O que Seu Avô tem a te dizer? – “Sabedoria das Idades”
A figura do mais velho, do ancião, parece estar sendo perdendo seu valor na sociedade, que cada vez mais busca a fonte da juventude. O problema é que o esquecimento também serve para todos os ensinamentos destes que estão há tempo no mundo do que nós.
O Papa Francisco, conhecido por ser o avô da Igreja Católica (título que o emociona), mas que toca os corações de todos que têm fé em Deus, não importando a religião, inspirou-se nesses aprendizados, começando pelos que eles mesmos gostariam de compartilhar e começou um projeto junto a Editora Loyola, surgindo assim o livro “Sabedoria das Idades”.
Em uma parceria com a Unbound, organização internacional que dá amparo a idosos e crianças pelo mundo, a Editora Loyola rodou 18 países coletando relatos de idosos, aprendendo um pouco do que eles aprenderam pelo mundo. O Papa Francisco leu os relatos e fez seus próprios comentários, primeiro sobre o tema geral depois sobre algum relato que o tenha chamado atenção.
O livro foi publicado em 2018 e recebeu uma autoria carinhosa: “Papa Francisco e Amigos”. Sim, ele chamou esses idosos do mundo inteiro de amigos, talvez pela similaridade em fé e pensamentos.
A edição segue o padrão de um encarte de revista, dando intimidade para os relatos, já que são resultados de entrevistas. A introdução é do próprio Papa Francisco, os demais são temas dos relatos, quais sejam: trabalho, luta, amor, morte e esperança. O objetivo é mostrar a visão dos idosos sobre cada um desses temas, a partir das batalhas deles pela vida. O último capítulo é dedicado aos relatos dos idosos brasileiros.
São realidades completamente diferentes. Pessoas que viram a Segunda Guerra Mundial acontecer em seu próprio quintal, até pequenas vilas que veem o mundo em sua mansidão, mas também travaram suas próprias guerras. O interessante é ver que realmente existe uma mensagem de fé em cada passagem dessas, dessas que precisamos em algum dia que nos sentimos tristes ou sem esperança.
Foram entrevistados idosos de várias classes sociais, também contribuindo para essa diversidade de visões, a maioria desconhecidos do grande público, apenas pessoas que vivem sob suas próprias convicções. Mas tem alguns idosos ilustres, como o patriarca da família Loyola (por trás da Editora Loyola) e o produtor e roterista Martin Scorsese.
Confesso, o relato de Scorsese me atingiu em cheio. Ele fala dos primeiros fracassos de sua carreira, quando um famoso diretor de cinema falou que ele nunca faria um filme de sucesso. Ele fala que ficou triste, mas que nada o faria desistir do sonho. E cá está ele, com alguns Oscar’s na estante, excelentes críticas e legião de fãs.
Esperança para começo de carreira, não é?
Uma senhora da Eslovênia também deve ser destacada, trata-se de Berta Golob. Ela trabalhava em um instituto com filhos de detentas, crianças que poderiam ser facilmente marginalizadas e que tinha gênio forte, aprenderam da pior forma como se defenderem e defenderem o que acreditavam das mães. Ela conseguiu inspirar alguns deles a serem melhor na vida só com um pouco de atenção.
Ao final de cada capítulo tem um relato de um jovem, ele ou ela falava o que havia aprendido com um idoso dentro daquele tema. Dentre estes tem uma moça que diz ter aprendido a ter paciência para encontrar o amor verdadeiro com a avó dela. Ela disse que os avós eram desses casais que inspiram, se conheceram jovens e desde então não se largaram, conheceram só um amor na vida, um ao outro. Ela via isso e achava que nunca encontraria seu amor, porque já estava bem mais velho do que a avó era quando encontrou o futuro marido. A avó respondeu assim: cada um tem seu tempo, não tenha pressa!
Que lição! “Cada um tem seu tempo”.
Ao mesmo tempo é óbvio, porque não somos todos iguais, logo cada um tem um timing diferente para cada coisa na vida, mas nossa vida, que mais parece uma competição diária, esquecemos disso. Sim, você vai encontrar um amor, você vai se formar, você vai construir uma carreira, você vai ter sua própria casa, você vai ser feliz, mas a felicidade não depende só disso.
Dá para perceber que existe muito amor nesse livro, e isso vai além do Papa Francisco, que já é o amor em pessoa (parece tão próximo de todo mundo, tão “iti malia”), mas pelos os relatos em si. Alguns idosos pediram para mudar o nome, não queriam ser identificados, mas a maioria tinha o nome, sobrenome, idade e profissão. Detalhe, por vezes a profissão vinha acompanhado por “avó” ou “avô”, ou seja, eles sentiam que isso faz parte da missão deles.
Outros eram avós ou pais do entrevistador. Na descrição, além daqueles dados, tinha o nome do entrevistador, porta-voz da Loyola naquele país, mas vinha acompanhado com “seu pai”, “seu avô”, etc. Fazia o relato ser mais emocionante, porque o entrevistador sabia exatamente a batalha que aquela pessoa passou, mas, talvez, precisava ouvir isso dela.
É um livro que te deixa leve, livre até!
Ah, só porque esse Papa é pop, tem site oficial com alguns relatos gravados e outros detalhes a mais, confira em “Sabedoria das Idades”.
Beijinhos e até mais.