O mágico bando de cisnes – “O Mistério do Relógio na Parede”

Magia e família parecem fazer um par perfeito para bons filmes e livros, esse é o caso de “O Mistério do Relógio na Parede”.

O longa de 2018, que está disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video, é baseado em um dos livros do escritor John Bellairs. O roteiro foi adaptado por Eric Kripke e a direção é de Eli Roth.

Depois de perder os pais, Lewis Barnavelt vai morar com o tio, Jonathan. Embora já tenha ouvido muito falar desse tio, Lewis não o conhecia, isso porque Jonathan há tempos havia saído da casa dos pais e perdido o contato com a família, incluindo com a irmã mais nova (mãe de Lewis).

A razão para a briga família é a mesma para o mistério da velha casa onde Jonathan vive, novo lar de Lewis: Magia.

Jonathan é um feiticeiro, um bruxo, um mágico de salão. Essa casa pertencia a um outro bruxo, Isaac Izard, que morreu e deixou um grande mistério por lá. Mistério esse que Jonathan tenta desvendar com ajuda da vizinha e amiga Florence Zimmerman, agora a tentativa deles é que isso não atinja Lewis.

Lewis, que tem apenas 10 anos e enfrenta a perda dos pais, ver tudo aquilo como uma aventura ao mesmo tempo que tenta se enturmar na escola nova, onde todos inventam histórias para as esquisitices da casa de Jonathan. O garoto também enfrenta o bulluying por ser ele mesmo, alguém que ler dicionário por diversão e se veste igual ao herói da TV.

Apesar da esquisitice e da falta de jeito com uma criança, Jonathan ensina a Lewis o que é ser um bruxo, lembrando que livros, leituras pesadas, conhecimento técnico é só parte do aprendizado, ele tem que dar um pouco de si para realmente se tornar aquilo que sonha ser.

Tudo ia bem aparentemente, mas Jonathan e Florence ainda não havia descoberto o que Isaac tramava ao morrer, sabiam que tinha a ver com o relógio dentro da parede, mas não conseguiam o encontrar para entender todo o esquema.

Lewis não sabia da história toda, mas queria se mostrar como feiticeiro para o amigo novo, ele faz isso quebrando a única regra que o tio tinha, pegar um livro há muito trancado em um armário da biblioteca. O livro dá acesso a um dos feitiços mais perversos do mundo, trazer alguém de volta a vida. O que eles não sabiam é que isso era uma peça no esquema de Isaac.

Isaac era muito próximo de Jonathan, ele o havia ensinado tudo que sabia sobre mágica, mas as coisas mudaram quando ele foi alistado para a Segunda Guerra Mundial. Ele voltou da guerra outra pessoa, como ocorreu com muitos soldados, mas no caso dele havia algo relacionado com magia, porque ele havia se perdido na Floresta Negra, local conhecido por ter inspirado muitos contos de fadas (o lado macabro de cada um).

Por lá ele aprendeu muitos feitiços de magia negra e começou a planejar esse esquema, um relógio que faria o mundo voltar no tempo, para o começo dos tempos, sendo habitada apenas por Isaac e sua esposa. Dessa forma, as guerras e seus horrores não existiriam.

Embora Lewis tenha dado início ao plano, mesmo sem a intenção, Isaac versão zumbi ainda teria que enfrentar essa nova família estranha formada pelo garoto, seu tio e Florence.

Mais uma história de magia? Mais uma história de família quase sem laços sanguíneos? Mais uma história com um vilão com um plano louco? Mais uma história de pessoas traumatizadas pela Segunda Guerra Mundial?

As três primeiras perguntas podem ser respondidas tranquilamente só de ver a sinopse no catálogo do streaming, a dinâmica realmente lembra outras obras, incluindo a do moço com uma cicatriz em forma de raio na testa. Mas a última pergunta só pode ser respondida depois de assistir o filme.

E, particularmente, é o que faz a história desse filme ficar mais interessante, porque há um motivo real por trás da loucura do vilão. E porque isso está relacionado a um fato histórico e eu sou uma nerd de história, sempre me interessa histórias particulares das grandes guerras mundiais.

A fotografia e os detalhes do cenário, especialmente da casa, fazem a história criar vida realmente, desde os vitrais que mudam de acordo com o “humor” da casa até a poltrona que se comporta como um cachorro ou o arbusto em forma de leão alado, que tem vida própria. São cenas que encantam visualmente.

Adicionem a isso a genial atuação de alguém que não tem medo de ser exagerado, porque ele deve ter inventado o termo e se apossado dele, então ele não tem limites e isso funciona para ele. Estou falando, obviamente, de Jack Black, que interpreta o tio Jonathan.

O estilo de humor de Jack Black nem sempre me agrada, mas gosto de filmes dele como “As Viagens de Gulliver” e “O Amor Não Tira Férias”, além de ser a insubstituível vos de Po, de “Kung Fu Panda”. Esse filme, “O Mistério do Relógio na Parede”, entra nessa lista, mais uma vez ele encontra um equilíbrio entre a comédia e o drama, mesmo que seja meio piegas às vezes.

Ao lado dele, interpretando Florence Zimmerman, está Cate Blanchett, a elegância em pessoa. Essa personagem foi quem levou a questão da guerra de forma mais emocional, ela era uma grande bruxa da sociedade francesa antes de tudo acontecer, ela perdeu a família (marido e filha) durante as batalhas em território francês, isso a fez incapaz de praticar magia (seu coração estava ferido) e ela teve que fugir para os EUA.

As cenas deles dois têm um humor que muito me agrada, uma amizade com humor ácido, daquelas que só a intimidade real, sem segundas intenções, pode trazer. Sabe quando a gente insulta o amigo e ele não leva a mal? Então, esse nível de intimidade, quando sabemos que as palavras ruins são da boca pra fora, de zoação mesmo.

Poderia dizer que é estranho ver Cate Blanchett em filmes desse estilo, afinal ela é famosa por títulos mais dramáticos como “Blue Jasmine”, “Carol” e “Elizabeth” (lembro até hoje de assistir esse filme na aula de história), mas ela também sabe usar essa elegância para filmes mais comerciais, como na saga de “O Senhor dos Anéis”, sendo  irmã de Thor e Loki em “Thor: Ragnarok” e a madrasta má de “Cinderella” (a versão de 2015, com Lily James).

Pensando bem, é até comum ver Jack Black sendo Jack Black ao lado de elegantes mulheres com excelente senso de humor, em “O Amor Não Tira Férias” ele faz par romântico com Kate Winset.

O aprendiz de feiticeiro, Lewis, é vivido por Owen Vaccaro, um jovem talento com um sorriso cativante. Em seu currículo tem títulos como “Pai Em Dose Dupla” 1 e 2 e “O Maior Amor do Mundo”.

Ah, Jonathan disse a Lewis certo dia que sempre se sentia o “cisne negro” da família, adaptando o dito popular “ovelha negra”, por pensar e agir diferente de todos de todos. Lewis responde que também se sente diferente, mas por isso o chamam de esquisito na escola.

Tempos depois Lewis convida Florence para fazer parte desse bando de cisnes negros, ela aceita, mas diz que ele prefere ser um cisne roxo (todo o figurino dela é roxo).

E quem disse que ser a ovelha negra é realmente uma coisa ruim? É só uma mudança de perspectiva.

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