aquela experiência também o ensina a “ouvir” seu superego. Ele aprende que de acordo com suas próprias vontades, que, de acordo com o seu egoísmo, ele pode fazer quem ele ama sofrer. Tanto que, ao retornar para casa ele abraça a mãe num gesto de perdão, que não requere palavras para explicar-se.

Muitas vezes fazemos o mesmo. Usamos todos os recursos que tivermos às mãos para fugir da realidade, e para atender as necessidades latentes do Id. Muitos se deixam levar por suas pulsões e ignoram o superego, utilizando-se de vícios, drogas, e tudo o mais o que for necessário, sem se importar com as consequências, ou quem vai sofrer com isso.

Max não estava certo, mas também não estava errado. A mãe, por ter de criar uma filha adolescente, um filho ainda criança, administrar a casa e prover o sustento para os dois, somado a provável ausência que ela também sentia do pai dos garotos, mais a pressão a que era submetida em seu trabalho, não percebeu as necessidades do filho.

A irmã (Connie), muito preocupada com sua “imagem”, e sobre o que seus amigos pensariam, não dá a devida atenção ao irmão, ignora seu sofrimento e o trata superficialmente.

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Claro que essas coisas poderiam não justificar as atitudes bruscas do garoto. Todavia, nosso Id não se preocupa com isso. Ele é apenas um botão, que, quando sofremos, ou sentimos tamanha necessidade por aliviarmos nossas tensões e chegarmos ao prazer, é apertado, involuntariamente pelo Ego. Mais tarde vem o arrependimento, o Superego o nota rapidamente. Não há mais o que ser feito, tentamos então concertar o que foi quebrado, sejam objetos ou relações.

Se de acordo com o que diz a psicanálise, investigarmos, identificarmos e tratarmos o que há de “obscuro” em nossa mente, talvez possamos manter um melhor controle sobre o nosso Id, nessas horas tão difíceis. E mais do que isso, deve ser possível, atingir através desse processo, a minimização das tensões. Processo tão ”idealizado” por nosso Id. Mas é claro que tudo são hipóteses. Cada um reage de formas diferentes. O próprio Freud criou suas teorias a partir de experiências próprias. Se tivesse uma vida diferente teria criado teorias diferentes.

Primeiro de tudo, o importante é identificarmos em nossas vidas, o que gera a tensão e o que gera o prazer. Depois temos de tentar achar, da forma mais racional possível, um modo de aliviar um, e aumentar o outro, porém sem nos esquecermos do mundo e das pessoas a nossa volta. A felicidade pode estar numa linha tênue entre o que Superego admita, o Ego conheça e o Id aprove. Porém, vale lembrar que as pessoas que vivem e convivem com você, buscam o mesmo, ou pelo menos deveriam.

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Nome original: Where The Wild Things Are

Diretor: Spike Jonze

País de origem: Estados Unidos

Informações adicionais: O filme é baseado no livro infantil, de mesmo nome, de Maurice Sendak lançado em 1963. A publicação já vendeu 19 milhões de cópias mundo afora.

Glossário*:

Fase de latência – Qualquer que seja a forma de resolver a luta. A maior parte das crianças parece modificar sua ligação com os pais em algum momento depois dos 5 anos de idade e voltar-se para os relacionamentos com os amigos, para as atividades escolares, para os esportes e para outras habilidades. Esta fase, dos 5 ou 6 anos até o início da puberdade, é denominada período de latência, quando os desejos insolúveis da fase fálica são recalcados pelo superego com êxito.

Pulsão sexual – Pulsões são pressões para agir sem pensamento consciente para determinados fins. Estas pulsões são a “causa fundamental de toda atividade”. Freud chamava os aspectos físicos das pulsões de “necessidades” e os aspectos mentais de “desejos”. Necessidades e desejos impelem as pessoas a agir. A sexual é uma das pulsões básicas. Segundo Freud, “As pulsões sexuais são notáveis por sua plasticidade, pela facilidade com que mudam seus objetivos, por sua permutabilidade – pela facilidade com que substituem uma forma de gratificação por outra – e pelo modo com que podem ser mantidas em suspense”.

Id – É o núcleo original de onde emerge o resto da personalidade. Ele é biológico por natureza e contém o reservatório de energia para toda a personalidade. O Id propriamente dito é primitivo e desorganizado. Ele não se modifica à medida que crescemos e amadurecemos. O Id não muda pela experiência, porque não está em contato com o mundo externo. Seus objetivos são simples e diretos: reduzir a tensão, aumentar o prazer e minimizar o desconforto.

Superego – Serve como juiz ou censor sobre a atividades e pensamentos do ego. Ele é o repositório de códigos morais, de padrões de conduta e dos construtos que formam as inibições para a personalidade. Freud descreve três funções do superego: consciência, auto-observação e formação de ideais.

Ego – É a parte da psique que está em contato com a realidade externa. Ele se desenvolve a partir do id. O ego protege o id, mas também obtém energia dele. Ele tem a tarefa de garantir a saúde, a segurança e sanidade da personalidade. Freud pressupunha que o ego tem diversas funções em relação tanto ao mundo exterior quanto ao mundo interior, cujos anseios ele procura satisfazer. O ego controla e modula as pulsões do id – sensível as necessidades – e as do ego – sensível as oportunidades no mundo. O ego é o centro da consciência e um dos maiores arquétipos da personalidade. O ego proporciona uma sensação de consistência e direção em nossas vidas. O ego tende a se opor a tudo que possa ameaçar esta frágil consistência da consciência e tenta nos convencer de que devemos sempre planejar e analisar conscientemente nossas experiências.

*Para saber mais sobre o assunto ver o livro “Personalidade e Crescimento Pessoal” de James Fadiman e Robert Frager. Mais especificamente o capítulo 02.

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Redação

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